A situação econômica global tem se caracterizado por um ambiente de incertezas e um sentimento de cautela quanto aos desdobramentos das negociações entre os Estados Unidos e os demais países. Dentre estes, destaca-se a China, sobre a qual estabeleceu-se tarifas de até 145%, obtendo como resposta, uma tarifa retaliatória de 125%.
O Fundo Monetário Internacional (FMI) reduziu a projeção de crescimento global para 2,8% em 2025, uma queda em relação aos 3,3% previstos anteriormente. Segundo o próprio FMI, essa revisão se deve às incertezas provocadas pelas tarifas impostas pelos Estados Unidos. A economia americana também teve sua projeção de crescimento revisada para 1.8% apenas em 2025.
O sentimento geral dos investidores, assim como o consenso do mercado, gira em torno dos rumos que essas negociações tomarão — especialmente em relação aos valores efetivos das tarifas e à eventual reciprocidade por parte dos demais países diante de qualquer decisão final adotada pelos Estados Unidos.
Desde o começo de abril os investidores experimentam oscilações no mercado devido a divergência entre falas da Casa Branca e respectivos impactos sobre o mercado, com reações adversas aos próximos passos das negociações.
Câmbio
Um movimento interessante que temos observado é a crescente busca dos investidores por ativos e moedas consideradas mais seguras, o que tem impulsionado a valorização do ouro e contribuído para o enfraquecimento do dólar americano em relação às principais moedas globais.
O índice DXY vem registrando perdas recentes, sinalizando uma percepção generalizada de cautela do mercado em relação aos Estados Unidos, historicamente tido como porto seguro, porém desafiado neste posto histórico.
As críticas mais severas de Donald Trump ao presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, acenderam um sinal de alerta quanto à independência do Banco Central dos Estados Unidos. Trump tem exigido cortes imediatos na taxa de juros com o objetivo de acelerar a economia, responsabilizando a política monetária atual como a principal causa da desaceleração econômica no país.
O tom das críticas intensificou-se a tal ponto que surgiram rumores sobre uma possível demissão de Powell no dia 17 de abril — discurso posteriormente revertido alguns dias depois, em 22 de abril, pelo próprio Trump. Esses episódios geraram tensões nos mercados, que reagiram com quedas abruptas, seguidas por leves recuperações, porém sem grande otimismo. Os desencontros de informações têm gerado ruídos e instabilidade, afetando negativamente a confiança dos investidores.
Os impactos sobre o Brasil
Ainda observamos uma posição favorável ao Brasil em relação aos desdobramentos das negociações tarifarias entre Estados Unidos e o mundo. Como sabemos, até o momento o Brasil se encontra na lista de tarifas “básicas’, com a taxa de 10% sobre seus produtos exportados aos EUA. Porém, como já sabido, os valores impostos a Europa e principalmente China tornam o Brasil atrativo para uma reordenação de fluxos globais de consumo, principalmente no campo das commodities.
Vemos que o dólar vem sendo cotado na casa de R$ 5.726, menor valor dos últimos meses, seguindo o cenário global de desvalorização da moeda americana frente as demais economias, ainda que mais timidamente nos países emergentes, porém seguindo a mesma tendência.
Essa tendência pode afetar a competitividade das exportações brasileiras, já que o produto brasileiro se encarece para o mercado americano, mas, o ganho de poder de compra das demais moedas pode aumentar sua procura por outros países. Assim, assumindo que as tarifas prevalecerão, pode-se esperar que grandes potencias, como a China, devem migrar seu fluxo de consumo dos Estados Unidos para outras origens, como o Brasil, favorecendo sua balança comercial e agindo como suporte ao fortalecimento de sua demanda.
É esperado que esta tendência ocorra em mercados altamente taxados cujos Estados Unidos seja uma origem relevante e sofra retaliações, por exemplo para grãos. Já aqueles dos quais o país norte americano é demandante líquido, a expectativa se torna mais baixista a medida que inflação e desaceleração econômica podem restringir o consumo destes bens, especialmente sendo eles não essenciais.