Por Stephen Eisenhammer
MARIANA (Reuters) - As autoridades confirmaram, neste domingo, a segunda morte causada pela avalanche de lama e enchente que inundaram cidades próximas à mina de ferro no sudeste do estado de Minas Gerais.
Pelo menos 28 pessoas ainda estão desaparecidas após o desastre que ocorreu na última quinta-feira em Mariana, motivando um resgate que está em andamento e uma operação de salvamento envolvendo por volta de 500 pessoas, muitas delas ainda procurando, com a ajuda de cachorros e equipamentos especiais, por vítimas ao longo da planície das enchentes.
A enxurrada, carregando água e lama com restos de minerais das minas, encheu áreas a até 100 quilômetros de distância do rompimento.
Apesar de a água ter retrocedido, as autoridades acreditam que resíduos do Rio Doce alcançarão o estado vizinho do Espírito Santo na terça-feira.
Nem as autoridades e nem a operadora da mina, a Samarco - uma companhia conjunta da maior companhia de mineração do mundo, BHP Billiton Ltd e a maior mineradora de ferro, a Vale SA (SA:VALE5) - determinaram as causas da ruptura.
A resposta oficial do desastre até agora está concentrada no resgate. Mas residentes, reguladores, ambientalistas e outros ao redor do Brasil começaram a questionar a fiscalização da mina e a citar preocupações mais amplas sobre segurança e sustentabilidade da mineração, uma das maiores indústrias do Brasil e uma grande fonte de verba de exportação.
No sábado, o jornal O Estado de S. Paulo publicou que um estudo pedido pelo governo do estado de Minas Gerais em 2013 avisou que as barragens que romperam poderiam estar vulneráveis.
No domingo, helicópteros e veículos entraram e saíram da base operacional que foi montada próxima à mina para os esforços de resgate, que foram prejudicados por fortes chuvas e neblina.
Apesar de a possibilidade de haver sobreviventes ser cada vez mais remota, o time oficial de resgate ainda não descarta isso. Das 28 pessoas desaparecidas, 13 são trabalhadores das minas.
Duarte Júnior, prefeito de Mariana, a cidade onde fica a mina, foi internado no hospital no começo de domingo com suspeita de ataque cardíaco, segundo a sua mulher, depois de três dias de trabalho de emergência.
O governador de Minas Gerais, Fernando Pimentel, que classificou o rompimento das barragens como o maior desastre ambiental da história do estado, em entrevista após sobrevoar a região neste domingo disse que o governo começaria a estudar quais medidas regulatórias podem ter ficado aquém do necessário. As barragens do estado passam por revisões de inspetores independentes.
"Obviamente, não foi suficiente", disse. "Temos que aprender as lições desse acidente e melhorar os planos de emergência".
Pimentel, no entanto, procurou afastar a noção de que a culpa é do licenciamento ambiental do estado. "Não houve nenhuma falha nessa frente", acrescentou.
A mina da Samarco está localizada na região do chamado quadrilátero ferrífero, uma das regiões com mais minas no mundo. No terceiro trimestre, de acordo com um relatório da Vale, a mina de Samarco produziu 3,9 milhões de toneladas de pelotas de ferro, um aumento de 3,3% em relação ao ano passado.
Em um momento em que o preço do ferro caiu em comparação aos últimos anos, os serviços de limpeza e outros custos relacionados ao desastre, inclusive eventuais punições regulatórias e qualquer processo que a Samarco possa enfrentar, devem ser altos.