Publicado originalmente em inglês em 08/03/2021
O presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, reiterou na semana passada que o banco central americano será “paciente” e não fará um aperto monetário mesmo com uma recuperação econômica, para a impaciência dos investidores.
Os rendimentos dos Treasuries de 10 anos continuaram subindo, ultrapassando 1,6% em determinado momento da sexta-feira, fazendo com que as autoridades do Fed fossem cautelosas em suas posições.
“Alguns desses movimentos e sua velocidade, na semana passada, chamaram minha atenção”, afirmou Lael Brainard, governadora do Fed, em um evento do Council on Foreign Relations.
“Eu ficaria preocupada se visse condições desordenadas ou um aperto persistente nas condições financeiras, capaz de desacelerar o avanço em direção ao nosso objetivo”.
Powell também ecoou essas preocupações em sua apresentação da quinta-feira em um evento sobre o mercado de trabalho, sem demonstrar, no entanto, grande temor. Condições desordenadas e aperto das condições financeiras podem mentir aos olhos do observador, mas os reconhecimentos hesitantes das autoridades aguçaram o apetite dos investidores por uma ação do Fed para arrefecer a alta dos rendimentos dos títulos.
O congresso discutiu o pacto de estímulo US$ 1,9 trilhão contra a Covid após o Senado avançar com dificuldade nas emendas em uma sessão noturna, a fim de aprovar a lei e enviá-la de volta à Câmara para votar suas alterações nesta semana.
A expectativa é que o estímulo fiscal aumente os gastos dos consumidores de baixa renda, à medida que a vacinação e a queda das infecções permitam a volta ao normal. Mas o impulso econômico pode elevar os custos de crédito, dificultando justamente a recuperação que a legislação deseja respaldar.
Aumenta distância entre intenções do Fed e expectativa do mercado
O aumento da distância entre as intenções declaradas do Fed e as expectativas do mercado se deve, em parte, à mudança de prioridades do Fed.
Powell repetiu seus comentários feitos no depoimento ao congresso na semana anterior, no sentido de que o mercado de trabalho está longe do objetivo de máximo emprego do banco central, muito embora os dados divulgados no dia seguinte mostrassem um crescimento muito mais robusto nas contratações do que o esperado. A economia americana criou 379.000 empregos em fevereiro.
Mas o nível de ocupação estava quase 10 milhões abaixo dos patamares pré-pandemia, e Brainard expressou as novas prioridades do Fed no Council on Foreign Relations.
“A suposição de que a acomodação deve ser reduzida preventivamente quando as estimativas de emprego se aproximam da taxa neutra, elevando as expectativas de inflação, que não deve se materializar, coloca em risco a oportunidade de muitos americanos vulneráveis economicamente”, afirmou.
“Isso pode prejudicar a retomada de grupos raciais e étnicos que sistematicamente enfrentam desafios no mercado de trabalho. A abordagem do déficit permitirá que a força laboral continue melhorando na falta de claras indicações de pressões inflacionárias ou uma elevação das expectativas de inflação".
Declarou Loretta Mester, chefe do Fed de Cleveland, à CNN, sugerindo que o Comitê Federal de Mercado Aberto quer garantir que a recuperação pós-vacinação seja mais ampla e sustentável. “Do meu ponto de vista sobre a política monetária, acredito que o Fed fará uma acomodação sustentada por algum tempo”, afirmou.
Raphael Bostic, diretor do Fed de Atlanta Fed, expressou a necessidade de suporte à economia. “Precisamos fazer o que estiver ao nosso alcance para minimizar o dano da pandemia no longo prazo e garantir que a recuperação seja a mais ampla e inclusiva possível”, declarou em um evento da Universidade de Stanford.
O chefe do Fed da Filadélfia, Patrick Harker, ressaltou essa preocupação ao afirmar que o desemprego entre trabalhadores negros e hispânicos era duas vezes maior do que entre os brancos.
“Mesmo com sinais otimistas da queda de infecções e da reabertura econômica, estou preocupado com o fato de muitos trabalhadores serem deixados para trás durante a retomada”, disse Harker em uma mesa-redonda sobre mercado de trabalho promovida pelo Fed da Filadélfia.
Outras autoridades minimizaram a alta nos rendimentos. “Se a alta dos rendimentos reais for sustentada, ficaria preocupado com a quantidade de acomodação que estamos fornecendo à economia, o que nos obrigaria a adotar uma resposta monetária, afirmou Neel Kashkari, presidente do Fed de Mineápolis, que disse ainda que os rendimentos mais elevados até agora só refletem a alta nas expectativas de inflação.