O principal objetivo da criação do Bitcoin (BTC) foi estabelecer uma moeda descentralizada e digital que pudesse funcionar sem a necessidade de um banco central ou intermediário, permitindo transações seguras, anônimas e eficientes. O resultado é uma moeda resistente à censura, não inflacionária e com um suprimento limitado, como uma forma de mitigar as práticas tradicionais de política monetária, que cada vez mais se mostram falhas.
Por sua natureza oposta, em essência, ao sistema fiduciário, muitos acabam associando a degradação desse sistema a uma performance de preço positiva do BTC em relação ao dólar. Acontece que, historicamente, os ciclos de mercado do Bitcoin vêm apresentando uma correlação elevada com os ciclos macroeconômicos das principais economias mundiais, como os Estados Unidos. E o motivo é simples: de fato, o Bitcoin veio para substituir o sistema fiduciário, porém o seu preço é resultado do comportamento de oferta e demanda dos investidores, que estão imersos na economia global e, portanto, não são imunes às suas flutuações.
Um dos indicadores que possui mais correlação com o BTC é o nível de liquidez da economia americana, que pode ser medido pela M2. A M2 é uma medida do suprimento monetário que inclui dinheiro e ativos equivalentes a dinheiro (conhecidos como M1), bem como depósitos a prazo, fundos do mercado monetário e outros ativos líquidos. Quando a economia dos EUA tem alta liquidez, como foi observado em vários momentos da última década, os investidores têm mais capital disponível para colocar em ativos como o BTC, resultando em um mercado mais aquecido. No gráfico abaixo conseguimos observar essa correlação, olhando para a variação anual das duas métricas.
Com isso, podemos concluir que o fim do aperto monetário em vigor nos Estados Unidos é um dos drivers mais importantes para uma alta mais expressiva do BTC. O principal balizador dessa política monetária restritiva é a inflação, que deve voltar para a casa dos 2% a.a. para se enquadrar na meta do Federal Reserve (FED). A boa notícia é que nos últimos meses observamos uma queda significativa do índice de preço ao consumidor dos Estados Unidos (CPI), que se encontra em 3%, indicando que os esforços do FED estão surtindo efeito na economia.
Com a desaceleração da atividade econômica, o mercado está precificando que o Federal Open Market Committee (FOMC) iniciará o movimento de pivot dos juros por volta do segundo trimestre de 2024, momento em que a liquidez pode começar a voltar para o mercado. Esse é um gatilho, que somado com outros eventos micro, pode destravar ainda mais o preço do BTC.