MP 1303 caiu: comemoração ou preocupação do mercado, eis a questão?
Por Gwladys Fouche e Tom Little
OSLO (Reuters) - A líder da oposição venezuelana, María Corina Machado, ganhou o Prêmio Nobel da Paz de 2025 nesta sexta-feira por lutar contra a ditadura no país e dedicou o prêmio em parte ao presidente dos EUA, Donald Trump, que tem insistido repetidamente que ele o merecia.
Machado, uma engenheira industrial de 58 anos, foi impedida em 2024 pelos tribunais da Venezuela de concorrer à Presidência e, assim, desafiar o presidente Nicolás Maduro, que está no poder desde 2013.
"Oh meu Deus... Não tenho palavras", disse Machado ao secretário do órgão de premiação, Kristian Berg Harpviken, em um telefonema que o Comitê Nobel publicou nas mídias sociais.
"Eu lhe agradeço muito, mas espero que você entenda que este é um movimento, esta é uma conquista de toda uma sociedade. Eu sou apenas uma pessoa. Certamente não mereço isso", acrescentou.
LAUREADA ELOGIA "APOIO DECISIVO DE TRUMP À NOSSA CAUSA"
Mais tarde, ela disse, em uma postagem no X em inglês: "Dedico o prêmio ao povo sofrido da Venezuela e ao presidente Trump por seu apoio decisivo à nossa causa!"
Trump é um crítico ferrenho de Maduro e os EUA são um dos vários países que não reconhecem a legitimidade de seu governo.
A Casa Branca havia criticado anteriormente a decisão do Comitê Norueguês do Nobel de se concentrar na Venezuela, poucos dias depois de Trump ter anunciado um avanço nas negociações para interromper os combates em Gaza entre Israel e o Hamas.
"O presidente Trump continuará fazendo acordos de paz, acabando com guerras e salvando vidas... O Comitê do Nobel provou que eles colocam a política acima da paz", disse o porta-voz da Casa Branca Steven Cheung, em um post no X.
Maduro, cujos 12 anos no cargo têm sido marcados por uma profunda crise econômica e social, foi empossado para um terceiro mandato em janeiro deste ano, apesar de uma disputa eleitoral que durou seis meses, de apelos internacionais para que ele se afastasse e de um aumento na recompensa oferecida pelos EUA por sua captura.
"Quando os autoritários tomam o poder, é crucial reconhecer os corajosos defensores da liberdade que se levantam e resistem", disse o Comitê Norueguês do Nobel ao anunciar a vencedora.
Marco Rubio, atual secretário de Estado de Trump, indicou Machado para o Prêmio da Paz junto com um grupo de membros do Congresso dos EUA em agosto de 2024, quando ele ainda era senador.
CERIMÔNIA
Não estava imediatamente claro se ela poderá comparecer à cerimônia de premiação em Oslo em 10 de dezembro, aniversário da morte do industrial sueco Alfred Nobel, que fundou os prêmios em seu testamento de 1895.
Caso não compareça, ela se juntaria à lista de ganhadores do Prêmio da Paz impedidos de fazê-lo nos 124 anos de história do prêmio, incluindo o dissidente soviético Andrei Sakharov em 1975, o polonês Lech Walesa em 1983 e Aung San Suu Kyi de Mianmar em 1991.
Machado é a primeira venezuelana a ganhar o Prêmio Nobel da Paz e a sexta da América Latina. Seus três filhos adultos estão morando no exterior por motivos de segurança.
O escritório de direitos humanos da Organização das Nações Unidas saudou o prêmio concedido a Machado como um reconhecimento das "claras aspirações do povo da Venezuela por eleições livres e justas".
O chefe do comitê de premiação, Joergen Watne Frydnes, disse esperar que o prêmio estimule o trabalho da oposição venezuelana.
"Esperamos que toda a oposição tenha energia renovada para continuar o trabalho em prol de uma transição pacífica da ditadura para a democracia", disse Frydnes à Reuters após o anúncio.
Depois de ser impedida de concorrer em 2024, Machado se dedicou a fazer campanha para seu substituto, o ex-embaixador Edmundo González, atraindo multidões que às vezes chegavam aos milhares, de acordo com participantes e imagens capturadas pela mídia.
Mas vários membros do círculo íntimo de Machado foram presos, inclusive seu chefe de segurança na época da campanha, e seis membros de sua equipe se refugiaram na embaixada da Argentina depois que os promotores emitiram mandados de prisão contra eles.
EUA TÊM APOIADO OPOSIÇÃO VENEZUELANA
A preparação para o prêmio deste ano foi dominada pelas repetidas declarações públicas de Trump de que ele merecia ganhar o Prêmio Nobel da Paz.
"Acho que a principal conclusão é que o comitê está novamente demonstrando sua independência, que não será influenciado por opiniões populares ou líderes políticos para conceder o prêmio", disse Halvard Leira, diretor de pesquisa do Instituto Norueguês de Assuntos Internacionais.
"Trump interpretará isso como quiser, mas esse é um prêmio concedido a uma causa que os Estados Unidos têm apoiado muito ao longo dos anos."
"A oposição democrática da Venezuela é algo que os EUA estão ansiosos para apoiar. Portanto, nesse sentido, seria difícil para alguém considerar isso um insulto a Trump."
O prêmio a Machado ocorre em um momento em que os Estados Unidos atacaram vários navios que supostamente transportavam drogas na costa da Venezuela nas últimas semanas.
Trump também disse que os EUA estudam a possibilidade de atacar os cartéis de drogas "que chegam por terra" na Venezuela.
Machado tem apoiado publicamente a operação militar dos EUA.
O comitê do Nobel tomou sua decisão final antes do anúncio, na quarta-feira, de um cessar-fogo e de um acordo sobre reféns no âmbito da primeira fase da iniciativa de Trump para acabar com a guerra em Gaza.
Antes do anúncio do Nobel, especialistas no prêmio também disseram que era muito improvável que Trump ganhasse, pois suas políticas eram vistas como um desmantelamento da ordem mundial internacional que o comitê do Nobel preza.
O prêmio da paz, no valor de 11 milhões de coroas suecas, ou cerca de US$1,2 milhão, foi o quinto Nobel concedido esta semana, depois de literatura, química, física e medicina. A organização japonesa Nihon Hidankyo, um movimento de base de sobreviventes da bomba atômica de Hiroshima e Nagasaki, ganhou em 2024.
(Reportagem de Gwladys Fouche, Nora Buli, Nerijus Adomaitis, Tom Little e Terje Solsvik em Oslo, Redação da Reuters Venezuela, Olivia Le Poidevin e Emma Farge em Genebra, Trevor Hunnicutt e Susan Heavey em Washington)
((Tradução Redação São Paulo)) REUTERS ES AC