Publicado originalmente em inglês em 23/02/2021
O maior inimigo das ações de crescimento é a inflação. Nos últimos dias, a disparada dos rendimentos dos títulos públicos americanos pode dar a impressão de que o pior está por vir.
As expectativas de mais estímulo econômico do governo Biden e sinais positivos na contenção da Covid-19 estão pressionando os juros em todo o mundo, com rendimento da nota de 10 anos cotada na máxima de um ano de 1,39% no momento em que escrevo.
A disparada dos rendimentos reflete em grande parte as expectativas de uma recuperação econômica mais forte. Mas, quando isso acontecer, também pode forçar os bancos centrais a remover seu estímulo monetário, fazendo com que as ações se tornem um investimento menos favorável, principalmente para ações de tecnologia de alto crescimento.
As maiores ações de tecnologia dos EUA, representadas no grupo FAANG formado por Facebook (NASDAQ:FB) (SA:FBOK34), Apple (NASDAQ:AAPL) (SA:AAPL34), Amazon (NASDAQ:AMZN) (SA:AMZO34), entre outras, são mais vulneráveis à alta do rendimento dos títulos públicos após seu crescimento explosivo durante a pandemia.
Essa é a principal razão para que essas ações fiquem cada vez mais sob pressão diante das maiores evidências de que a recuperação econômica será mais forte no segundo trimestre. O fundo Invesco QQQ Trust (NASDAQ:QQQ), que rastreia o índice Nasdaq 100 e tem, entre suas 10 maiores posições, Apple, Microsoft (NASDAQ:MSFT) (SA:MSFT34) e Amazon, teve um desempenho aquém do S&P 500 nas últimas semanas. O ETF caiu mais de 2% na segunda-feira, após permanecer estável por um mês.
O impacto de uma possível inflação e das maiores taxas de juros sobre as ações depende muito da rapidez com que os rendimentos subirem. Vários analistas preveem que o rendimento do treasury de 10 anos ficará entre 1,5% a 2% até o fim do ano, à medida que os investidores começam a se preparar para futuras elevações de juros por parte do Fed, de acordo com uma análise feita no Wall Street Journal.
O cenário mais preocupante
Com a alta das pressões inflacionárias, os analistas apresentam visões divergentes sobre seu impacto nos preços das ações. O cenário mais preocupante pode ser uma repetição de 2013, quando o então presidente do Fed, Ben Bernanke, sugeriu restringir o programa de compras de ativos do banco central, o que fez com que os rendimentos dos títulos subissem forte e as ações despencassem.
“O temor é que esses ativos estejam precificados à perfeição quando o BCE e o Fed resolverem restringir suas ações”, afirmou Sebastien Galy, estrategista macro sênior da Nordea Asset Management, em uma nota citada pelo CNBC.com. “As chances de uma restrição aumentaram com as melhores vendas no varejo, após quatro meses de dados decepcionantes, além da expectativa de um pacote de estímulo de US$ 1,9 trilhão”.
Apesar da possibilidade de alguma correção nas ações de alto crescimento, as condições continuam muito favoráveis para seus negócios. A mudança para o comércio eletrônico, o maior uso de escritórios e salas de aula virtuais e a disparada na demanda de hardware de tecnologia são algumas das tendências que chegaram para ficar. Com isso, não há qualquer sinal neste momento de que o Fed irá remover o estímulo monetário responsável por dar uma sobrevida a milhões de pequenas empresas que foram devastadas durante a pandemia.
O diretor de estratégia de ações europeias da Barclays, Emmanuel Cau, afirmou que a curva de juros mais inclinada é indicativo dos “estágios iniciais do ciclo”.
Ele afirmou em nota recente:
“Evidentemente, após o forte movimento das últimas semanas, as ações podem fazer uma pausa, assim como muitos setores que dispararam com os rendimentos sobrecomprados, como commodities e bancos. Mas, no atual estágio, acreditamos que a alta dos rendimentos é mais uma confirmação do bull market nas ações do que uma ameaça, portanto as correções continuarão representando uma oportunidade de compra”.
Resumo
As ações de crescimento podem registrar correções mais fortes com a alta dos rendimentos dos títulos a partir das mínimas históricas.
Mas isso não deve ser encarado como uma ameaça às grandes ações de tecnologia que, em nossa visão, ainda estão em bull market. Seus fundamentos continuam intactos.
A evidência disso veio logo após a temporada de balanços que acaba de se encerrar, em que 95% de empresas de tecnologia superaram as estimativas de lucro e 88% ultrapassaram as projeções de receita.