Por Cassandra Garrison e Sofia Menchu
CIDADE DE GUATEMALA (Reuters) - Líderes internacionais parabenizaram Bernardo Arévalo por sua folgada vitória na eleição presidencial da Guatemala, um resultado que por muito tempo foi tido como improvável para o candidato com discurso anticorrupção em um pleito cheio de acusações de interferência do governo.
Com todos os votos apurados, Arévalo, um ex-diplomata de 64 anos e filho do primeiro presidente eleito democraticamente na Guatemala, obteve 58% dos votos, contra 37% da ex-primeira-dama Sandra Torres.
Um oficial do Departamento de Estado dos Estados Unidos disse nesta segunda-feira que o povo da Guatemala havia se pronunciado e que o resultado da votação era definitivo.
O chefe da política externa da União Europeia, Josep Borrell, afirmou que o resultado foi "muito claro" e enalteceu a promessa do governo guatemalteco de realizar uma transição tranquila de poder.
Suas saudações foram ecoadas por líderes de países vizinhos, incluindo o presidente mexicano, Andrés Manuel López Obrador, a presidente de Honduras, Xiomara Castro, e o da Nicarágua, Daniel Ortega.
Luís Almagro, chefe da Organização dos Estados Americanos (OEA), afirmou em uma publicação na rede social X, anteriormente conhecida como Twitter, que a Guatemala teve um "dia eleitoral exemplar".
Arévalo, que liderou uma campanha anticorrupção, não teve facilidade. Desafiando as pesquisas de opinião, ele obteve um surpreendente segundo lugar no primeiro turno, em junho. Vários candidatos da oposição foram impedidos de disputar o pleito.
Sua concorrente Torres alegou irregularidades no primeiro turno de votação e o partido de Arévalo, Semilla, foi suspenso por um curto período de tempo, a pedido de um procurador.
Até a tarde desta segunda-feira, Torres ainda não havia admitido publicamente sua derrota. Em coletiva de imprensa no domingo, a candidata afirmou estar "preocupada" com a integridade da votação.
Um representante da Organização dos Estados Americanos (OEA), com uma equipe de 86 observadores na Guatemala, afirmou que a votação ocorreu sem problemas e que a eleição "cumpriu todas as obrigações legais". Uma missão da União Europeia deve emitir uma declaração preliminar sobre suas descobertas na terça-feira. Os governos do Brasil e da Noruega, além da UE, disseram esperar uma transição pacífica do poder, algo que foi prometido pelo atual presidente, Alejandro Giammattei.
"O governo brasileiro faz votos de pleno êxito ao presidente eleito da Guatemala no desempenho de seu mandato, bem como reafirma sua disposição de estreitar os vínculos de amizade e cooperação entre os dois países", disse o Itamaraty em nota.
"Expressa, ainda, expectativa de que o processo de transição de poder no país centro-americano seja pacífico e cooperativo, em conformidade com os compromissos democráticos assumidos no âmbito da OEA."
Contudo, é provável que haja tentativas de obstruir Arévalo, segundo a analista da consultoria Eurasia Group, Risa Grais-Targow. "A coalizão governista provavelmente continuará colocando autoridades eleitorais e o partido Semilla, de Arévalo, como alvos de investigações antes da troca de poder, em janeiro", disse ela. Na rede social X, Giammattei parabenizou Arévalo e o convidou para um encontro um dia após os resultados finais serem apresentados. Sem maioria no Congresso, o presidente-eleito enfrentará uma transição difícil e desafios no cargo. A Guatemala tem sido assolada pela violência e pela insegurança alimentar, e seus cidadãos representam o maior número de centro-americanos que tentam entrar nos EUA. Do ponto de vista macroeconômico, Arévalo assumirá um país com bons fundamentos. Porém, espera-se alguma dificuldade para que ele implemente a sua agenda social, de acordo com analistas do banco JPMorgan (NYSE:JPM). Arévalo afirmou ter conversado com Obrador e com o presidente salvadorenho, Nayib Bukele, sobre a agenda da Guatemala com seus vizinhos.
Taiwan, aliado de longa data da Guatemala, também parabenizou o político, apesar da promessa dele de estreitar os laços com a China. A Guatemala é um dos 13 países que mantêm laços diplomáticos com Taiwan, ilha reivindicada pela China. Os chineses seguem a posição de que nenhuma nação com a qual eles mantêm relações pode ter compromissos com Taipé.
(Reportagem de Kylie Madry, Sofia Menchu e Cassandra Garrison; reportagem adicional de Gabriel Araujo)