A semana foi marcada pelo sobressalto causado pelo enorme volume de açúcar entregue contra a expiração do contrato futuro de março, em NY. Mais de um milhão e duzentas mil toneladas de açúcar foram recebidas por uma única trading (Wilmar), das quais 932 mil toneladas originadas do Brasil, 117 mil da Guatemala e o restante dividido entre Argentina, Costa Rica, El Salvador, Honduras, México e Nicarágua. Foi o maior volume entregue numa expiração de março, cuja média até então não passava das 480 mil toneladas. E é, também, quase o triplo da média do volume entregue pelo Centro-Sul nos meses de março.
Dessa forma, caro leitor e cara leitora, a menos que seu nome seja Alice e você tenha como companheiro inseparável um coelho branco de colete carregando um relógio de bolso, a verdade é que a entrega de março tem um espantoso tom baixista, independentemente de o recebedor ter refinarias espalhadas pela Austrália, Nova Zelândia e Indonésia.
Um volume dessa magnitude entregue no período de entressafra do Centro-Sul denota que o mercado físico de açúcar estava (ou ainda está) à deriva e o melhor comprador era (ou ainda é) mesmo a bolsa. Pode-se construir o argumento altista que melhor lhe aprouver para justificar a operação, mas a consistência dele é como prego na gelatina. A entrega desse volume é baixista.
Talvez, mais surpreendente do que a própria entrega, seja a quietude com a qual os fundos têm tratado o mercado. Já apagamos os ganhos de 2017, chegamos a negociar bem abaixo do fechamento de 31/12 (19.51 centavos de dólar por libra-peso). O mercado encerrou a sexta heroicamente negociado a 19.52 centavos de dólar por libra-peso. E os fundos – coincidentemente – tem praticamente a mesma posição que tinham no final do ano passado. Embora tenham ganhado muito dinheiro com o açúcar, não me parece razoável que vão aguentar essa lengalenga por muito tempo.
Além disso, como se sabe, a sazonalidade do açúcar mostra que abril-maio-junho são períodos de preços mais baixos. Mesmo correndo o risco de morder a própria língua, nunca é demais repetir que se não houver alguma modificação de impacto nos fundamentos do açúcar, as chances de ver esse mercado mergulhando para 17-18 centavos de dólar por libra-peso no segundo trimestre de 2017 são respeitáveis. “De jeito nenhum”, bradou um trader de São Paulo, “não com o prêmio de branco assim firme”. Pode ser, mas já vimos prêmios de branco acima de 130 dólares por tonelada antes de o mercado mergulhar de cabeça (em 1995/1996). Mas, é um bom argumento.
Se temos o prêmio de branco como um importante fator de sustentação, e a ele pudermos juntar o sólido volume de fixações de preço de exportação por parte das usinas para a safra 17/18, que alivia o mercado futuro de uma eventual pressão de preços da origem, por outro lado, temos fatores que desestabilizam. São eles o robusto desconto com o qual o hidratado tem sido negociado, entre 300-400 pontos do açúcar VHP em NY; o petróleo que não vai para ligar nenhum e continua estacionado a 55 dólares por tonelada; o real que se valoriza perante o dólar e afunda ainda mais a relação do hidratado; a Petrobrás que baixou os preços dos combustíveis para seguir a política de transparência na formação de preços, e por aí vai.
E ainda não falamos da Índia que é um fator desconhecido considerando tantas informações desencontradas. Quanto já está absorvido pelo mercado e refletido nos preços. E ainda mais outro ponto: o número médio das previsões de safra do Centro-Sul estão próximas do número da Archer, ou seja, 585 milhões de toneladas. E se forem 615 milhões de toneladas?
Apenas como guia, ou mais um indicador no cockpit, o nosso modelo de previsão de preços mostrava que o valor médio de fechamento do contrato futuro de açúcar em NY no mês de fevereiro seria de 20.76 centavos de dólar por libra-peso; foi de 20.41, ou seja, 1.69% abaixo da previsão. Agora, o modelo aponta para um preço médio de 19.07 centavos de dólar por libra-peso durante o mês de março, 17.90 centavos de dólar por libra-peso para abril e 17.17 centavos de dólar por libra-peso em maio. No mês passado, o modelo assinalava preços médios de 19.36, 18.14 e 17.36 centavos de dólar por libra-peso, respectivamente. Numa situação de estresse o preço pode visitar os 17 centavos de dólar por libra-peso.