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Economia, juros, mercado financeiro: A farsa de Jair Pereira

Publicado 05.06.2023, 20:35
Atualizado 09.07.2023, 07:32

“Mais vale asno que me carregue que cavalo que me derrube.” Há múltiplas possibilidades de aplicação da famosa frase de Gil Vicente, em “A farsa de Inês Pereira.”

O sobrenome homônimo empurra o pensamento direto para Jair Pereira, com seu bordão “maré, maré, jacaré, jacaré…” Ainda que haja dúvida se ele falou mesmo essa frase, se não o fez, foi por esquecimento! A frase combina com a figura do técnico bonachão, em pé ao lado do gramado com camiseta esportiva e shorts acima do joelho — por onde andam figuras como essas?

Desde que Moneyball saiu do beisebol para invadir os demais esportes, tenho a sensação de que foram aposentados pelos ternos de grife italianos — se usar echarpe, então, vira humilhação — e pela aparência científica e austera dos estudiosos.

Sou a favor da ciência, mas receio que PVC não seria um bom técnico. Há certos conhecimentos que emanam da prática, da intuição, do reconhecimento de padrões, do respeito dos pares a partir da ciência de que há no líder também uma referência capaz de fazer no dia a dia se necessário. 

Jair Pereira era uma espécie de “Fat Tony”, aquela personagem de Nassim Taleb com inteligência de rua e ganhadora de dinheiro, contra os “empty suits” e os papagaios bem informados incapazes de pensar com a própria cabeça, que vomitam clichês e cedem aos perigos do groupthinking — agora que a Verde se disse otimista com Bolsa, já pode comprar? Jair Pereira pode até não ser um gênio (longe disso), mas foi vencedor por quase todos os clubes por onde passou. 

Talvez tenha sido sorte, você tem razão. Nunca saberemos. O risco é um negócio curioso, porque ele nunca poderá ser medido de verdade e com precisão, nem mesmo a posteriori. Quando deu certo, nunca saberemos qual a probabilidade de ter dado errado. Provavelmente, cederemos à tentação psíquica de achar que tomamos o caminho correto, tendo chegado lá por conta da concretude de um materialismo histórico que nunca existiu, nem nunca poderá existir. Foi de determinado jeito, mas poderia muito bem ter sido diferente não fossem aquelas duas bolas na trave…

Entre um ganhador de dinheiro sortudo e um competente azarado, com quem você fica? 

As ciências sociais, sobretudo em ambientes de elevada incerteza, muito suscetíveis à aleatoriedade e permeados por fenômenos complexos, terão enorme dificuldade em modelar o mundo, mas, para ficar em posição de destaque perante a Academia e, mais especificamente, aos doutores das ciências naturais, tentarão fazer a realidade caber em suas planilhas de Excel e em seus arquétipos ultrassofisticados.

Essa fragilidade é particularmente grande em momentos de inflexão, por uma razão objetiva: os modelos se baseiam em dados históricos e, se estamos diante de uma quebra estrutural, a econometria das séries de tempo costuma funcionar mal. Seu modelo segue um determinado padrão, mas esse padrão está sendo rompido. Vai dar ruim.

Essa é uma das razões para os traders ganharem mais dinheiro do que os macroeconomistas. A curva de juros vai ser sempre mais rápida (e eficiente) do que o relatório Focus

O ponto nevrálgico é que estamos justamente no momento da inflexão. Saímos de um mundo (e de um país) em que só se discutia inflação e alta de juro para outro em que se debate quando e quanto cai a Selic. Cresce a expectativa por um corte em agosto, possivelmente de 50 pontos. Ainda mais interessante: na média, o consenso de mercado, ao longo dos últimos sete ciclos de afrouxamento monetário, subestimou os cortes da Selic em 150 pontos-base. Se estivermos falando de um PIB que cresce 2%, de uma inflação abaixo de 5% e de uma Selic de 8%, é um outro Brasil.

Calma, calma. Dispenso os ataques de comunista, ou a provocação infantil de “fazueli.” Em que pese o bom desempenho do ministro Fernando Haddad, as variáveis supracitadas derivam de pouco (ou quase nenhum) mérito do governo. Alguns diriam que Lula é sortudo, que vai pegar, mais uma vez, a maré mudando em seu favor. Talvez baste. Uma recuperação cíclica natural depois de anos de muita inflação e aperto monetário global. 

Daqui a pouco, será possível ler que a S&P estuda elevar o rating soberano brasileiro, citando os benefícios advindos das reformas estruturais implementadas desde o governo Temer. Talvez aí seja tarde demais para comprar.

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