Por Letícia Fucuchima
SÃO PAULO (Reuters) - A antecipação da compra da fatia restante da Comerc consolida a Vibra como uma plataforma "multienergia" e elimina um risco que existia para os próximos anos e que poderia até mesmo impedir o crescimento dos negócios, segundo executivos da companhia.
A Vibra anunciou na noite de quarta-feira que fechou um acordo para antecipar o direito de compra da fatia remanescente de 50% da elétrica Comerc, em conjunto com a Perfin Infra e outros acionistas da Comerc, no valor de 3,52 bilhões de reais.
Em teleconferências para comentar o negócio, o CEO da Vibra, Ernesto Pousada, afirmou que a decisão foi tomada nesse momento para afastar o risco de que os demais acionistas da Comerc exercessem a "put option", a qualquer momento, entre 2026 e 2028, em condições eventualmente menos vantajosas para a Vibra.
"Era algo que ficaria absolutamente fora do nosso controle, e nós temos ambições de continuar o crescimento... Ainda vemos grande possibilidade de crescimento no negócio de combustíveis e lubrificantes, e esse put ficar aberto para ser exercido entre 2026 e 2028 pode limitar nossa possibilidade de novos investimentos e crescimento", disse Pousada.
Por volta das 12h50, as ações da Vibra caíam quase 4%, configurando a quarta maior queda do Ibovespa.
O CFO da companhia, Augusto Ribeiro, ressaltou ainda que com o negócio a Vibra antecipa sinergias estimadas em 1,4 bilhão de reais, incluindo redução de custos financeiros, otimização da estrutura fiscal e de custos operacionais, que serão implementadas em até dois anos.
Com um Ebitda que deve chegar a 1 bilhão de reais neste ano, a Comerc tem cerca de 80% de seu resultado vindo da geração de energia renovável, tanto centralizada (grandes parques), quanto distribuída (pequenas usinas solares). Seu parque gerador soma hoje 2,1 gigawatts (GW) já operacionais, restando poucos empreendimentos a serem concluídos.
Segundo Pousada, a Comerc trará retorno aos acionistas da Vibra, que focará nos próximos 12 a 18 meses em extrair as sinergias estimadas e crescer de uma forma "asset light" (sem grandes desembolsos), principalmente na comercialização de energia no mercado livre, visando o novo movimento de abertura a consumidores de menor porte.
Os executivos também frisaram que a transação não terá impacto sobre as perspectivas de lucro e de distribuição de dividendos da Vibra.
"Mantemos a nossa política de 40% de distribuição do lucro líquido, e a nossa previsão, mesmo com Comerc, é o nosso lucro líquido seguir crescendo", afirmou o CEO.
Pousada afirmou que a Vibra "não tem paixão" por ativos específicos e que poderá fazer desinvestimentos no futuro se fizer sentido do ponto de vista de alocação de capital.
"Não temos paixão (por ativos), se a melhor alocação de capital para a Vibra for trazer um parceiro estratégico ou financeiro (para a Comerc), faremos isso. Ou vender alguns ativos da Comerc, se fizer sentido", disse.