Por Fabricio de Castro
SÃO PAULO (Reuters) - As taxas dos contratos futuros de juros com prazos mais longos fecharam a segunda-feira em leve alta, na esteira do avanço do rendimento dos Treasuries de dez anos no exterior, após declarações de autoridades do Federal Reserve esfriarem um pouco a expectativa por cortes de juros no curto prazo nos Estados Unidos.
Na semana passada, após declarações do chair do Fed, Jerome Powell, e da publicação de projeções da instituição, o mercado elevou as apostas de que o processo de corte de juros nos EUA começará em março. Isso pesou sobre os rendimentos dos Treasuries e, no Brasil, fez as taxas dos DIs (Depósitos Interfinanceiros) completarem cinco sessões consecutivas de queda.
Na última sexta-feira, porém, o presidente do Fed de Nova York, John Williams, atuou para conter as apostas de que o banco central norte-americano iniciará o processo de corte de juros já em março, ao afirmar que a instituição não trata do assunto no momento.
Nesta segunda-feira, duas outras autoridades atuaram no mesmo sentido. Em entrevista ao Financial Times, a presidente do Fed de Cleveland, Loretta Mester, disse que os mercados financeiros se adiantaram "um pouco" ao banco central sobre quando haverá cortes de juros.
Já o presidente do Fed de Chicago, Austan Goolsbee, afirmou em entrevista à CNBC que o rápido aumento das apostas do mercado financeiro de que o banco central reduzirá a taxa de juros em breve está em desacordo com o funcionamento do Comitê de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês), responsável decisão sobre juros.
"Fiquei um pouco confuso... será que o mercado estava apenas imputando (algo como) 'Aqui está o que queremos que eles digam'? Achei que parecia haver uma certa confusão sobre como o Fomc funciona. Não debatemos políticas específicas especulativamente sobre o futuro", disse.
As declarações dos membros do Fed fizeram os rendimentos do título de dez anos -- referência global para decisões de investimento -- subirem nesta segunda-feira, ainda que de forma contida.
“Na linha do que o Williams havia falado na sexta-feira, os dirigentes do Fed disseram que ainda é prematuro pensar em corte de juros nos EUA, o que tira o ímpeto do mercado”, pontuou o estrategista-chefe do Banco Mizuho (NYSE:MFG), Luciano Rostagno, ao avaliar o viés de alta para as taxas dos DIs nesta segunda-feira.
Como a aprovação definitiva da reforma tributária no Congresso, ocorrida na noite de sexta-feira, já estava em grande parte precificada na curva a termo, os eventuais efeitos nesta segunda-feira foram menores.
Segundo Rostagno, o fato de a agenda do dia estar esvaziada e o espaço para realização de lucros, após os recuos mais recentes das taxas, também favoreciam a elevação da curva no Brasil -- algo que foi percebido em especial entre os vencimentos mais longos.
Para o restante da semana, investidores seguirão atentos aos desdobramentos da agenda legislativa em Brasília e à bateria de dados econômicos a serem divulgados nos EUA -- entre eles, dados do setor de construção na terça-feira, números de confiança do consumidor na quarta-feira e a revisão final do Produto Interno Bruto do terceiro trimestre.
No Brasil, o foco será a ata do último encontro do Comitê de Política Monetária (Copom) na terça-feira e o Relatório de Inflação na quinta-feira, ambos do Banco Central.
No fim da tarde desta segunda-feira a taxa do DI para janeiro de 2025 estava em 10,06%, ante 10,08% do ajuste anterior, enquanto a taxa do DI para janeiro de 2026 estava em 9,66%, ante 9,669% do ajuste anterior. A taxa para janeiro de 2027 estava em 9,775%, ante 9,752%.
Entre os contratos mais longos, a taxa para janeiro de 2028 estava em 10,035%, ante 10,01%. O contrato para janeiro de 2031 marcava 10,48%, ante 10,453%.
Perto do fechamento a curva a termo precificava 97% de chances de o corte da taxa básica Selic em janeiro ser de 0,50 ponto percentual, como vem sinalizando o BC. As chances de corte de 0,75 ponto percentual estavam em 3%. Na sexta-feira, com a pressão baixista mais recente na curva, estes percentuais chegaram a 86% e 14%, respectivamente. Atualmente, a Selic está em 11,75% ao ano.
Às 16:38 (de Brasília), o rendimento do Treasury de dez anos -- referência global para decisões de investimento -- subia 3,00 pontos-base, a 3,9576%.