A volatilidade é uma característica inerente ao mercado de criptomoedas. No entanto, há momentos em que o medo parece desproporcional aos acontecimentos reais. É preciso buscar e trazer racionalidade, principalmente no chamado bull market. Atualmente, o Bitcoin passou por correções que não ultrapassaram 30%, mas o Fear and Greed Index (Índice de Medo e Ganância), que mede o sentimento dos investidores, chegou ao patamar crítico de 10—um nível que indica medo extremo.
Para contextualizar, níveis tão baixos desse índice foram registrados apenas em momentos de grande crise, como:
Março de 2020 – Pânico no mercado global devido à pandemia de COVID-19, levando a uma queda de mais de 50% no preço do Bitcoin em poucos dias.
Maio de 2021 – Banimento da mineração de Bitcoin na China, impactando entre 65% e 75% da mineração mundial e forçando uma migração em massa dos mineradores para outros países, como os Estados Unidos e o Cazaquistão.
Maio de 2022 – Colapso do ecossistema Terra Luna, que causou perdas bilionárias e afetou diretamente a confiança no setor. O índice chegou a 6 ou 7 nesse período.
Novembro de 2022 – Falência da FTX, uma das três maiores corretoras de criptomoedas da época, resultando na liquidação de bilhões de dólares em ativos digitais.
Olhando para esses eventos, um padrão fica claro: em todas essas ocasiões, o medo extremo foi provocado por catalizadores significativos e concretos. O que torna o momento atual tão peculiar é a ausência de um evento catastrófico de magnitude semelhante.
Olhando para o contexto macroeconômico e para o histórico do Bitcoin, algumas explicações podem justificar esse pânico exagerado:
Impacto das políticas monetárias dos EUA – No último ciclo de alta, o Federal Reserve adotou juros próximos a 0% e injetou trilhões de dólares na economia para conter os efeitos da pandemia. Isso levou os investidores a assumirem mais riscos, inflando os preços dos ativos. Agora, com a inflação ainda sendo uma preocupação e os juros mais altos, o ambiente mudou, criando uma maior aversão ao risco.
Efeito do último ciclo de alta – Muitos investidores que entraram no mercado durante a última bull run se acostumaram com valorizações rápidas e pouca volatilidade. Agora, diante de correções mais agressivas, o medo domina.
Narrativa de incerteza no curto prazo – Grandes players do mercado têm acesso a mais dados e estratégias sofisticadas de manipulação. O medo extremo pode estar sendo amplificado artificialmente para que investidores institucionais comprem a preços mais baixos.
Recuperação do mercado: o que os dados mostram?
Se olharmos para os eventos anteriores em que o Fear and Greed Index atingiu níveis semelhantes ou ainda mais baixos, veremos que a recuperação não apenas ocorreu, como foi relativamente rápida:
Crash da COVID-19 (2020): recuperação do Bitcoin para níveis anteriores em cerca de dois meses.
Banimento da mineração na China (2021): recuperação completa do mercado cripto em menos de três meses, com o Bitcoin atingindo novas máximas históricas meses depois.
Falência da FTX (2022): embora tenha sido um evento marcante, o Bitcoin saiu dos US$ 15.600 registrados em novembro daquele ano para mais de US$ 30.000 em cerca de três meses.
Colapso da Terra Luna (2022): único evento que gerou um impacto prolongado, pois marcou o início do bear market pós-halving de 2020.
Esses dados mostram que, historicamente, mesmo após eventos extremamente negativos, o mercado tende a se recuperar dentro de poucos meses. E no cenário atual, há ainda mais motivos para acreditar que essa recuperação virá rapidamente.
Diferente dos momentos anteriores de medo extremo, hoje temos uma série de fatores que podem impulsionar o mercado cripto no curto e médio prazo:
Aprovação de ETFs de Bitcoin nos EUA – Em janeiro de 2024, a SEC aprovou os primeiros ETFs à vista de Bitcoin, permitindo que investidores institucionais exponham grandes volumes ao ativo com mais facilidade. Desde então, bilhões de dólares já entraram no mercado por meio desses ETFs.
Próximo halving do Bitcoin (abril de 2024) – Historicamente, o halving reduz a oferta de novos Bitcoins no mercado e tem sido um catalisador para valorizações expressivas no ano seguinte.
Adoção institucional crescente – Empresas como BlackRock (NYSE:BLK) e Fidelity estão cada vez mais envolvidas no setor, trazendo maior credibilidade e liquidez para o mercado.
Avanços regulatórios em grandes economias – Embora a regulação ainda seja um tema controverso, há sinais de que governos e bancos centrais estão se preparando para incorporar as criptomoedas ao sistema financeiro tradicional, o que pode reduzir a incerteza.
Se considerarmos os dados históricos, os ciclos de recuperação e os fatores positivos no horizonte, a conclusão mais lógica é que o medo atual pode estar sendo artificialmente amplificado. Isso não significa que não há riscos—o mercado de criptomoedas sempre foi volátil e imprevisível. Porém, para os investidores que analisam o longo prazo, momentos de pânico extremo historicamente têm sido oportunidades de compra, e não de venda.
E se os grandes investidores estivessem, na verdade, criando esse medo para acumular mais Bitcoin antes do próximo ciclo de valorização?
A resposta só o tempo dirá, mas os dados falam por si: o mercado sempre se recuperou, e desta vez há ainda mais motivos para acreditar que o ciclo se repetirá.