Por Vivian Sequera e Mayela Armas
CARACAS (Reuters) - O procurador-geral da Venezuela, Tarek Saab, disse nesta quarta-feira que seu gabinete lançou uma investigação criminal sobre as primárias presidenciais da oposição no fim de semana, potencialmente arriscando despertar a ira dos Estados Unidos, que flexibilizou algumas sanções sob promessas de um país livre e eleição justa.
O governo venezuelano denunciou uma suposta fraude desde a votação de domingo, organizada sem ajuda estatal e que, segundo os organizadores, atraiu mais de 2,3 milhões de eleitores, enquanto a vencedora das primárias, Maria Corina Machado, insistiu repetidamente que a votação foi transparente e justa.
Washington ameaçou reverter o alívio de sanções ao setor de petróleo e gás e à negociação de títulos concedido na semana passada se o governo Maduro não suspender as proibições que impedem algumas figuras da oposição -- incluindo Machado -- de ocuparem cargos públicos.
O Departamento de Estado dos EUA não respondeu imediatamente a um pedido de comentário.
O governo Maduro, no poder há uma década, e a oposição firmaram na semana passada um acordo eleitoral em Barbados, concordando com observadores internacionais para a votação de 2024 e que cada lado poderia escolher seu candidato de acordo com regras internas.
O acordo não revogou as proibições de cargos públicos para figuras como Machado, que foi barrada por seu apoio às sanções impostas pelos EUA em 2019 após eleições que Washington e outros governos ocidentais rejeitaram como uma farsa.
A investigação vai focar em acusações de violações eleitorais, crimes financeiros e conspiração, disse Saab durante uma conferência de imprensa.
As violações eleitorais devem-se ao fato de as eleições primárias terem sido organizadas sem a participação do Conselho Nacional Eleitoral, afirmou Saab.
A oposição recusou este mês a oferta de ajuda do Conselho e o seu pedido para adiar a votação para novembro, depois de o Conselho ter demorado vários meses para responder ao pedido de assistência da oposição.
As listas de eleitores para as primárias incluíam 2 milhões de pessoas que não se registaram nem participaram, disse Saab, e o financiamento das primárias não foi tornado público.
“Obviamente é uma fraude, quem financiou isto, quem está por trás disso?” disse Saab, depois de mostrar um vídeo supostamente filmado no domingo, que mostrava alguém contabilizando votos incorretamente.
Seu gabinete vai interrogar o presidente da comissão organizadora, Jesus Maria Casal, e a vice-presidente Mildred Camero, assim como funcionários da Sumate, organização civil que participou na organização das primárias e cujo fundador é membro reserva da comissão organizadora.
Machado venceu a disputa com 93% dos votos, de acordo com a última contagem de votos divulgada na quarta-feira. A comissão declarou os resultados conclusivos após a apuração de 91,3% das urnas.
O número de votantes superou as expectativas de sufrágio, mesmo em algumas zonas tradicionalmente aliadas do partido governista.