O contrato futuro de açúcar em NY fechou a sexta-feira negociado a 18.28 centavos de dólar por libra-peso para o vencimento maio/2017, uma queda de 124 pontos (28 dólares por tonelada) em comparação ao fechamento da semana anterior depois de ter beliscado a mínima de 17.96 centavos de dólar por libra-peso, o nível de negociação mais baixo desde dezembro passado.
Quem nos acompanha constatou que NY acabou buscando o nível de preço que prevíramos aqui havia algumas semanas. Cumpriu-se a nossa profecia. Brincadeiras à parte, insistentemente batemos na tecla acerca da dissociação entre a perspectiva exageradamente altista alimentada pela enorme posição comprada dos fundos e a realidade nua e crua dos descontos negociados no mercado físico. E, insistimos também, que as usinas devessem fixar seus preços em reais por tonelada, pois eles não estariam disponíveis por muito tempo. O que nos surpreende é a velocidade com a qual o mercado mergulhou de cabeça abaixo dos 18 centavos de dólar por libra-peso. Desde o pico de 23.90 centavos de dólar por libra-peso negociado em outubro passado, o mercado despencou 25%.
Depois desse tombo, olhando o histórico de preços dos últimos anos e a sazonalidade do açúcar, é difícil não aceitar o fato de que veremos preços ainda mais baixos em centavos de dólar por libra-peso de abril a junho deste ano. Pelo menos foi isso que aconteceu em 71% das vezes nos últimos dezessete anos. A menos que algo extraordinário aconteça: clima, quebra?
Os números, sempre de difícil digestão, que vem da Índia trazem enorme volatilidade ao mercado e assim continuarão por muito tempo. O argumento principal é a dificuldade, por parte da maioria dos traders, em acessar os números daquele país. Despejam-se dados ao vento como se fossem axiomas intocáveis e a não validação óbvia dessas previsões injeta mais volatilidade aos preços (a volatilidade das opções subiu esta semana).
Se no Centro-Sul, com apenas 80 mil fornecedores de cana, temos dificuldade de encontrar um consenso sobre o volume de cana a ser esmagado no Centro-Sul para a 2017/2018, como acreditar ser possível obter consenso do volume a ser produzido num país como a Índia, com seus 35 milhões de fornecedores (alguns acham que é mais de 50 milhões), supostamente com muito mais dificuldade de mastigar esses números? Pois é.
Quem acertou em cheio nesse mercado foram aqueles que aproveitaram os elevados preços em reais por tonelada extremamente remuneradores e não dormiram no ponto, nem leram a cartilha de ninguém. Fizeram o básico e ganharam dinheiro. Em commodities, são raríssimas as ocasiões em que se vê o preço internacional negociar acima de 50% do custo de produção da origem por um extenso período de tempo. Em 2016, o preço médio do açúcar de exportação VHP foi de R$ 1,437 por tonelada FOB Santos.
Nos últimos doze meses apurados até o final de janeiro deste ano, o mercado esteve acima dos R$ 1,500 por tonelada em 41% dos fechamentos diários. E em 67% das vezes, acima dos R$ 1,400 por tonelada. O fechamento desta sexta apura R$ 1,319 por tonelada. É ainda um preço bem remunerador. Por isso, quando comparado com o etanol que negocia na bacia das almas, é natural que vejamos mais cana direcionada para a produção de açúcar em 2017/2018 e eventualmente uma maior pressão nos preços possa ocorrer.
Existe chance de os preços no período abril-junho atingirem 16-17 centavos de dólar por libra-peso? Absolutamente, sim. No entanto, para que isso não ocorra, alguns fatores baixistas teriam de ser eliminados tais como a safra no Centro-Sul maior do que 600 milhões de toneladas de cana, o petróleo abaixo de 50 dólares por barril, o aumento dos juros americanos que pressionam os ativos de risco. Está fácil ser altista, não é mesmo?
Comenta-se que empresas do setor acreditando que o mercado futuro de açúcar continuaria sua exuberante trajetória de alta, fizeram operações de balcão (sempre elas) estruturadas para se enforcarem logo adiante. Coisas do tipo garantir fixação de venda a 20 centavos de dólar por libra-peso, mas caso o mercado caia para 17, fica comprado em 20 centavos de dólar por libra-peso, e outras “preciosidades”.
Mais inacreditável ainda é que essas coisas ainda continuam acontecendo. E é nessa hora, em que a água começa a baixar, que descobrimos quem estava pelado dentro da piscina. Nada contra os derivativos nem seus provedores, mas as empresas que fazem uso desse instrumento têm obrigação de conhecer os efeitos colaterais. Tomam remédio de tarja preta como se tivessem consumindo aspirina. E a história se repete. Ano passado empresas sólidas, no mercado de grãos, faturando acima de R$ 1 bilhão, se afundaram em operações mal estruturadas. Fazer derivativos sem conhecer as gregas é o mesmo que atravessar a Avenida Paulista às cinco da tarde com uma venda nos olhos.