Por Bhargav Acharya e Gabriel Araujo
JOANESBURGO (Reuters) - Os líderes dos Brics se reuniram nesta terça-feira para traçar o caminho para o futuro do bloco de países em desenvolvimento, mas divergências ressurgiram antes de um debate crucial sobre uma potencial expansão do grupo, com o objetivo de aumentar sua influência global.
O aumento das tensões após a guerra na Ucrânia e a crescente rivalidade de Pequim com os Estados Unidos levaram a China e a Rússia – cujo presidente, Vladimir Putin, participará virtualmente da reunião – a buscar fortalecer o Brics.
Os países do bloco estão tentando usar a cúpula, que acontece entre esta terça e quinta-feira em Joanesburgo, para transformar o grupo, que também inclui África do Sul, Brasil e Índia, em um força de contrapeso ao domínio ocidental das instituições globais.
"Neste momento, as mudanças no mundo, em nossos tempos e na história estão se desenrolando de maneiras como nunca antes, levando a sociedade humana a uma conjuntura crítica", disse o presidente da China, Xi Jinping, em comentários feitos em um fórum empresarial do Brics.
"O curso da história será moldado pelas escolhas que fizermos."
Xi faltou ao evento, apesar da presença de Cyril Ramaphosa, da África do Sul, do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, e do primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi.
Seus comentários foram lidos pelo ministro do Comércio chinês, Wang Wentao, e não ficou imediatamente claro por que Xi, que teve uma reunião com o anfitrião Ramaphosa no início do dia, não compareceu.
Comentários de Lula apontaram para uma divergência de visão dentro do bloco, que analistas políticos dizem que há muito tempo luta para formar uma visão coerente de seu papel na ordem global.
"A gente não quer ser contraponto ao G7, a gente não quer ser contraponto ao G20, a gente não quer ser contraponto aos Estados Unidos, a gente quer se organizar. A gente quer criar uma coisa que nunca teve, que nunca existiu, o sul global", disse Lula em sua live semanal "Conversa com o Presidente", realizada diretamente de Johanesburgo.
Além da questão da ampliação, também está na agenda da cúpula o aumento do uso das moedas locais dos Estados-membros nas transações comerciais e financeiras para diminuir a dependência do dólar norte-americano.
"O processo objetivo e irreversível de desdolarização de nossos laços econômicos está ganhando força", disse Putin em declaração gravada.
A economia da Rússia está lutando com as sanções ocidentais por conta da guerra na Ucrânia. Putin é alvo de um mandado de prisão internacional por supostos crimes de guerra na Ucrânia, e está sendo representado na cúpula por seu ministro das Relações Exteriores, Sergei Lavrov.
Os organizadores sul-africanos dizem que não haverá discussões sobre uma moeda comum do Brics, uma ideia lançada pelo Brasil como uma alternativa à dependência do dólar.
(Reportagem de Bhargav Acharya em Joanesburgo e Gabriel Araújo em São Paulo; reportagem adicional de Carien du Plessis em Pretória)