O mercado futuro de açúcar em NY fez novas baixas nesta semana, negociando abaixo dos 11 centavos de dólar por libra-peso. Os fundos não-indexados batem novo recorde e agora estão vendidos a descoberto quase 190,000 contratos, um verdadeiro disparate dado os fundamentos do açúcar e, em condições normais – como disse um analista de mercado da Big Apple (NASDAQ:AAPL) – seria um indicativo altista, mas a coisa não é bem assim.
O volume de negócios na bolsa tem sido extraordinário, mas a maior parcela desse volume refere-se aos spreads. No mercado físico de açúcar, em especial no Centro-Sul, surpreende o volume de wash-outs que tem ocorrido. Como se sabe, trata-se de operação de cancelamento de contratos de entrega física de açúcar, acordado entre as partes – usina e trading – em que a primeira concorda em pagar uma penalidade pecuniária cujo valor é menor do que aquele que ela vai obter por redirecionar sua cana para a produção de etanol.
Outro analista de mercado também desabafou durante a semana: “para o diabo com os fundamentos, estamos no meio de uma grande operação em que o que conta são os algoritmos e robôs, que nada entendem de açúcar ou de fundamentos”. O choro é livre. É bom lembrar que algoritmos e robôs também levaram o açúcar, em passado recente, a patamares de preço que superavam em mais de 80% o custo de produção. Claro que nessa hora ninguém os amaldiçoou.
Os preços do açúcar em NY, cujo vencimento outubro/2019 encerrou a semana cotado a 11,01 centavos de dólar por libra-peso, não remuneram ¾ das usinas brasileiras, cujo custo de produção FOB Santos é pelo menos 100 pontos acima desse valor. Não faz o menor sentido continuar a produzir açúcar nesses níveis. A bolha (a enorme posição vendida dos fundos) vai estourar, resta saber quando e com qual magnitude.
Menos hedge de açúcar será demandado contra o próximo vencimento em março devido ao volume de wash-outs, menos açúcar será produzido e consequentemente também menos vendas de futuros serão necessárias. Para os fundos, que estão comprados energia e vendidos softs, a semana foi excelente pois o spread entre as duas foi em média acima de 5%. Qual a reação deles se algo mudar no cenário?
Os fundos tem alguma pressa de sair da enorme posição vendida em açúcar? Nenhuma, pois a posição long-short que possuem lhes é muito favorável (no acumulado do ano, mais de 33%, ou seja, açúcar que eles estão vendidos caiu 9% e petróleo, que eles estão comprados, subiu 25%).
Quanto mais o açúcar dá sinal de fraqueza, mais eles vendem. Os algoritmos e seus robôs não sabem distinguir um pé de cana de um pinguim, e nem precisam. Na outra ponta da negociação tem um trader, um gestor de risco, um CEO que arranca os cabelos para entender o que está acontecendo e tem que se explicar para o Conselho de Administração. A batalha é injusta e inglória.
Isso vai mudar. Os fundamentos sempre se sobressaem, mas pode ser que a gente morra antes disso acontecer. Do lado positivo, temos uma substancial redução da oferta de açúcar por parte do Brasil, o maior enxugamento de disponibilidade de açúcar brasileiro para o mercado mundial, provavelmente em uma década. Também temos o crescimento vigoroso do consumo de etanol que mantem preços remuneradores para as usinas produtoras. Os fundos possuem uma posição vendida – em nossa opinião – preocupante e vulnerável, mas eles não se importam. As perspectivas de produção e rendimento para a próxima safra – embora seja muito cedo ainda – nada tem de animadoras. As volatilidades estão baixas colocando em risco aqueles que venderam calls (opções de compra) a descoberto.
Do lado negativo, as mesmas questões de sempre. Índia com boa perspectiva de produção para a próxima safra, excesso de açúcar no mundo, uma posição em aberto no vencimento outubro de 2019 que pode indicar novamente uma entrega volumosa na expiração do contrato, deteriorando ainda mais a percepção já sombria que se tem do mercado físico.
Qual lado vai ganhar esse braço de ferro?