SÃO PAULO (Reuters) - A discussão no Congresso em torno da criação de um piso salarial dos farmacêuticos vai elevar os custos do setor de drogarias no país, podendo disparar um movimento de venda de lojas com mais dificuldades em reajustar preços para compensar o gasto adicional, disseram nesta segunda-feira executivos da maior rede do país, RD (BVMF:RADL3).
"No nosso caso, isso (a lei de piso) vai onerar perto de 20 mil reais por loja, o que significa 2% de aumento de preços", disse o vice-presidente de planejamento corporativo, Eugênio De Zagottis, em teleconferência com analistas sobre os resultados do segundo trimestre divulgados na sexta-feira.
"Para quem vende a metade do que a gente vende, vai ter de aumentar o preço em 4% e para quem vende 25% do que vendemos vai ter que aumentar o preço em 8%", disse o executivo, citando que o faturamento médio por loja da RD que trabalha 7 dias por semana das 8h às 23h é de cerca de 1 milhão de reais por mês. Uma loja que opera neste regime precisa de pelo menos três farmacêuticos, afirmou.
"No final, isso, se passar, vira um motor de consolidação, porque todo mundo que tem faturamento pequeno vai ter uma dificuldade enorme de repassar para o preço", disse, citando que a RD tem cerca de 10 mil farmacêuticos em seus quadros.
As ações da RD tinham alta de 5,6% às 12h47, enquanto o Ibovespa mostrava recuo de 0,3%. Analistas do BTG Pactual (BVMF:BPAC11) consideraram que a empresa no segundo trimestre "mostrou um forte conjunto de resultados".
SEGUNDO SEMESTRE
A RD teve no segundo trimestre alta de 22,4% da receita bruta sobre um ano antes. A margem bruta saltou para 30,3% ante 27,7% no primeiro trimestre e 28,8% um ano antes, impulsionada pelo reajuste de 10,89% nos preços autorizado em abril pela Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos (CMED).
Questionado sobre a sustentabilidade do desempenho no terceiro trimestre, Zagottis afirmou que a margem bruta "vai voltar ao normal" e que a tendência de alta nas vendas da RD no período "é positiva", mas "pode não alcançar os 22%" de expansão do segundo trimestre, diante da sazonalidade. Ele acrescentou que as vendas de julho não foram distantes das registradas no segundo trimestre, mas não deu detalhes.
Além disso, o executivo avaliou que as despesas gerais e administrativas devem ter no segundo semestre o mesmo patamar do da primeira metade do ano, apesar de efeitos que incluem dissídio de "duplo dígito" dos funcionários.
O que tem ajudado a RD a minimizar os custos é a formação de estoques de medicamentos com preços inferiores, medida tomada como precaução diante de problemas no abastecimento do varejo farmacêutico pelos fabricantes de remédios nos últimos meses.
"Enquanto tiver essa incerteza, a gente vai continuar a manter os estoques elevados", disse Zagottis. No final de junho, os inventários da RD correspondiam a cerca de 104 dias, um número considerado pelo executivo como alto.
A empresa fechou junho com relação de dívida líquida sobre Ebitda de 1 vez, estável sobre o primeiro trimestre e acima do nível de 0,8 vez do final de junho de 2021. Segundo o executivo, a alavancagem "deverá cair até o final do ano".
(Por Alberto Alerigi Jr.)