Quando falarmos sobre o Brasil, certamente o nível de incerteza excederá o preço computado dentro das probabilidades de inadimplência e risco país. Os Swaps de Credit Default de cinco anos, hoje, 19 de junho, em 245,60 com aumento de 14,56% no mês, ilustram apenas as negociações em torno dos seguros para possíveis inadimplências. O preço dos CDS negociados e a probabilidade de default não é a mesma do auge de 2020, início da crise gerada pelo COVID, no entanto, está próximo de seus maiores patamares, considerando o período dos últimos cinco anos.
Este fato se relaciona à proximidade das eleições e não somente. Um processo eleitoral que inspira atenção, na ainda sensível e jovem democracia brasileira, dois presidentes controversos e populistas em um país altamente endividado. Atualmente a dívida brasileira atinge 90% do PIB, com uma poupança interna que não alcança 80% da dívida.
O financiamento em capital estrangeiro ou a entrada de capital financeiro externo, já sofre influência com a paridade da taxa de juros, uma vez que os países ao redor do mundo, movimentam a taxa básica, também atinge o estado de crédito e elevado endividamento fiscal. As indicações dadas pelo FED sugerem permanência de tendência hawkish no mercado. Não esqueçamos que o Comitê Federal de Mercado Aberto ( FOMC) elevou a taxa de juros do país em 0,5 ponto percentual, este aumento foi a maior alta dos últimos 22 anos.
Este cenário cria um combo de endividamento, onde uma política fiscal expansionista seria irresponsável. Com o aumento da pobreza, o Brasil retorna ao patamar de 33 milhões de pessoas em estado de miséria e 9 milhões em ameaça alimentar. Existe alta probabilidade de política monetária contracionista em busca do controle da derradeira inflação e compensatório do aumento dos juros reais externo que se agrava pelo alto endividamento e necessidade da entrada de capital.
A inflação brasileira que é medida pelo IPCA, considerando a cesta de bens, de 1 a 40 salários mínimos, intervalo muito maior que a média salarial brasileira, ainda assim se encontra em 12,13%, seguido por um período de elevado desemprego em um país com alta taxa de desigualdade social. Nos EUA impulsionado pela alta liquidez e desemprego em patamares baixos, a inflação 12 meses, medida pelo IPC, alcançou em abril 8,5%. A paridade está clara, com a inflação brasileira superior à americana, o dólar se aprecia em termos reais , ainda que os EUA com a maior inflação dos últimos 41 anos, sobra ao Brasil o aumento da taxa de juros, uma política monetária contracionista, em um país com 11,949 milhões de brasileiros desempregados e 11,1% de acordo com o IBGE ( Índice Brasileiro de Geografia e Estatística) recém divulgados, somados a alta do petróleo e o efeito que potencializa a inflação indireta, é esperado que essa tendência continue.
Eleição
Seja qual resultado eleitoral for, o desafio será grande. O atual presidente conta com diversas investigações, alvo de seis inquéritos, inclusive no TSE ( Tribunal Superior Eleitoral) e 74 pedidos de investigação, já o concorrente condenado e recentemente absolvido por crimes relacionados a enriquecimento ilícito e corrupção. O atual presidente é conhecido mundialmente por suas politicas controversas como defender que a população brasileira de 212,6 milhões de habitantes aplicassem a imunidade de rebanho para combate a COVID, entre outros escândalos, um deles está a Covaxin, no qual especula-se fraude e propina nas compras de vacinas, que teriam sido cancelada as compras por menor preço da Pfizer (NYSE:PFE) para adquirir por maior preço da produção indiana. O caso segue arquivado.
Ainda com a demanda de dólar em alta. O Brasil foi beneficiado por exportações de commodities, tendência que deve arrefecer enquanto o mundo continua em especulação de guerra, isso caso a China reduza a expectativa de crescimento e importação de aço e outros insumos. A bolsa brasileira após queda de 80 pontos se encontra agora otimista fechou no dia 20 de maio em 108.487,88 mil pontos. Ainda que concorrendo com uma pressão de alta na taxa de juros(12,75%). Isso concorre com sua alta de 52 semanas de 131.190,30.
Os impactos do retorno econômico pós pandemia não estão claros e o país pode se beneficiar de negócios mais intensivos e de estar ao menos a oito anos com crescimento do PIB abaixo do seu potencial. Espera-se que qualquer incentivo retire o Brasil da crise que segue longa e com efeitos diretos à população. Tudo indica que a política fiscal, ainda que com alto endividamento, não seguirá como contracionista e buscará incentivar o PIB e o emprego. Um dilema claro é que os gastos públicos no Brasil não são associados à eficiência.
Os impactos da guerra na Ucrânia não são tão agressivos, sendo os EUA um dos maiores parceiros econômicos do Brasil, e também possuindo boas relações com a Rússia. O Brasil fica em uma espécie de "café com leite", onde existem benefícios e malefícios oriundos dos efeitos secundários. E grandes chances de isenção e obtenção de maior espaço para exportações, especialmente junto a Europa, com maior ênfase em produtos como soja e trigo.
A probabilidade de um presidente com melhores relações internacionais, menos polêmicas, pode trazer um aspecto positivo ao cenário externo, aliviando as pressões que hoje são sentidas internamente pela inflação e câmbio.
Conclusão
A incerteza na economia, cobra preços altos. Ainda com polêmicas declaradas em ambos candidatos favoritos ao pleito com diversas possibilidades de reviravoltas, o Brasil ainda se encontra mais otimista do que deveria.
A expectativa de retorno da atividade econômica e de um crescimento ao menos próximo ao PIB potencial brasileiro seria o mais provável?
Esta questão depende do impacto atribuído a diversos fatores, como os efeitos da alta de juros americana, com o arrefecimento ou intensificação. Os impactos da dívida pública, os efeitos da alta taxa de juros e o retorno da economia. Fato é que este longo período de incertezas cobra um alto preço.
O que é desejável com a redução das ameaças de guerra e o retorno de um maior equilíbrio na economia global, somado a políticas internas que reduzam a polarização dos brasileiros, o Brasil deve se beneficiar e ter nova chance de impulso. E a retomada do crescimento, dependerá claramente do ritmo dos investimentos internos e da implantação de uma agenda mais liberal nos próximos anos.
Este artigo se trata apenas de percepções pessoais do autor. Os efeitos e consequências de cada ação econômica gera consequências com efeitos indiretos incertos. Conforme cada fato se materializa deve-se repensar os efeitos primários e secundários e suas consequências, podendo ser diversas.