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Por Gleb Bryanski e Yuliia Dysa e Nandita Bose
MOSCOU/KIEV/WASHINGTON (Reuters) - Vladimir Putin e Donald Trump se reunirão nos próximos dias, disse o Kremlin nesta quinta-feira, enquanto o presidente dos EUA busca um avanço para acabar com a guerra na Ucrânia, depois de expressar uma frustração crescente com seu colega russo e ameaçá-lo com novas sanções.
O presidente ucraniano, Volodymyr Zelenskiy, disse que a Europa deve estar envolvida no processo de paz ao falar nesta quinta-feira com líderes europeus, que são vistos como mais simpáticos à causa de Kiev em meio às críticas anteriores de Trump ao líder ucraniano.
Trump ameaçou com novas sanções a partir de sexta-feira contra a Rússia e os países que compram suas exportações, a menos que Putin concorde em encerrar o conflito de três anos e meio, o mais mortal na Europa desde a Segunda Guerra Mundial.
Perguntado se o prazo de sexta-feira para concordar com um cessar-fogo ainda estava de pé, Trump disse aos repórteres: "Dependerá dele. Vamos ver o que ele tem a dizer".
Na quarta-feira, ele impôs tarifas mais altas contra a Índia pela compra de petróleo russo e disse que outras tarifas adicionais semelhantes podem ser aplicadas à China, o outro principal comprador de petróleo bruto russo. Não ficou claro se ele anunciaria outras medidas após o término do prazo de sexta-feira.
O assessor do Kremlin Yuri Ushakov disse que a Rússia e os EUA concordaram em realizar uma cúpula entre Putin e Trump "nos próximos dias".
As movimentações sobre uma possível reunião bilateral ocorrem após uma reunião de três horas na quarta-feira entre o enviado de Trump, Steve Witkoff, e Putin em Moscou.
Putin, em uma reunião com o presidente dos Emirados Árabes Unidos, disse que os Emirados Árabes Unidos seriam um local "totalmente adequado" para a reunião, mas não chegou a confirmar que o país do Golfo seria o anfitrião.
O vice-embaixador da Rússia na ONU, Dmitry Polyanskiy, disse nesta quinta-feira sobre a reunião entre Trump e Putin que "pelo que ouvi, há uma série de locais, mas eles concordaram com algo que não querem revelar".
Não houve nenhuma cúpula entre os líderes dos EUA e da Rússia desde que Putin e Joe Biden se reuniram em Genebra em junho de 2021.
A Rússia entrou em guerra na Ucrânia em fevereiro de 2022, citando ameaças à sua própria segurança e mergulhando as relações em uma crise profunda. Kiev e seus aliados ocidentais classificaram a invasão como uma apropriação de terras no estilo imperial.
Trump tem se esforçado para restaurar as relações com a Rússia e tentar acabar com a guerra, embora em seus comentários públicos ele tenha oscilado entre a admiração e a crítica contundente a Putin.
Uma autoridade da Casa Branca disse na quarta-feira que Trump poderia se encontrar com Putin já na próxima semana.
O New York Times informou que Trump disse a líderes europeus, durante uma ligação na quarta-feira, que pretendia se reunir com Putin e, em seguida, dar continuidade a uma reunião trilateral envolvendo o líder russo e Zelenskiy.
ZELENSKIY: A EUROPA PRECISA TER UM PAPEL
A Ucrânia e os líderes europeus há muito se preocupam com o fato de que Trump, que expressou simpatia por algumas das exigências da Rússia, poderia se alinhar com Putin para forçar um acordo com Zelenskiy que seria profundamente desvantajoso para Kiev.
Uma fonte familiarizada com o assunto disse à Reuters que Witkoff participou do telefonema de quarta-feira entre Trump, Zelenskiy e líderes europeus e os informou sobre algumas coisas com as quais Putin poderia concordar.
Zelenskiy conversou nesta quinta-feira com os líderes da França e da Alemanha e com a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, e disse que a Europa precisa se envolver no processo de paz.
"A guerra está acontecendo na Europa, e a Ucrânia é parte integrante da Europa -- já estamos em negociações sobre a adesão à UE. Portanto, a Europa precisa participar dos processos relevantes", disse ele no X.
Ele disse que a guerra precisa terminar com uma "paz digna", e que qualquer acordo alcançado moldaria o cenário de segurança da Europa nas próximas décadas. A Rússia ainda não havia dito que estava pronta para um cessar-fogo, acrescentou.
Questionado sobre a possibilidade de se reunir com Zelenskiy, Putin disse que estava disposto, em princípio, mas que as condições para um encontro pessoal com o líder ucraniano estavam longe de ser atendidas.
Trump disse a repórteres nesta quinta-feira que uma reunião com Putin não estava condicionada ao fato de o presidente russo concordar em se reunir com Zelenskiy.
Durante o governo Biden, que impôs sanções onerosas a Moscou, a Rússia descreveu as relações com os EUA como "abaixo de zero". Sob Trump, ambos os lados falaram de um possível restabelecimento de laços comerciais lucrativos.
Nas ruas de Kiev, ucranianos entrevistados pela Reuters estavam cautelosos com o que poderia resultar de uma reunião entre Putin e Trump.
"Não espero nada de positivo", disse Mykhailo Kryshtal, um ator de 55 anos.
"Por que ele (Putin) deveria acabar com essa guerra? Ele tem na ponta dos dedos um monte de pessoas dispostas a morrer por ele ou por algumas ideias efêmeras produzidas na Rússia. Tudo isso é algum tipo de jogo."
(Reportagem adicional de Anton Kolodyazhnyy, Ksenia Orlova, Olesya Astakhova e Dmitry Antonov em Moscou, Yurii Kovalenko em Kiev, Lucy Papachristou em Tbilisi, Maxim Rodionov e Filipp Lebedev em Londres e Bhargav Acharya e Ryan Patrick Jones em Toronto)