Apesar do absoluto sucesso desde seu lançamento, os especialistas sempre foram unânimes em afirmar que a facilidade do uso no comércio do cartão físico ainda é uma barreira a ser ultrapassada para o Pix e assim alcançar patamares ainda maiores na preferência do brasileiro. A boa notícia é que, com a publicação das Resoluções 406 e 407 no início de agosto, o Banco Central não só apontou o caminho para o alcance deste objetivo, mas ainda de quebra projetou uma redução de custos para os estabelecimentos abrindo uma oportunidade de ampliação de negócios para as fintechs através da figura do Iniciador de Transação de Pagamento (ITP).
Todos os consumidores que já tentaram pagar uma compra numa loja física com o Pix já devem ter comparado essa alternativa com a experiência de fazer isso com o cartão por aproximação, bastando apenas encostar em uma maquininha e pronto. Já para o pagamento instantâneo (Pix) exige-se que abra o aplicativo do banco, digite a chave do recebedor ou que seja necessária a leitura de um QR Code e inclua as senhas ou checagens de aprovação.
Com as novas resoluções o órgão regulador nacional apresenta as condições necessárias para que as instituições que trabalham com o Pix possam aplicar as mesmas regras de liquidação, ou seja, utilizando a tecnologia NFC (near-field communication) que permite o pagamento por aproximação. Com isso, além de igualar a facilidade de uso do Pix com os cartões, se cria uma importante vantagem para o recebedor que é a desintermediação.
Ao receber por meio do cartão, as lojas e prestadores de serviço são obrigadas a se relacionar com diversos agentes, como a figura do adquirente, que por sua vez se relaciona com uma bandeira de aceitação e com os bancos liquidantes. Todos estes precisam ser remunerados pela prestação do serviço e isso gera custos que são repassados aos estabelecimentos e consequentemente aos consumidores.
Outro ponto a se destacar é que no modelo atual o estabelecimento terá o dinheiro disponível em sua conta somente no dia seguinte, ou seja, em D+1 (Dia da Transação mais 1 para liquidação). Com o Pix, a transação ocorre diretamente entre o comprador e o vendedor, sem intermediários e com liquidação instantânea em suas respectivas contas.
Mas atenção! Nem tudo é assim tão simples!
Apesar de parecer que tudo está resolvido para os comerciantes, ainda resta a questão da conciliação. Ao receber diretamente do consumidor, os estabelecimentos passam a ter dificuldade em gerenciar os dados gerados com o volume de transações, o que traz um grande risco operacional e de controle de fluxo de caixa, sem citar a potencialização de fraudes.
Afinal, como saber quem pagou o que? Se foi parcelado ou à vista e outras informações.
É aí que surgem as fintechs que além de oferecer soluções para mitigar os riscos acima destacados ainda poderão se posicionar na figura do Iniciador de Transação de Pagamento (ITP). Com investimento em inovação e tecnologia de ponta, elas podem desenvolver soluções compatíveis às exigências do Banco Central e se credenciarem para obter a licença e operar nesta modalidade de negócio. É natural que as adquirentes também buscarão este caminho e algumas certamente poderão ofertar modelos integrados que trarão grandes vantagens para os estabelecimentos comerciais, principalmente para as grandes redes de varejo.
Mas a novidade é que também é natural que elas passem a enfrentar uma concorrência bastante agressiva das fintechs que estiverem atentas a esta oportunidade.
Com tudo correndo nesta direção teremos o chamado ciclo virtuoso onde todos ganham. O consumidor com a facilidade ainda maior de usar o Pix, os estabelecimentos com a redução de custos nas taxas e liquidação mais rápida do dinheiro em sua conta e o ecossistema de pagamentos se tornará cada vez mais ágil e moderno graças à concorrência entre fintechs e adquirentes que terão como foco o fomento à inovação para obter diferenciação de mercado e a melhora da experiência do cliente como alvo cada vez mais destacado.
Cabe destacar que estamos somente no início de muitas outras mudanças que estão por vir pois ainda não chegamos no DREX, nas Criptomoedas, Tokenização e diversas iniciativas que estão no radar do Banco Central, CVM e obviamente de fintechs e bancos.