Por Aluisio Alves
SÃO PAULO (Reuters) - A operadora logística Rumo (SA:RAIL3) arrematou nesta quinta-feira a concessão de um trecho da ferrovia Norte-Sul, após ter oferecido pagar 2,719 bilhões de reais, um ágio de 100,9 por cento em relação ao valor fixado para a outorga mínima.
A companhia, que tem como principal sócia o grupo de energia Cosan (SA:CSAN3), bateu sua única concorrente no certame, a VLI, operadora logística da Vale (SA:VALE3), da Mitsui e da Brookfield, que ofertou pagar 2,065 bilhões de reais.
A Rumo terá direito de operar o trecho da ferrovia, importante no transporte de commodities agrícolas e combustíveis, por 30 anos.
Com o leilão, o investimento previsto no empreendimento pelo novo concessionário é de 2,7 bilhões de reais.
A concessão arrematada tem uma extensão total de 1.537 quilômetros, ligando Porto Nacional (TO) a Estrela D’Oeste (SP), de onde parte outro lote já administrado pela própria Rumo, interligando o interior paulista ao Porto de Santos (SP).
A partir de Porto Nacional, a Rumo poderá também alcançar o Porto de São Luís (MA), se obtiver acordo com a VLI, que opera o trecho da ferrovia que liga o porto até Porto Nacional.
Segundo o diretor-presidente da Rumo, Julio Fontana, os trechos combinados permitirão ampliar a matriz ferroviária para dar vazão a um maior volume da produção agrícola do Centro-Oeste do país, hoje feita sobretudo por estradas.
"Mas poderemos transportar também combustíveis e bauxita", disse Fontana a jornalistas após o resultado do leilão.
Segundo ele, as oportunidades de sinergias operacionais para a Rumo compensam os riscos regulatórios potenciais envolvendo a concessão, o que justificou o elevado ágio oferecido, que deve ter 5 por cento do valor pago à vista e o restante em 120 prestações.
"A nossa alavancagem financeira vai se manter nos níveis atuais, isso não nos preocupa, e vários bancos já se ofereceram para nos financiar o pagamento da outorga", disse, referindo-se à relação dívida/Ebitda de 2 vezes.
A ação da Rumo caiu forte logo após o resultado do leilão, mas logo em seguida se recuperou, até fechar com valorização de 3,8 por cento.
Em relatório a clientes, a equipe do Itaú BBA calculou que a vitória no leilão adiciona cerca de 1 por cento ao valor de mercado da Rumo, mas esse número pode subir se a empresa obtiver ganhos de sinergia superiores aos constantes do modelo do edital.
Para o ministro da Infraestrutura, Tarcísio Freitas, o resultado mostrou que riscos regulatórios apontados por analistas do setor, envolvendo questões como o direito de passagem, foram superestimados.
"Foi um resultado excepcional, um dia histórico que marca a retomada do investimento no setor ferroviário brasileiro", disse Freitas.
POLÍTICA E NEGÓCIOS
O resultado foi uma demonstração de força do governo de Jair Bolsonaro junto a investidores e pode representar um alívio momentâneo em relação ao cenário político turbulento dos últimos dias, em meio a um embate com o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM/RJ), que foi visto como atrapalhando articulação para aprovar a reforma da previdência, principal pauta econômica do governo.
O leilão desta quinta foi o terceiro em 15 dias, todos com forte ágio. Há duas semanas, o leilão de concessão de 12 aeroportos terminou com um ágio de mil por cento e uma outorga paga de 2,377 bilhões de reais.
Na semana passada o governo levantou 219,5 milhões de reais com o leilão de quatro áreas portuárias, que tinham cada uma com valor mínimo de um real.
"Isso mostra que apesar de eventuais turbulências políticas, elas não estão contaminando o processo de concessões, que está a todo vapor", disse Luiz Rodrigues Wambier, sócio do Wambier, Yamasaki, Bevervanço & Lobo Advogados.
Segundo Freitas, o governo está fazendo ajustes finais para levar a leilão ainda este ano ativos como os da cessão onerosa, pré-sal, além de mais concessões de portos e de rodovias, e ferrovias, incluindo a Ferrogrão.
E o secretário do Programa de Parcerias de Investimentos Adalberto Vasconcelos, acrescentou que outras obras de grande porte do governo podem também serem levados a concessão, incluindo a usina nuclear de Angra 3, a rodovia Transnordestina, além das obras de transposição do Rio São Francisco.
"Estamos terminando os estudos para indicar quais são os melhores modelos para cada um, que podem incluir licitação pública", disse Vasconcelos.
(Com reportagem adicional de Paula Arend Laier e Matheus Maia)