Qual foi o impacto da inflação e da falta de mão de obra na economia americana desde o fim do segundo trimestre? Teremos a resposta na quinta-feira, quando o Departamento de Comércio divulgar os dados preliminares sobre o Produto Interno Bruto do país no terceiro trimestre. Economistas preveem que o crescimento do PIB americano desacelerou para 2,8%, contra 6,7% nos últimos três meses.
A expectativa é que a variante Delta da Covid, juntamente com a alta de preços, gargalos na cadeia de fornecimento e escassez de mão de obra, deve ter desacelerado fortemente o crescimento no 3º tri, embora parte desses efeitos possa se dissipar no quarto trimestre. Independente da possível gravidade dos dados de inflação e crescimento, o fato é que os preços do petróleo não devem registrar qualquer perda de força, sem que o rali no setor de energia demonstre qualquer vínculo real com uma economia que praticamente está livre das garras da pandemia.
O periódico The Lancet disse, no fim de semana, que a mudança climática estava criando condições ideais para a transmissão de doenças infecciosas e que os sistemas de saúde não estavam devidamente preparados para seu possível choque. Essa notícia surgiu no momento em que as infecções por Covid no Reino Unido, Rússia e Cingapura registravam repique.
Rali no petróleo: um misto de escassez real e artificial
Mas nada disso parece importar aos investidores do petróleo, que fazem o produto registrar uma máxima atrás da outra, na medida em que a oferta restrita da Opep e a incapacidade de alguns países produtores de extrair mais petróleo acabam gerando um misto de escassez real e artificial no mercado.
Na janela asiática de negociações, os mercados petrolíferos subiam em relação ao fechamento de sexta-feira, ampliando em 1% os ganhos de quase 2% registrados antes do fim de semana.
“Com a firme demanda de combustíveis nos Estados Unidos, em meio a uma escassez de oferta, o tom do mercado petrolífero continuou bastante forte, fazendo com que alguns especuladores fechassem posições vendidas”, disse Tetsu Emori, CEO da Emori Fund Management à Reuters, ao tratar dos fatores psicológicos atuantes no mercado.
Durante o pregão desta tarde em Cingapura, o barril de petróleo americano West Texas Intermediate subia 91 centavos, ou 1,1%, a US$84,67. O WTI fechou em alta de US$1,26, ou 1,5%, na sexta-feira, valorizando-se 1,8% na semana, para um ganho acumulado de 34% em nove semanas.
Já o barril de Brent, negociado em Londres e que serve de referência mundial para o petróleo, subia 77 centavos, ou 0,9%, a US$85,41. O Brent atingiu a máxima de três anos de US$86,10 na quinta-feira. Ele subiu quase 1% na semana passada, acumulando um ganho de 15% em sete semanas.
Além da pressão de alta exercida pelos estoques mundiais, os preços do petróleo subiram na sexta-feira em resposta à queda nas reservas americanas no centro de distribuição de Cushing, Oklahoma.
“A questão é que não haverá qualquer oportunidade para restabelecer os estoques de Cushing nos próximos 3-5 meses diante do alto consumo”, disse Scott Shelton, broker do mercado futuro de energia na ICAP, em Durham, Carolina do Norte. “Mas não vai faltar volatilidade no mercado”.
Em seu relatório semanal sobre estoques nos EUA, a EIA, agência americana de informações energéticas, afirmou que as reservas em Cushing eram de 31,2 milhões de barris, uma queda em relação à mínima de três anos da semana anterior de 33,6 milhões.
Além disso, a EIA informou que os estoques de petróleo tiveram queda de 431.000 barris na semana encerrada em 15 de outubro, em comparação com as expectativas dos analistas de 1,857 milhão.
Essa foi a primeira vez em um mês que a EIA registrou um aumento semanal nos estoques petrolíferos, após os acúmulos sucessivos das semanas anteriores, que adicionaram 13 milhões de barris às reservas.
Muitos dados econômicos pela frente
Além do PIB do 3º tri, outros dados econômicos serão divulgados na semana, incluindo os relatórios sobre pedidos de bens duráveis, na quarta-feira; pedidos iniciais de seguro-desemprego, na quinta; e renda e despesas pessoais, na sexta. Entre os dados previstos para sexta-feira estão o núcleo do índice de gastos com consumo pessoal, métrica favorita do Federal Reserve (Fed, banco central dos EUA) para a inflação.
Os dados econômicos serão acompanhados de perto, já que serão divulgados um pouco antes da reunião de política monetária de novembro do Fed, na qual o banco central deve anunciar planos para começar a reduzir as compras de ativos, um importante primeiro passo para uma eventual elevação de juros.
O Banco Central Europeu realizará sua próxima reunião na quinta-feira, em meio a tensões entre as autoridades quanto à duração da inflação na zona do euro e um eventual ajuste da sua política monetária.
Em sua última reunião em setembro, as autoridades monetárias postergaram uma decisão sobre as compras de títulos para dezembro, mas, desde então, a inflação da zona do euro disparou para a máxima de 13 anos, devido a gargalos na cadeia de suprimentos e aumento dos preços de energia.
O Fed deve iniciar o tapering em novembro, e o Banco da Inglaterra já indicou elevações de juros em breve, portanto a questão é: quando o BCE fará o mesmo?
Na coletiva de imprensa após a reunião de política monetária, na quinta-feira, a presidente do BCE, Christine Lagarde, deve fornecer aos investidores uma indicação quanto à decisão de dezembro.
Expectativa de fortes oscilações nos preços do ouro
Embora o Fed não tenha um cronograma de elevação de juros em vista no curto prazo, as especulações em torno da questão vêm pesando sobre os preços do ouro, com movimentos que lembram uma montanha-russa.
No pregão de segunda-feira, o contrato do ouro futuro para dezembro nos EUA estava um pouco abaixo do fechamento da semana passada, girando em torno de US$1.796 por onça na Comex de Nova York. Na sexta-feira, o metal fechou em alta de US$14,40, ou 0,8%, a US$1.796,30.
Os investidores do ouro tiveram a segunda semana seguida de ganhos antes do movimento em montanha-russa registrado na sexta-feira, que fez o metal atingir o nível de US$1800 e finalmente fechar no positivo.
As oscilações no ouro foram desencadeadas pelo presidente do Fed que, em um evento virtual do Banco de Compensações Internacionais, confirmou que os planos do banco central americano era iniciar a redução dos seus estímulos mensais de US$120 bilhões entre novembro e dezembro, sem fornecer um cronograma para a elevação de juros.
Aviso de isenção: Barani Krishnan utiliza diversas visões além da sua para oferecer aos leitores uma variedade de análises sobre os mercados. A bem da neutralidade, ele apresenta visões e variáveis de mercado contrárias. O analista não possui posições nos ativos e commodities sobre os quais escreve.