Você sabe quem foi o autor da icônica frase “O Brasil não é para amadores”? Dizem que foi Tom Jobim, compositor e um dos maiores expoentes da música popular brasileira. Pode ser que outra pessoa, menos conhecida, a tivesse dito antes, mas em geral são os grandes nomes que marcam os dizeres na história.
Parece também que a frase original era “O Brasil não é para principiantes”, mas eu gosto mais da versão com a palavra “amadores”. Até porque eu a uso bastante nas minhas adaptações em relação ao universo dos investimentos: “o mundo não é para amadores”, “o capitalismo não é para amadores” e “navegar pelo cenário atual não é para amadores”, por exemplo.
Acredito que o contexto em que o compositor disse a frase provavelmente fosse mais cultural do que econômico. Mas ela é perfeitamente adaptável para aqueles que, como eu, tentam entender o rumo de nossa economia e empresas, com o objetivo de escolher e indicar aqueles que considero os melhores investimentos.
Ultimamente, eu diria que traçar os rumos das economias brasileira e mundial não é para amadores. Com as injeções gigantescas de dinheiro nos mercados mundiais, as taxas de juros negativas ao redor do mundo e os bancos centrais indicando que isso deve permanecer por mais tempo para que a economia se recupere da crise gerada pela pandemia viral (como o Fed, o Banco Central americano, na última semana), tem muito economista e gestor de grande porte enviando alertas sobre a disfuncionalidade do modelo atual, que terá inevitáveis consequências. E é aqui que quero chegar.
Como nada no Brasil parece ser para amadores, eu vou me utilizar dos argumentos de grandes nomes do mercado financeiro para provar meu ponto.
Um dos maiores gestores de investimentos de todos os tempos – e o que eu mais gosto de ler ultimamente – é Ray Dalio. Fundador da Bridgewater, a maior e mais lucrativa gestora de hedge funds do mundo (algo como fundos de proteção, uma espécie de fundos multimercado no exterior), ele é um monstro na gestão desse tipo de fundo. Tal como a contribuição de Tom Jobim para a música brasileira, ele faz história quando o assunto é investimentos mundiais. Ou seja, quando Dalio fala, é bom parar para prestar atenção.
Em uma recente entrevista, ele disse que o investidor deveria se preocupar com a perda de valor do seu dinheiro da mesma maneira que o faz com relação ao medo da queda dos seus ativos e da perda de valor de seus investimentos. Ele também repetiu uma frase já bastante icônica no mundo dos investimentos:
“Cash is trash” – dinheiro é lixo, em tradução livre.
Em sua opinião, o dinheiro pode continuar a perder valor na atual conjuntura econômica e medidas de injeção de liquidez pelos bancos centrais dos países, o que motivaria, portanto, que você diversificasse seus investimentos em outras categorias, como ouro e ações. Isso transformaria esse dinheiro em algo menos suscetível às interferências governamentais, gerando impacto nas moedas – algo que foi exacerbado com a crise atual.
Outro gestor muito renomado e de que gosto muito é André Jakurski, da JGP. Ainda em 2019, ele disse aos clientes do banco BTG Pactual (SA:BPAC11) algo na mesma linha de raciocínio: “Não é o ativo que sobe, é o dinheiro que cai”.
Então, podemos dizer, sob outra ótica, que não são os juros que estão negativos, mas, sim, o dinheiro é que está perdendo valor? As taxas de juros estão negativas mundo afora e, por que não dizer, as nossas taxas também são as menores da história do país.
Diante desse cenário, eu gosto ainda mais da ideia de investir em ações. Nesse caso, não considero apenas o seu potencial de valorização, mas a diversificação e exposição a diferentes ativos que elas conferem aos investidores.
Para ilustrar o poder da diversificação, vou utilizar um exemplo de algo recente no mercado brasileiro de ações – minha especialidade.
Vamos supor que você tenha investido em uma empresa do segmento de agronegócio por meio da compra de ações. Em um processo inflacionário, o dinheiro perde valor e os alimentos ficam mais caros.
Se você é sócio ou sócia da empresa que produz e vende esses alimentos, de certa forma, você tem uma proteção em relação a esse efeito, concorda comigo? Mesmo enquanto paga mais no supermercado, suas ações podem se valorizar, pois a empresa que está produzindo os alimentos possui o ativo real, as terras, e é dona do produto. Ou seja, se você tem as ações dela, você também é dono ou dona de uma parte desse ativo.
Por fim, o momento atual exige uma postura centrada, e o amadorismo – que, para mim, é investir sem suporte ou conhecimento – pode custar caro, e você pode ver o seu dinheiro desvalorizado.
Meu trabalho diário é procurar estudar ao máximo investimentos, empresas e ações para a entregar informações relevantes e fugir totalmente do amadorismo. Porque eu acredito que o dinheiro do investidor e da investidora que confia no meu trabalho deve ter um destino certo. E não é o lixo.
Abraços.