Publicado originalmente em inglês em 05/07/2021
O debate sobre a inflação nos EUA tem se concentrado nos preços dos imóveis residenciais, e o foco na política monetária mudou da crítica ao dinheiro fácil em geral para pelo menos fazer o Federal Reserve parar de inflar uma bolha do mercado imobiliário.
Larry Summers, ex-secretário do Tesouro americano, está fazendo da crítica à política do Fed sua nova carreira, ao afirmar, na sexta-feira, que a disparada dos preços das residências era “assustadora” e que o banco central deveria parar de alimentar essa disparada com suas compras mensais de US$ 40 bilhões em títulos hipotecários, que estão mantendo as taxas de financiamento baixas, apesar da forte demanda.
“Não consigo entender por que o Federal Reserve, em vista disso, continua sendo um dos principais compradores de títulos hipotecários a cada mês”, disse Summers em uma entrevista televisiva. “Esse é o máximo do comportamento pró-cíclico”.
Consequências não intencionais
Até mesmo algumas autoridades do Fed já estão expressando preocupação. O presidente do Fed de Boston, Eric Rosengren, alertou, na segunda-feira, que os EUA não poderiam se dar ao luxo de permitir um ciclo de ascensão e queda no mercado imobiliário.
“Não estou prevendo que teremos necessariamente uma queda. Mas acho que vale a pena prestar atenção ao que está acontecendo no mercado imobiliário residencial”, declarou.
Os compradores dispostos a pagar à vista e abster-se de inspecionar as casas estão ganhando os leilões de residências cada vez mais caras, declarou Rosengren, chamando a atenção para algumas distorções no mercado residencial.
O chefe do Fed de Dallas, Robert Kaplan, vem defendendo a redução das compras de ativos e chamou a atenção principalmente para as aquisições de títulos hipotecários.
“Estamos vendo algumas consequências não intencionais e efeitos colaterais acontecer”.
James Bullard, presidente do Fed de St. Louis, já fez considerações no mês passado, sugerindo uma redução das compras de títulos hipotecários primeiro. “Tendo a acreditar na ideia de que não precisamos atuar no mercado de títulos hipotecários com o mercado imobiliário em alta, ameaçando inclusive criar uma bolha”, ressaltou.
Os defensores da manutenção das compras nos níveis atuais, como o governador do Fed, Lael Brainard, afirmam que as aquisições desses papéis contribuem de forma mais ampla para o suporte monetário e que existe pouca distinção em relação às compras de títulos governamentais com o tempo.
Os investidores irão escrutinar a ata da reunião de junho, na quarta-feira, em busca de indicações de como esse debate está sendo travado no Comitê Federal de Mercado Aberto.
Eles buscarão sinais de que os formuladores da política monetária estejam repensando a situação da inflação e o estímulo monetário, após projeções econômicas divulgadas naquela reunião mostrarem que diversos deles anteciparam a data de início das altas de juros.
União Europeia e Reino Unido estão subestimando o risco de inflação?
Enquanto isso, o conselho dirigente do Banco Central Europeu realizará uma reunião especial de estratégia nesta semana, a fim de discutir suas compras de ativos. Seus membros conservadores defendem que as aquisições do programa de estímulo de US$ 1,85 trilhão terminem no prazo previsto no cronograma, em março, enquanto outros querem que o banco central continue flexível.
O governador do banco central da Áustria, Robert Holzmann, membro do conselho dirigente do BCE, disse, na semana passada, que os mercados estão prevendo o fim das compras emergenciais em março e estão certos, pelo menos por enquanto. O BCE também tem a opção de aumentar seu programa normal de compras de ativos.
Outro banqueiro central conservador, o governador holandês Klaas Knot, que também está no conselho dirigente, está alertando sobre a inflação, ao sugerir que os formuladores da política do BCE estejam subestimando o perigo.
“Não devemos superestimar nossa capacidade de determinar, de forma antecipada, o que é uma inflação temporária e o que não é”, disse ele em uma entrevista a um jornal holandês.
“Existem outros cenários possíveis do que o nosso caso-base de inflação persistentemente baixa. A inflação não está morta”.
Andy Haldane, que deixou seu cargo de economista-chefe do Banco da Inglaterra na semana passada, reiterou seu alerta sobre as possíveis consequências da disparada da inflação no Reino Unido. Haldane novamente rechaçou a linha oficial do banco central de que o aumento da inflação seria temporário e chamou a atenção para as lições da história.
“Pressões localizadas de preço se tornaram pressões generalizadas de preço e as disparadas temporárias de preços se transformaram em altas persistentes de preços”, declarou. “A maior lição em termos de política monetária é cortar o processo pela raiz”.