Por Luciano Costa
SÃO PAULO (Reuters) - A elétrica Taesa (SA:TAEE11) pagará 942,5 milhões de reais por ativos de transmissão de energia da Âmbar, controlada pela holding J&F, e ainda assumirá 414 milhões de reais em dívidas de longo prazo associadas aos empreendimentos, disseram à Reuters executivos da companhia nesta terça-feira.
Controlada pela mineira Cemig (SA:CMIG4) e pelo grupo colombiano ISA, a Taesa anunciou a aquisição na véspera, em negócio que envolve 100 por cento das ações da São Pedro Transmissora e da São João Transmissora, bem como 51 por cento da Triângulo Mineiro Transmissora e da Vale do São Bartolomeu Transmissora, todas com linhas de energia já em funcionamento.
"As dívidas são de longo prazo, então nós pagaremos já com o fluxo de receitas da operação. A maior parte é junto à Caixa (Econômica Federal), com taxa bem baixa, grande parte com taxa de juros de 3,5 por cento ao ano", disse à Reuters o diretor financeiro da Taesa, Marcus Aucélio.
Ele adicionou que a Taesa prepara uma captação de cerca de 850 milhões de reais no primeiro trimestre de 2019 para levantar recursos para o pagamento da transação com a Âmbar e para quitar também uma compra de ativos da Eletrobras (SA:ELET3) fechada pela companhia em um leilão realizado em setembro.
"Para pagar essa compra e mais os ativos da Eletrobras precisaríamos de em torno de 1,25 bilhão de reais, mas para fazer frente a esse pagamento precisaremos de 850 milhões de reais. O resto é caixa, a companhia tem um caixa muito alto", explicou.
"Nossa ideia é emitir debêntures, e a gente já começou a ver com os bancos", acrescentou.
A Âmbar passou a negociar a venda de seus ativos no setor de energia após o grupo J&F se ver envolvido nas investigações da Operação Lava Jato.
A conclusão da operação está condicionada ao cumprimento de determinadas condições precedentes previstas em contrato, que incluem cláusulas que buscam proteger a Taesa de eventuais impactos das investigações anti-corrupção.
Assim, o fechamento dependerá de questões como a inexistência de impedimentos legais ou efeitos materiais adversos relacionados aos ativos, bem como declaração do Ministério Público Federal (MPF) sobre o cumprimento do acordo de leniência fechado pela J&F.
O negócio prevê também que os vendedores deverão indenizar a Taesa caso ela incorra em perdas relacionadas a uma eventual violação de leis anticorrupção pela J&F.
O presidente da Taesa, Raul Lycurgo Leite, disse à Reuters que essas e outras cláusulas vão "blindar" a empresa de qualquer prejuízo no negócio por questões relacionadas a compliance.
Os ativos representam linhas de transmissão com 1.227 km de extensão, que adicionarão ao portfólio atual da Taesa uma receita anual de 130,1 milhões de reais (incluindo reforços em construção).
SINERGIAS E EXPANSÃO
Os ativos de transmissão da Âmbar comprados pela Taesa têm "uma sinergia bastante interessante" com os negócios da companhia, o que facilitará a operação e a manutenção dos empreendimentos, reduzindo custos, afirmou Leite.
Segundo ele, todas as quatro concessões que pertenciam ao grupo J&F conectam-se a subestações da Taesa, além de uma delas ser próxima a uma base de manutenção da elétrica.
O executivo comentou ainda que a estatal Furnas, da Eletrobras, detém fatias de 49 por cento na Triângulo Mineiro Transmissora e na Vale do São Bartolomeu Transmissora, que poderão ser alvo da Taesa no futuro.
A Eletrobras promoveu neste ano leilões para vender ativos, incluindo participações minoritárias em linhas de transmissão.
"Entendemos que num futuro próximo teremos uma oportunidade. No caso de haver desinvestimento por parte de Furnas, a Taesa estará numa posição importante, até porque, por acordo de acionistas, tem direito de preferência", explicou.
APETITE POR LEILÃO
O anúncio da aquisição pela Taesa, no entanto, não afeta os planos da companhia em disputar um leilão do governo federal que oferecerá a investidores no dia 20 de dezembro concessões para novos projetos de transmissão de energia.
O presidente da companhia disse que as negociações com a Âmbar já aconteciam há meses e que por isso não afetaram a preparação para a licitação desta semana.
"Em hipótese alguma, efetivamente não atrapalha, a gente já vinha planejando esse fechamento da operação da Âmbar e também a participação no leilão... Nossa participação está assegurada", afirmou ele.
O leilão de transmissão oferecerá empreendimentos cuja construção deverá exigir investimentos de mais de 13 bilhões de reais nos próximos cinco anos.
(Por Luciano Costa)