Por Nicolás Misculin
BUENOS AIRES (Reuters) - A Argentina pode estar prestes a dar um salto em direção do desconhecido político.
O país, que é a segunda maior economia da América do Sul, vai às urnas para votar em uma eleição presidencial no domingo, com o ultraliberal Javier Milei como favorito para vencer, embora provavelmente tenha que enfrentar um segundo turno.
O economista de cabelos selvagens e que empunha uma motosserra -- que saiu de uma relativa obscuridade no último ano -- ficou em primeiro lugar em uma primária aberta em agosto e lidera todas as pesquisas de opinião, à frente do ministro da economia, Sergio Massa, e da conservadora Patricia Bullrich.
Milei, de 52 anos, é o representante da raiva dos eleitores argentinos com a inflação que pode chegar a 200% neste ano, o aumento dos níveis de pobreza e a queda do peso, que apaga o valor real dos salários e das economias da população. Muitos culpam a elite política e se apegaram à retórica de Milei de "queimar tudo".
"Não me interesso por política, mas Milei é uma lousa limpa. Ele pode ser louco, mas pelo menos diz o que pensa", disse Sebastián Pizzo, de 33 anos, funcionário de um restaurante em Buenos Aires.
A votação marca uma importante encruzilhada para a Argentina, um dos maiores exportadores de grãos do mundo, o quarto maior produtor de lítio para baterias elétricas e um crescente campo de petróleo e gás de xisto que vem atraindo investimentos e interesse da Ásia à Europa.
O país também é o maior devedor -- de longe -- do Fundo Monetário Internacional (FMI), com um programa de empréstimo pendente de 44 bilhões de dólares, além de enormes dívidas internacionais com detentores de títulos e uma grande linha de swap de moeda com a China.
O vencedor terá um grande impacto na posição do país no mundo. Milei tem criticado a China, prometido "queimar" o banco central, privatizar entidades do setor público e dolarizar a economia. Ele é contra o aborto e antifeminista.
Milei é o candidato a ser derrotado, mas a eleição continua sendo uma disputa de três partes e, como as pesquisas não se mostraram confiáveis para as primárias de agosto (não conseguiram detectar a forte ascensão de Milei), ninguém deve descartar outra surpresa.
"A verdade é que todos os cenários são possíveis", disse Mariel Fornoni, diretora da consultoria Management & Fit.
De modo geral, os pesquisadores concordam que o resultado mais provável é que Milei fique em primeiro lugar, mas enfrente um novo confronto no segundo turno com Massa em 19 de novembro. Um candidato precisa de 45% dos votos ou 40% com uma vantagem de 10 pontos percentuais sobre o segundo colocado para vencer no domingo.
O analista político Carlos Fara disse que a ascensão de Milei parece marcar o fim do domínio das duas principais facções políticas do país, os peronistas, atualmente no poder, e o principal bloco conservador de oposição.
"Podemos estar no fim de um ciclo histórico e no início do próximo", disse ele.
Quem quer que vença enfrentará uma perspectiva econômica desanimadora: os cofres do banco central estão praticamente vazios, uma recessão se aproxima, 40% da população vive na pobreza e a maioria espera uma desvalorização acentuada do peso, que poderia aumentar ainda mais a inflação.