A economia real brasileira continua a mesma dantes, porém, inegavelmente, há uma dose maior de otimismo em perspectiva ancorada em convicções sobre avanços consistentes da atividade econômica do país, que seriam consequentes da aguardada consolidação de reformas estruturais fundamentais, com ênfase a previdenciária e tributária, que pode, em princípio, aliviar as pressões da crise fiscal presente.
Contudo ressalta que, a realidade presente ainda não corresponde aos anseios, e, inquestionavelmente, há uma gama de incertezas sobre a viabilização na forma que será proposta pelo governo das mencionadas reformas, sendo mesmo possível admitir-se que será dispendido tempo muito maior do que o desejado, visto que não se podem menosprezar as protelatórias pressões contrárias corporativistas e ideológicas.
Já há quem considere que o alcance de resultados efetivos em torno das reformas por parte do governo acabe perdurando por todo o 1º semestre deste ano, sem que haja a prévia convicção de que o proposto seja o aprovado.
O tempo e as incertezas sugerem postura de precaução e sensatez, e ao que tudo indica, está sendo assumida pelos investidores estrangeiros em relação ao Brasil, que assim retraem seus investimentos no país.
Esta é a leitura mais objetiva que se pode fazer ao constatar-se um fluxo cambial financeiro bastante fragilizado neste início do ano, embora o otimismo presente e enunciado pelas instituições financeiras seja forte, e mais, as decisões e novo alinhamento do FED americano em torno do tratamento do juro americano sejam estimulantes pró -mercados emergentes, não foram, até o momento, capazes de alterar a postura reticente dos investidores externos.
Todos sabem que o Brasil já não é mais a “estrela” isolada entre os emergentes, hoje tem compartilhadas as preferências com outras economias emergentes em situação atraente, e, ainda tem na própria economia americana, que pode reter parte dos fluxos para os emergentes pela oportunidade de momento e dinâmica da sua atividade econômica.
Então, observamos que há riscos de frustração aos anseios e projeções em torno da visão prospectiva do Brasil, que podem estar sendo desconsiderados.
Um risco imediato que contrai o apetite dos investidores estrangeiros é a incerteza quanto ao absoluto sucesso das reformas que forem propostas e ao tempo que os embates e debates consumirão até que haja visão consolidada a respeito.
Outro risco, mais adiante quando já houver o fato consumado em torno das formas tornadas possíveis das reformas e motivação para os investidores estrangeiros direcionarem recursos para o Brasil, poderá ocorrer se os agentes nacionais precipitarem uma elevação demasiada na B3 sem fundamentos consolidados, mas tão somente nas expectativas, e antes dos investidores estrangeiros decidirem canalizar investimentos para o nosso mercado acionário, e o dólar não recuperar preço compatível com o fraco fluxo cambial, até que o fluxo se recomponha, certamente o Brasil pode vir a amargar um forte desapontamento face às projeções de B3 com 125 mil pontos e dólar em torno de R$ 3,30, como consequência de inesperado desinteresse dos investidores estrangeiros.
Por isso é temerário o anseio de conduzir motivando com projeções o viés de alta da B3 de forma consistente, ainda que o volume de negócios possa perder volume, pois pode provocar o irrealismo dos preços que poderá ser o grande contingenciador do apetite dos investidores estrangeiros.
Se isto ocorrer, naturalmente o fluxo cambial de recursos financeiros perdurará certamente desapontador.
Esta é uma abordagem cética a respeito de tudo que se vê no momento em que predominam fartas projeções e muito otimismo, sem considerar com rigor o fato que há concorrência para o Brasil no mercado global.
O dólar pelo comportamento dos últimos dias denota ter ganho “fôlego” frente ao real, após a forte depreciação sem fundamentos ancorados em fluxo, mas ainda está com capacidade de recuperação de preço muito baixa e contida pelo mercado. Contudo, o fato dos estrangeiros terem aumentado recentemente suas posições “compradas” no mercado futuro em mais US$ 8,2 Bi, deixa patente a convicção com sinal forte de que o preço do dólar, no entendimento deles, voltará a sofrer apreciação frente ao real.
O fluxo cambial persiste muito fragilizado para o Brasil, decepcionante mesmo ante tantas projeções otimistas, mantendo os bancos com elevadas posições vendidas no mercado a vista da ordem de US$ 26,0 Bi ancoradas em pouco mais de US$ 12,0 Bi de linhas de financiamento em moeda estrangeira com recompra.
Parece que o BC está aguardando, assim como está todo o mercado, que os investidores estrangeiros cheguem, mas nada sinaliza que isto ocorrerá tão proximamente.
Enfim, o otimismo predominante é muito bom, mas é preciso dosar a postura de euforia para mitigar erros que podem se tornar relevantes.
Continuamos com a convicção de que o preço da moeda americana sofrerá apreciação frente ao real, até que mude o cenário em torno do fluxo cambial, realcançando preço entre R$ 3,70 a R$ 3,75.
Acreditamos que ainda haja uma longa trajetória para que os anseios colocados nas projeções em torno do Brasil ganhem efetivas condições de sustentabilidade e viabilidade.