Terminada a Copa do Mundo e superada a ressaca da vergonhosa derrota do Brasil contra a Alemanha (7x1) no Mineirão e 3x0 para a Holanda é importante um balanço deste grande evento.
Sem dúvida, a Copa foi um sucesso esportivo, apesar dos crônicos problemas de infra-estrutura, como a deficiente mobilidade urbana nas cidades (transporte público e aeroportos incompletos) e alguns problemas localizados. Podemos então separar a Copa em alguns campos de análise. Pelo lado do entusiasmo e hospitalidade dos brasileiros (e dos torcedores como um todo, principalmente, os latino americanos), a Copa acabou como um grande sucesso. No campo desportivo, também não há como negar, com jogos eletrizantes e muitos gols. Não podemos deixar também de saldar a organização do evento, mesmo com suas improvisações, como os feriados nos dias dos jogos nas cidades-sedes, devido aos problemas de locomoção. Para nós brasileiros, no entanto, a grande decepção acabou sendo a atuação da nossa seleção, sempre tensa, insegura, com a responsabilidade de ter que ganhar em casa, além da excessiva dependência dos lampejos do Neymar. Na ausência dele, tudo desandou.
O que também decepcionou muito foram os preparativos do evento, com vários estádios superfaturados, infraestrutura urbana incompleta, casos de ingressos vendidos por cambistas, até dentro da FIFA, sem esquecer o clima de beligerância política, com as eleições deste ano.
Destaques positivos. Cordialidade e hospitalidade do nosso povo. Esta Copa só foi um sucesso pela participação da sociedade, recebendo, da melhor forma possível, os torcedores dos 31 países. Os jogos, bem jogados e emocionantes, e o recorde de gols também devem ser lembrados.
Destaques negativos. Sem dúvida, para nós, a humilhante derrota de 7x1 e depois, de 3x0 para os holandeses. Outro destaque negativo foram os preparativos da Copa, com estádios superfaturados (em muitos casos construídos em cidades-sedes sem tradição, se transformando em “elefantes brancos”), obras atrasadas, infraestrutura urbana incompleta, dentre tantos. Os governantes das cidades-sedes tiveram que instituir feriados nos dias de jogos, o que afetou as economias locais. Comércio e produção industrial pararam (ou funcionaram parcialmente) nestes dias, o que deve se refletir nos indicadores de junho e julho.
Efeitos da derrota sobre o quadro eleitoral. Interessante que a bolsa de valores refletiu esta derrota do Brasil na terça-feira com alta na quinta-feira (+1,79%). Na quarta-feira, com o feriado em São Paulo (Revolução Constitucionalista de 32), os contratos de ADRs da Petrobras e de outras empresas, em Nova York, registraram boa alta. Para o mercado, esta derrota pode trazer algum desgaste à candidatura Dilma. Acreditamos, no entanto, que este deve se limitar ao curto prazo. No longo, nos próximos meses, deve se diluir, como tantas vezes aconteceu nas copas anteriores. Em 2002, o Brasil foi campeão no Japão/Coreia, mas o vencedor das eleições foi o oposicionista Lula; em 2006, perdemos na Alemanha e Lula foi reeleito; em 2010, mesmo com a derrota do Brasil na África do Sul, a candidata do governo foi eleita.
Efeitos da Copa sobre a economia. Difícil mensurar os efeitos neste momento. O maior movimento de turistas, com certeza, deve gerar um ganho considerável para os vários segmentos da economia ligados ao turismo, como hotéis, restaurantes, companhias aéreas, etc. Já as obras de infraestrutura devem se refletir pouco na taxa de investimento do País, ainda em patamar baixo, próxima a 18% do PIB. Isto talvez se explique pelo atraso das obras, diluindo a alocação de recursos. Por outro lado, é importante estar atento ao “efeito multiplicador” sobre os vários setores da economia, além da possibilidade de atrair novos negócios (investimentos), diante da boa visibilidade que a Copa deve trazer ao País.
Enfim, a Copa deve servir de catalisadora para potenciais investimentos no país, reforçando a idéia do “efeito multiplicador” sobre a economia. Aguardemos agora as Olimpíadas de 2016. Em Londres, em 2012, esta gerou um ganho de 1 ponto percentual sobre o PIB do Reino Unido naquele ano.
Concluindo. Como dizem no velho ditado popular, “o sucesso não ensina nada, só infla o ego e subestima os limites. É nos fracassos que se aprendem as lições que levam a conquistas maiores”. Esperamos que este desastre da “seleção canarinho” sirva de lição e traga ensinamentos a todos. A necessidade de mudanças na estrutura do principal esporte do país é premente e não dá mais para adiar, a começar pela saída dos que mandam na CBF (Confederação Brasileira de Futebol). Por outro lado, não dá para negar. No terreno esportivo e no entusiasmo do povo, realizamos uma das melhores copas da história.