O QUE SE VÊ
Com os dados até março deste ano, a participação de estrangeiros nos títulos do Tesouro Americano segue em alta, ou seja, ainda não há sinais de aversão a ativos do país. Vale notar que a China tem reduzido sua participação ao longo dos últimos anos e acabou de ser superada pelo Reino Unido, que agora ocupa o segundo lugar. Com a guerra comercial, vai ser importante monitorar a evolução dos detentores nos próximos meses.
O Japão segue como o maior detentor de Treasuries. Essa semana, vimos um estresse no mercado de bonds japoneses com o primeiro-ministro Ishiba argumentando que a situação do país é pior que a da Grécia.
O QUE NÃO SE VÊ
A China esta diminuindo sua participação em títulos americanos, mas tem aumentado a participação em títulos de agências. Isso fica mais claro quando se percebe que suas reservas cambiais permanecem praticamente nos mesmos patamares. Outro ponto interessante, é que a China via SAFE (State Administration of Foreign Exchange (SAFE) é a agência regulatória estatal da China responsável por gerenciar as atividades do mercado de câmbio estrangeiro e administrar as reservas cambiais do país) tem preferido custodiar os treasuries na Bélgica e Luxemburgo via Euroclear e Clearstream como estratégia de gestão discreta A SAFE canaliza suas reservas através desses hubs para manter um certo nível de discrição em suas operações, evitando exposição direta de suas estratégias de investimento. Em um cenário de guerra tarifária, isso ajuda a reduzir especulações sobre suas movimentações no mercado financeiro global.
Nessa situação, é natural que haja um contágio para as Treasuries com os japoneses vendendo e repatriando para cobrir as perdas. Além disso, temos uma situação fiscal desafiadora nos EUA que torna o ambiente mais negativo para títulos longos americanos.
Análistas como Brad W. Setser (CFR) indicam que a participação do dólar nas reservas chinesas pode ter se mantido relativamente constante, próxima a 60%, desde meados da década de 2010. A diversificação observada ocorreria mais pela alocação de novos fluxos de reservas e pelo redirecionamento de ativos para outros fins (como o financiamento da Iniciativa Cinturão e Rota, muitas vezes também em dólares) do que por uma venda líquida expressiva de ativos dolarizados já existentes.