Este artigo foi escrito exclusivamente para o Investing.com. Publicado originalmente em inglês em 21/05/2021
A última ata do Fed revelou que o afrouxo monetário nos EUA pode acabar mais cedo do que muitos esperam. Isso fez com que as taxas tanto de títulos nominais quanto protegidos pela inflação (TIPS) tivessem forte alta.
Se, de fato, a economia americana está se recuperando, como tudo indica, é possível que a taxa de 10 anos volte para 2,35% nos próximos meses. Isso seria um grande problema para as ações, já que os múltiplos P/L provavelmente precisariam se contrair, o que provocaria uma acentuada correção nos preços dos papéis.
Além disso, o mercado pode ficar mais avesso ao risco, com ativos como bitcoin, madeira serrada, cobre, e petróleo começando a mostrar sinais de fraqueza. Estamos falando de possíveis reversões após movimentos parabólicos de alta nos últimos seis meses. O que também não seria nada bom para as ações.
Piora no sentimento
E não para por aí, pois parte do risco tomado no início deste ano, quando as ações mais vendidas a descoberto ficaram voláteis, já foi desfeita, bem antes dos declínios das commodities citadas. O mais preocupante, contudo, é a correlação próxima dessas ações mais vendidas com o índice Russell 2000. São sinais problemáticos de que o mesmo pode ocorrer com os mercados mais amplos em seguida. De fato, muitas das ações mais vendidas a descoberto dispararam no início do ano, ajudando na alta do Russell 2000, mas este índice parece agora estar encurralado.
Os papéis mais vendidos a descoberto no índice Refinitiv começaram a recuar em meados de fevereiro e já se desvalorizaram mais de 30%. Isso fez com que o Russell 2000 estancasse completamente após esse grupo liderar a alta do índice a partir de novembro.
Mudança na política monetária
Esse declínio parece ser a mudança mais patente no sentimento de risco dos mercados, além do colapso do bitcoin. Isso significa que os investidores podem ficar ainda mais sensíveis a mudanças na política monetária. Principalmente diante dos sinais emitidos pela ata do Fed de que o fim do afrouxo monetário pode ocorrer mais cedo do que o previsto. A expectativa do mercado de títulos é que haja alguma mudança, em vista da resposta nos rendimentos (yields). Os títulos do tesouro americano protegidos contra a inflação, os chamados TIPS, viram suas taxas subir forte, especialmente no TIP de 5 anos, que registrou uma alta de 10 pontos-base após a divulgação da ata.
Juros mais altos
Se as taxas dos TIPS continuarem subindo, não seria demais pensar que as taxas nominais podem seguir na mesma toada, sobretudo se as expectativas de inflação do mercado continuarem inalteradas. Atualmente, a expectativa de inflação neutra de 10 anos está em cerca de 2,45%. Com o tempo, se os TIPS de 10 anos subirem, retornando a 0% ante os atuais -80 pb, o resultado seria uma alta na taxa de 10 anos bem acima de 2%.
Sem dúvida, isso seria um grande problema para os mercados acionários, haja vista que os yields reais e nominais maiores pressionariam os múltiplos P/L do S&P 500 com o tempo. Além disso, as ações com os maiores múltiplos seriam as mais atingidas. Essa tendência já mostrou as caras no Nasdaq e em muitas das ações de crescimento. O fundo NASDAQ 100 (QQQ) já caiu mais de 4% desde o fim de abril, mas muitas ações que compõem sua carteira registram quedas ainda maiores.
Se houver uma mudança no sentimento de risco e os investidores ficarem preocupados demais com uma reversão na política monetária do Fed, o sentimento deve se deteriorar em todo o resto do mercado. O pessimismo geraria a redução dos múltiplos que, por sua vez, fariam os níveis das ações baixarem. Adicione isso aos juros mais elevados, e os próximos meses têm tudo para ser extremamente instáveis.