Por Jamie McGeever
BRASÍLIA (Reuters) - A S&P Global Ratings está reavaliando seu atual rating de crédito soberano e perspectiva para o Brasil, cujos desafios econômicos, fiscais e políticos estão significativamente maiores agora, em razão da crise do coronavírus.
Em entrevista à Reuters, Livia Honsel, principal analista soberana para o Brasil na S&P, disse que a dívida nacional pode atingir níveis sem precedentes. Não está claro quando e quanto o crescimento econômico e o apetite político pelas reformas fiscais irão se recuperar, acrescentou ela.
A deterioração do clima econômico, fiscal e político na atual emergência é compreensível e não significa, necessariamente, que a classificação "BB-" ou que as perspectivas positivas do Brasil serão reduzidas, disse Honsel. Mas terá um peso.
"Mudamos a perspectiva para positiva em dezembro... (mas) estamos reavaliando essa posição. Em geral, o rating estava orientado para um 'upgrade'. Mas precisamos esperar e ver", disse Honsel.
"É difícil ser positiva nesse ambiente. Estamos reavaliando nossa posição em todos os ratings soberanos, inclusive no Brasil", disse Honsel.
Agora, a dívida bruta do Brasil pode alcançar até 90% do Produto Interno Bruto (PIB) no próximo ano, com uma dívida líquida próxima a 70%, disse ela, à medida que a receita tributária cai enquanto os gastos públicos voltados ao enfrentamento da crise aumentam. Ambos seriam níveis recordes.
Antes da pandemia, os funcionários do governo estavam otimistas de que a nota de crédito do Brasil seria elevada, talvez até o final deste ano, em um passo importante para recuperar o status de grau de investimento perdido em 2015, durante uma das piores recessões do país.
Em dezembro, Honsel disse que um elevação para a classificação "BB (SA:BBAS3)" poderia acontecer neste ano caso o déficit continuasse a se reduzir e o crescimento econômico aumentasse. Antes do coronavírus, o governo previa um déficit primário de 124 bilhões de reais e crescimento econômico superior a 2%.
Mas, como em todos os países, o crescimento econômico e as perspectivas fiscais do Brasil foram prejudicados pela crise. Agora, o governo espera um crescimento zero e um déficit primário de 350 bilhões de reais, ou 4,5% do PIB este ano.
Honsel disse que ela e seus colegas tentarão olhar além do nebuloso cenário de curto prazo e estabelecer qual é a trajetória fiscal do Brasil no médio e no longo prazos.
"Precisamos reavaliar, não entrar em pânico", disse ela.
Uma variável chave é o clima político e o apetite para implementar a agenda de reformas econômicas e fiscais do governo quando o pior da crise passar, afirmou Honsel.
Embora os parlamentares estejam cientes da necessidade de realizar reformas, o cenário político agora é "muito mais difícil" e o país pode estar ainda mais polarizado do que nunca, disse ela.