Sobram motivos para animar os mercados domésticos nesta segunda-feira, por ora. A começar pelo crescimento acima do esperado do Produto Interno Bruto (PIB) da China, em 6,9% no segundo trimestre deste ano, o que renova o apetite por ativos de risco no exterior. Internamente, o recesso parlamentar até o fim do mês tende a dar uma trégua no noticiário político, ao passo que o cenário benigno da inflação deve manter o ritmo de corte de juros.
Todos os indicadores econômicos chineses divulgados na madrugada superaram as estimativas. A demanda global e doméstica garantiu uma expansão do PIB maior que a alta de 6,8% esperada e repetiu a taxa de crescimento verificada nos três primeiros meses deste ano, reforçando os sinais de estabilização da segunda maior economia do mundo, capaz de cumprir a meta de crescer 6,5% ou mais no acumulado de 2017.
Os números de junho da produção industrial (+7,6%) e das vendas no varejo (+11%) mostram o estímulo da atividade, com as exportações ajudando a manter a economia nos trilhos e com os efeitos do esfriamento do mercado imobiliário ainda não sendo sentidos. Tal desempenho realça a resiliência da economia chinesa, apesar das decisões de Pequim em apertar as condições de regulação para conter empréstimos excessivos e especulativos.
Essas preocupações quanto à desaceleração do crescimento da oferta monetária pesaram na Bolsa de Xangai, que fechou em queda de 1,4%, mas longe das mínimas da sessão. Nas demais praças asiáticas, porém, prevaleceu o sinal positivo. No Ocidente, as atenções dos investidores estão mais voltadas à temporada de balanços, que também deve superar as previsões e registrar a melhor performance das empresas desde 2011.
As principais bolsas europeias não exibem uma direção definida, ao passo que os índices futuros das bolsas de Nova York estão no azul. As ações ligadas às commodities são beneficiadas pelos dados chineses, diante do avanço do barril de petróleo para além de US$ 45 e dos ganhos dos metais básicos. O minério de ferro era negociado em alta na bolsa chinesa de Dalian, assim como o alumínio e cobre cotados em Londres. Entre as moedas, o dólar mede forças ante os rivais de países desenvolvidos e emergentes.
Esse desempenho no exterior deve embalar os negócios locais, ainda mais após o governo acumular vitórias na última semana de trabalhos no Congresso. A trégua no noticiário político deve durar até o fim do mês – ou até o surgimento de algum fato novo. Com a votação do parecer a favor do presidente Michel Temer no plenário da Câmara apenas em agosto, a expectativa fica para uma eventual próxima denúncia da Procuradoria-Geral da República (PGR) antes da decisão dos deputados sobre a aceitação da primeira.
Também podem vazar as delações premiadas do doleiro Lúcio Funaro e do deputado cassado Eduardo Cunha, que estariam no forno. O fato é que a maré para o presidente Michel Temer virou e aquele que era visto com os dias contados no Palácio do Planalto garantiu certa sobrevida no cargo, ficando ainda a dúvida sobre a continuidade até o fim do mandato. Mas após vencer diversas batalhas, crescem as chances para a permanência dele. Os próximos episódios podem definir essa possibilidade.
O clima mais ameno na política local abre espaço para as atenções dos investidores se voltarem aos indicadores econômicos. A semana traz como destaque a prévia deste mês da inflação oficial ao consumidor brasileiro, medida pelo IPCA-15, na quinta-feira.
O indicador deve consolidar as apostas de manutenção do ritmo de queda da taxa básica (Selic) em julho em um ponto percentual (pp), repetindo a dose adotada pelo Banco Central em abril e em maio. Essa previsão ganhou força após a aprovação da reforma trabalhista e recebe ainda o amparo do cenário de inflação e atividade fraca.
Ainda no calendário doméstico, saem os números sobre o setor externo (sexta-feira). Também são esperados os dados sobre a arrecadação federal e a criação de postos formais de trabalho (Caged), ambos referentes ao mês passado e sem data definida para divulgação. Hoje, os destaques ficam com o primeiro IGP do mês, o IGP-10 (8h), a pesquisa semanal do BC junto ao mercado financeiro (8h25) e os dados semanais da balança comercial (15h).
No exterior, o calendário econômico está carregado. Além dos dados da China conhecidos hoje, merecem atenção as reuniões de política monetária dos BCs da zona do euro (BCE) e do Japão (BoJ), ambas na quinta-feira. Os investidores estarão atentos aos sinais de eventuais retiradas de estímulo, embora na Ásia a estratégia de juro negativo deve se manter.
Entre os indicadores, destaque para a inflação ao consumidor na região da moeda única (amanhã). Nos Estados Unidos, a semana reserva poucos dados e também marca o período que antecede a reunião do Federal Reserve. Mas depois do tom mais suave (“dovish”) na fala da presidente do Fed, Janet Yellen, as chances de novas altas na taxa de juros norte-americano reduziram para mais uma neste ano e outras duas no ano que vem, no máximo.