Por Andre Romani
SÃO PAULO (Reuters) - A varejista Via, dona da rede Casas Bahia, não passará por uma mudança drástica de estratégia sob o novo comando, que deve focar na disciplina da alocação de capital da empresa, disse nesta sexta-feira o presidente da companhia, Renato Horta Franklin, a analistas.
Franklin, que assumiu o cargo nesta semana, chegou à Via vindo da empresa de aluguel de veículos Movida (BVMF:MOVI3), em substituição a Roberto Fulcherberguer, que estava no comando da varejista desde meados de 2019.
"Nós não vamos ver aqui nenhum cavalo de pau, nenhuma mudança drástica. A minha contribuição é muito para trazer ainda mais disciplina quanto à alocação de capital", disse ele.
"Medir qual o retorno sobre o capital investido em cada uma das avenidas (de crescimento), o quanto de capital pretendemos alocar em cada trimestre e ano e otimizar essa alocação para maximizar retorno, essa é minha contribuição para a agenda", acrescentou.
A Via divulgou na véspera um prejuízo líquido de 297 milhões de reais no primeiro trimestre deste ano, após lucro de 18 milhões de reais no mesmo período no ano passado, com impacto de piora no resultado financeiro. A receita bruta cresceu 0,9% na mesma base, com alta nas vendas em lojas físicas, mas queda no segmento online.
Às 15:42 (de Brasília), as ações da Via subiam 3,72%, a 1,95 real, tendo revertido queda de mais cedo junto com melhora do Ibovespa, que avançava 2,62%.
Abel Ornelas, chefe de operações da Via, afirmou que o cenário de vendas da companhia no segmento online, sem contar marketplace, não mudou muito no segundo trimestre frente aos primeiros três meses do ano, tendo "pouca melhora".
No entanto, ele disse que a empresa aposta em desempenho no Dia das Mães. "Nos preparamos bem, recebemos mais mercadorias com alongamento de prazo, e o mês de maio, posso te falar que começou bem", afirmou, sem detalhar. O executivo ainda mencionou um ganho de participação de mercado em abril, também sem trazer números.
Analistas questionaram os executivos da Via sobre uma diminuição na linha de "fornecedor convênio", ou o chamado risco sacado, em 1,1 bilhão de reais no primeiro trimestre ante igual período do ano anterior.
As operações de risco sacado, quando uma empresa contrata um banco para realizar a antecipação de recebíveis a fornecedor, estiveram no centro do rombo contábil de cerca de 20 bilhões de reais da rival Americanas (BVMF:AMER3), revelado no início do ano. As operações são legais e comumente usadas por empresas de diversos setores, como o varejo.
Orivaldo Padilha, diretor financeiro da Via, disse que já estava nos planos da empresa a redução neste ano de cerca de 1,5 bilhão de reais no risco sacado. Segundo ele, a diminuição de 1,1 bilhão de reais nestes primeiros meses ocorreu devido a uma "variação sazonal normal", bem como menor oferta pelos bancos no mercado brasileiro.
"Muitos bancos deixaram de trabalhar com essa linha, e isso, de certa forma, impactou aqui", disse Padilha, acrescentando que, apesar da redução do passivo, o risco sacado segue dentro dos planos da empresa para os próximos trimestres.