Por Catarina Demony
LONDRES (Reuters) - Londres terá seu primeiro memorial em homenagem a vítimas do tráfico negreiro, com a prefeitura da cidade revelando nesta sexta-feira o desenho de um momento muito aguardado e visto por grupos de defesa como um passo para enfrentar o passado e seus legados.
O memorial ficará localizado em West India Quay, na região leste de Londres, onde armazéns foram construídos no início do século 19 para receber o que o gabinete do prefeito chamou de "produtos da escravidão", que iam do açúcar às plantações do Caribe.
Por mais de 300 anos, navios britânicos transportaram à força mais de três milhões de africanos escravizados pelo Oceano Atlântico, e a cidade de Londres era o centro financeiro do tráfico.
"Sabemos que boa parte da riqueza de Londres foi construída nas costas das pessoas escravizadas", afirmou a vice-prefeita de Londres para Comunidades e Justiça Social, Debbie Weekes-Bernard, ao anunciar o desenho vencedor.
Inspirada no formato de conchas de cauri, muito usadas como moeda no comércio africano de escravos, "The Wake", de Khaleb Brooks, será uma escultura de bronze de 7 metros de altura, na qual visitantes poderão entrar.
Dentro dela, haverá o nome de pessoas que foram escravizadas.
"Somos a nossa história. Ela nos diz onde estivemos, onde estamos e em que direção podemos ir", afirmou Brooks.
A prefeitura prometeu financiar o memorial, que custará mais de 655 mil dólares e ficará pronto em 2026, mas disse que precisará de doações privadas.
No Reino Unido, há mais de 900 monumentos públicos — como estátuas, bustos e placas — que fazem referência ao tráfico negreiro, mas a grande maioria está ligada a escravistas e abolicionistas brancos, segundo uma pesquisa que mapeia tais monumentos.