Por Michelle Martin
BERLIM (Reuters) - O governo alemão precisa redirecionar suas energias para lidar com os problemas europeus, em vez de concentrar-se em questões domésticas menores, afirmou o comissário do país na União Europeia, enquanto persiste uma crise política em relação ao futuro do chefe de inteligência e espionagem do país, marcada por recentes escândalos.
O destino da coalizão da chanceler alemã, Angela Merkel, formada seis meses atrás, também está na balança, enquanto os três partidos que a integram buscam resolver suas diferenças em relação ao chefe de espionagem Hans-Georg Maassen.
A coalizão disse na última terça-feira que Maassen seria substituído na função após enfrentar acusações de manter visões de extrema direita, mas, em uma medida que provocou a indignação do público, ele foi transferido para um emprego melhor remunerado no ministério do Interior.
A decisão também ficou incerta na sexta-feira após Andrea Nahles --líder do partido de centro-esquerda Social Democrata (SPD), um parceiro minoritário na aliança liderada pelos conservadores-- ter dito que o ato seria um erro.
Já o Comissário de Orçamento da União Europeia, Guenther Oettinger, membro do partido Cristão Democrata (CDU) de Merkel, disse que seu governo estaria agindo como uma "bola de demolição para a Europa", em vez de ajudar no progresso da região.
"Está ficando cada vez mais difícil de explicar para os parceiros europeus (...) por que a maior coalizão continua se envolvendo em novos conflitos que na verdade têm pouca importância", disse ele ao grupo de jornais Funke em entrevista publicada neste domingo.
A polêmica em relação a Maassen acontece dois meses depois de Merkel terminar uma dolorosa disputa com seus aliados do partido CSU (SA:CARD3) da Baviera sobre imigração, relacionada à abertura das fronteiras da Alemanha em 2015 para centenas de milhares de migrantes.
Oettinger disse que, desde as eleições nacionais em setembro do ano passado, a Alemanha havia feito pouco para resolver problemas europeus, o que significaria que um ano da Europa havia sido desperdiçado.
"Aqui em Bruxelas esperamos que o governo alemão finalmente lide com questões europeias", disse.
A polêmica sobre Maassen começou quando o chefe de espionagem questionou a autenticidade das imagens de vídeo que mostravam radicais de extrema direita caçando imigrantes na cidade de Chemnitz, no leste da Alemanha.
Wolfgang Kubicki, vice-líder do partido de oposição Democratas Livres, afirmou que o episódio mostra que a aliança tem problemas mais profundos, e que novas eleições deveriam ser convocadas.
O líder da CSU e ministro do Interior, Horst Seehofer, disse ao jornal Bild am Sonntag que os líderes dos três partidos de coalizão se encontrariam apenas depois que ele soubesse quais eram as exigências do SPD e como os conservadores poderiam chegar a um acordo com Nahles.
Fontes ligadas à coalizão disseram que não estava claro se eles se reuniriam no domingo.
A secretária-geral do CDU, Annegret Kramp-Karrenbauer, escreveu mais cedo a membros do partido que pensava que as conversas deveriam ser usadas para esclarecer se os parceiros da coalizão "podem continuar a se unir diante de uma missão comum".
(Reportagem adicional de Holger Hansen e Andreas Rinke)