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Temores políticos internos impedem Ibovespa de seguir alta em Nova York

Publicado 02.09.2021, 08:37
Atualizado 02.09.2021, 12:10
© Reuters.  Temores políticos internos impedem Ibovespa de seguir alta em Nova York
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A despeito do tom positivo externo, o Ibovespa mergulha em queda para o nível dos 117 mil pontos, chegando a perder mais de 1.700 pontos em relação à abertura (119.394,46 pontos). Insegurança é a palavra-chave que define os negócios no Bolsa brasileira. Com isso, o índice já devolveu toda a alta de 0,52% (119.395,60 pontos) da véspera. Às 11h14, cedia 1,24%, aos 117.916,89 pontos.

A preocupação é que as votações realizadas ontem gerem ainda mais instabilidade entre os Poderes. O temor é de que um eventual agravamento nessa relação atrapalhe o andamento da agenda de reformas e coloque ainda mais em risco a saúde fiscal do País. Isso porque ontem o governo sofreu duas derrotas: aprovação de mudança nos planos de saúde das estatais, que pode inviabilizar a privatização dos Correios, e a rejeição de uma medida provisória que fazia uma reforma trabalhista, que prometia geração de empregos.

Em contrapartida, a Câmara aprovou o texto-base da reforma do Imposto de Renda, com apoio da oposição. Hoje, os deputados votarão os destaques apresentados pelos partidos na tentativa de mudar o texto. Depois, o Senado examinará este projeto e existe resistência entre os senadores quanto a proposta, observa em nota a MCM Consultores.

Para Danilo Batara, sócio-fundador e head da mesa de operações da Delta Flow Investimentos, escritório plugado ao BTG Pactual (SA:BPAC11), a paciência do investidor institucional está cada vez menor. Segundo ele, o quadro na Bolsa só não é pior porque os estrangeiros estão entrando. "A reforma do imposto de renda é boa para o governo, mas não para as empresas. Isso está impactando bastante os negócios hoje, além das duas derrotas do governo", diz.

"Essa queda é totalmente por preocupações internas", resume o estrategista-chefe do Grupo Laatus, Jefferson Laatus. Ele refere-se às derrotas do governo ontem: aprovação de mudança nos planos de saúde das estatais, que pode inviabilizar a privatização dos Correios, e a rejeição de uma medida provisória que fazia uma reforma trabalhista, que era vista como fator de geração de emprego. "É mais custo para as estatais, e isso pode atrapalhar as privatizações", diz Laatus. Além disso, a taxação de dividendos pesa principalmente nos papéis do setor financeiro.

Para Luiz Cesta, responsável pela área de análise da Monett, a situação só tende a ficar menos tumultuada quando houver solução que agrade aos investidores em relação a esses temas. "Vai depender principalmente das questões orçamentárias, das relacionadas às reformas que estão no Senado. O texto-base da reforma tributária foi aprovado, mas podem surgir novidades, pois faltam os detalhes votação", cita.

Ontem, Celso Sabino (PSDB-PA), relator da reforma do Imposto de Renda, manteve a taxação sobre a distribuição de lucros e dividendos como estava no seu parecer, em 20%. Mesmo que essa proposta seja aprovada, Cesta avalia que o mercado como um todo é bastante pragmático e tentará entender a medida - caso seja aprovada - em termos práticos. "Ficará de olho para ver se haverá receita suficiente para cobrir os gastos, para diminuir a trajetória do endividamento", afirma Cesta.

Além das preocupações políticas, a situação complicada da economia brasileira também não ajuda. Hoje, saíram novos indicadores retratando essa dificuldade. A produção da indústria caiu 1,3% em julho ante junho, ficando mais forte do a mediana negativa de 0,7% das projeções (-2,0% a alta de 1,7%). Já o IPC-Fipe fechou agosto com elevação de 1,44%, ante 1,02% em julho. "O fato é que daqui para frente cada vez mais o mercado irá se aprofundar e tentar entender como está o cenário de atividade e de inflação do Brasil. Tentar entender se essa corrosão da renda pode atrapalhar a retomada", diz Cesta, da Monett.

Nem mesmo o exterior positivo alivia. Na véspera do payroll, o número de pedidos de auxílio-desemprego dos EUA caiu 14 mil na semana encerrada em 28 de agosto, a 340 mil, ante previsão de 340 mil solicitações. Já o déficit comercial do país diminuiu 4,3% em julho ante junho, a US$ 70,05 bilhões. O dado veio um pouco abaixo do esperado pelo mercado, de déficit de US$ 70,9 bilhões. Agora, investidores aguardam falas de membros do Fed para ver se conseguem sinais sobre as condições econômicas, especialmente do mercado de trabalho.

Apesar da alta superior a 1,5%, as ações da Petrobras (SA:PETR4) sobem em torno de 0,50%, enquanto Vale ON (SA:VALE3) cede 0,17%, após o minério voltar a cair na China. Em Qingdao, encerrou a US$ 142,02 a tonelada, em baixa de 0,98%.

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