Por Luciano Costa
SÃO PAULO (Reuters) - Um leilão de concessões para a construção e futura operação de novos projetos de transmissão de energia no Brasil, na próxima quinta-feira, deve manter a forte competição vista em licitações do governo nos últimos anos, mesmo em meio aos impactos da pandemia de coronavírus sobre a economia.
Serão oferecidos a investidores no evento um total de 11 lotes de empreendimentos que exigirão cerca de 7,3 bilhões de reais ao longo dos próximos cinco anos, e a expectativa entre especialistas é de que todos receberão ofertas, com participação significativa de grandes empresas do setor.
A presença de elétricas com tradição em transmissão de energia deve ser favorecida por uma nova regra aprovada pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) para o certame, que proíbe a venda das concessões antes do início da operação comercial dos projetos, disseram os analistas.
Essas mudanças, no entanto, não evitarão a entrada de grupos menores no certame, como empresas de engenharia e construção e agentes financeiros, que seguem de olho nos ativos a serem licitados, acrescentaram fontes do mercado.
Companhias como a estatal Eletrobras (SA:ELET3), além de Engie (SA:EGIE3), Neoenergia (SA:NEOE3), EDP Brasil (SA:ENBR3), Equatorial (SA:EQTL3), Taesa (SA:TAEE11), Cteep (SA:TRPL4), CPFL (SA:CPFE3) e Alupar (SA:ALUP11) são potenciais nomes na concorrência, assim como empresas de construção, que já vinham aparecendo em leilões anteriores, disseram analistas do Credit Suisse (SIX:CSGN) em relatório no domingo.
O diretor da Aneel responsável pela proposição das regras para o leilão, Efrain Cruz, disse que as limitações à transferência dos empreendimentos para terceiros visam evitar a entrada de "aventureiros" na disputa e assegurar a entrega no prazo das instalações.
Mas a pandemia de coronavírus, que levou o governo a suspender diversos leilões de novos projetos de energia previstos para 2020, mantendo apenas a licitação de obras de transmissão em dezembro, criou uma "demanda reprimida" muito forte de investidores pelos projetos no setor, disse à Reuters o sócio da consultoria Thoreos Energia, Rodrigo de Barros.
"Além disso, não é um leilão muito grande, com muitos lotes. Então, quando você junta as duas coisas, tem uma procura razoável. Não necessariamente mais alta que nos últimos... mas a gente continua vendo o setor aquecido e essa é mais uma oportunidade para os players que querem investir", afirmou.
A continuidade de um cenário de taxas de juros em mínimas recorde no Brasil e no mundo também ajuda a manter elevado o apetite por negócios em infraestrutura, afirmou à Reuters o líder em energia da Deloitte para o Brasil, Guilherme Lockmann.
"Ainda acho que o setor está extremamente atrativo em termos de remuneração", afirmou.
Ele apontou, no entanto, que o nível de deságio esperado para o leilão, frente à receita máxima oferecida por cada projeto, não deve voltar a atingir um recorde visto na última concorrência pública do setor, em dezembro de 2019.
Na licitação do ano passado, o desconto médio oferecido pelas empresas para levar a disputa foi de 60,3%, patamar jamais alcançado antes na indústria de transmissão.
O diretor de Novos Negócios, Estratégia e Inovação da Engie Brasil Energia, Guilherme Ferrari, disse em vídeo-conferência da empresa com acionistas na semana passada que espera "competição muito grande" no certame, mas com menor espaço para deságios.
Ele explicou que as receitas para os projetos foram definidas pela Aneel antes da pandemia, o que deve fazer com que as estimativas da agência fiquem mais próximas dos custos efetivos de construção que em anos anteriores, quando muitas empresas disseram ter conseguido cortar orçamentos em até 20%.
"Não tinha os efeitos da Covid ainda, o câmbio estava comportado. Então, pela primeira vez nos últimos anos, agora é esperado que o capex (orçamento de investimento) dos empreendimentos seja próximo ao capex (estimado) da Aneel, em algumas situações até acima, por conta dessa situação de volatilidade de commodities e do dólar", afirmou.
Ferrari também disse esperar uma competição mais dura pelos dois primeiros lotes de projetos do certame, que envolverão maior extensão em novas linhas a serem construídas e por isso devem atrair apetite de empresas tradicionais do setor.
A última concorrência por projetos de transmissão teve como principais vencedores as elétricas Cteep e Neoenergia, controladas pela colombiana ISA e pelo grupo espanhol Iberdrola (MC:IBE), respectivamente. Empresas de engenharia, construção e de investimentos também apareceram entre os vencedores.
(Por Luciano Costa; edição de Roberto Samora)