Os bancos centrais voltaram ao centro das atenções do mercado financeiro global que entrou em uma maré otimista desde a semana seguinte à aprovação do Brexit, em junho. Desde então, a percepção de que novos estímulos e juros mais baixos animariam as economias trouxe mais apetite para riscos e embalou ações, commodities e derrubou o dólar e os juros dos títulos soberanos.
O cenário deixou de ser tão otimista para juros nos EUA desde a fala de Janet Yellen no encontro anual dos bancos centrais há duas semanas. Desde então, os diretores do Fed vêm alinhando seus discursos na direção de que será preciso elevar os juros do país em um encontro próximo. Nesta sexta-feira, o presidente do Fed de Boston, Eric Rosengren, tido como uma voz mais dovish defendeu que as taxas deverão subir em breve.
Segundo o Fed Watch Tool do Investing.com, as maiores apostas estão em um aumento somente na reunião de dezembro. Apesar de os analistas estarem cada vez mais acreditando em antecipação da elevação de juros, o mercado ainda aposta em uma manutenção na taxa nas reuniões de setembro e novembro.
O Banco Central Europeu e o Banco do Japão seguem decepcionando os analistas que acreditam em maiores estímulos à economia. O BCE manteve as políticas atuais de quantitative easing e de juros baixos, enquanto aguarda mais dados e estuda alternativas, segundo declarou o presidente do banco, Mario Draghi. O comandante do BoJ, Haruhiko Kuroda, se reunirá com o primeiro-ministro do país, Shinzo Abe, para traçar nova estratégia de incentivos.
A expectativa pela alta nos juros dos EUA somada à frustração com o BCE e o BoJ fez com que o mercado desabasse nesta sexta-feira. A previsão de um dólar mais fortalecido frente às demais moedas reduz o apetite pelos investidores por mais risco, esvaziando o mercado financeiros, especialmente os emergentes.
No Brasil, o Banco Central comandado por Ilan Goldfajn retirou da ata da última reunião o trecho que dizia não haver a possibilidade de redução de juros, o que animou os analistas, que reforçaram as apostas em corte da Selic. O texto, contudo, ainda indica a queda da inflação dos alimentos e um cenário mais claro em relação ao ajuste fiscal como condicionantes à queda da taxa básica.
Bovespa. Após alcançar novas máximas de mais de dois anos, fechando acima dos 60 mil pontos, o Ibovespa enfrentou uma forte correção no fim da semana, com queda de 3%, retornando aos 58.016 pontos. Na semana, o recuo foi da ordem de 2%.
Dólar. A apostas em um dólar mais forte fez a moeda subir ao maior fechamento semanal desde o início de junho, acima dos R$ 3,27. Durante a semana, contudo o dólar chegou a ser negociado a R$ 3,16 em meio à volatilidade do mercado internacional.
Petrobras (SA:PETR4). Em uma semana movimentada no noticiário e com petróleo volátil, a petroleira voltou a buscar novas máximas, superando a barreira dos R$ 14 nas ações preferenciais. O forte movimento de correção de sexta-feira, contudo, reduziu os ganhos a 0,5% na semana. O mercado aprovou a negociação dos dutos do Sudeste para a Brookfield, em uma operação avaliada em mais de US$ 5 bilhões. A Refinaria de Duque de Caxias foi paralisada após acidente no sistema de enxofre. A planta voltou a aparecer no noticiário com a descoberta de furto de combustível em seus dutos. A BR será comandada por Ivan Pereira, após decisão do conselho.
Vale (SA:VALE5). As ações da mineradora passaram por forte correção nesta semana com a perspectiva de que as cotações do minério de ferro não se sustentam no patamar atual. A ação perdeu quase 6% na comparação com o fechamento de sexta-feira passada.
Siderurgia. A CSN (SA:CSNA3) voltou a ser o destaque negativo do Ibovespa, acumulando perdas de mais de 10% na semana em meio a dúvidas em relação a sua capacidade de pagar as dívidas sem medidas de contenção de gastos ou renegociação. A empresa foi a única do setor a registrar perdas. Metalúrgica Gerdau (SA:GOAU4) acumulou ganhos de quase 3%, enquanto a Gerdau (SA:GGBR4) subiu 0,4%, ambas com fortes perdas no último dia da semana. A Usiminas (SA:USIM5) subiu 2% em meio à aprovação da renegociação de dívidas com bancos públicos.
Oi (SA:OIBR4). A recuperação judicial da telefônica segue se arrastando na disputa entre seus sócios, credores e a Justiça. A companhia apresentou plano com carência de sete anos para pagar aos grandes credores e deságio de até 50%. A proposta não foi bem recebida pelos detentores da dívida em meio à negociação de seus principais minoritários para achar uma alternativa para a empresa. Investidores apostam em uma contraproposta para assumir o controle e pagar os débitos.
JBS (SA:JBSS3). A empresa afundou mais de 10% após ter seu presidente e controlador envolvido na operação Greenfield da Polícia Federal, deflagrada na segunda-feira. A ação termina a semana com perdas de 6% e sem comando, após a Justiça determinar o afastamento dos irmãos Joesley e Wesley Batista.
Brasil Phama. A farmacêutica disparou 20% na quinta-feira após ter vazado a notícia de que o grupo estaria mais perto de vender duas redes de farmácia, em operação avaliada em R$ 1,2 bilhão.
Caixa. O banco estatal deverá fazer o IPO de sua unidade de seguros em 2017, buscando repetir o sucesso de operação semelhante do BB (SA:BBAS3) Seguridades. O banco também deverá ter uma área para gerenciar a operação de cassinos no país.
Commodities
Petróleo. A semana foi marcada pela volatilidade da commodity no mercado internacional em meio às especulações do acordo da Opep para congelar a produção. A Rússia e a Arábia Saudita fecharam acordo para atuarem juntas na estabilização do mercado pode encaminhar o acordo do cartel. O Irã indicou que poderá participar da operação, após negar interesse na última tentativa do tipo, em abril. O petróleo disparou na quinta-feira em meio à forte queda nos estoques norte-americanos após a passagem do furacão Hermine, que interrompeu parcialmente a importação pelo Golfo do México. Os fundamentos e o dólar, contudo, voltam a pressionar a commodity, apesar da alta semanal.
Minério. A commodity seguiu para sua terceira semana consecutiva de perdas no mercado chinês, voltando para as US$ 57/t, com as expectativas de que os estímulos do país não sejam suficientes para sustentar a cotação no médio prazo.
Aço. A sobreoferta mundial de aço foi tratada no G20, que criará um conselho internacional para tentar buscar soluções para o tema.
Soja. Pesquisa da Reuters aponta para safra de 103,1 milhões de toneladas de soja no Brasil.
Milho. O IBGE reduziu a previsão da safra 2015/16 para 67 milhões de toneladas.
Café. Conab cortou a previsão da safra 2015/16 para 47,8 milhões de sacas.
Indicadores
Inflação. O IPCA ficou em 0,44%, elevando a inflação de 12 meses para 8,97%. O IGP-DI subiu 0,43%.
Automóveis. A produção de veículos caiu 6,4% em agosto sobre julho.
PIB. A Zona do Euro cresceu 0,3%. O Japão reviu para 0,7%, dados anualizados. Turquia cresceu 3,1%, Hungria, 2,6%, o PIB da Suíça aumentou 0,6%.