Os Fundos de Investimento nas Cadeias Produtivas Agroindustriais (Fiagros) encerraram o ano de 2022 com um crescimento de 544%, atingindo um patrimônio de R$ 10,34 bilhões. Em termos de captação líquida (diferença entre aportes e saques), o segmento obteve saldo positivo de R$ 3,2 bilhões em 2022.
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Mais da metade desse montante (R$ 1,69 bilhão) foi levantado no último trimestre do ano, com destaque para o mês de outubro, em que a captação líquida foi de R$ 860,6 milhões, segundo a Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima). O ano passado encerrou com 43 Fiagros e 181 mil cotistas, contra 13 fundos em dezembro de 2021 e 14 mil cotistas.
Para 2023, espero que a indústria de Fiagros mais dobre em volume, pois o seu tamanho atual ainda é pequeno diante do potencial de mercado. Um sinal desta tendência de crescimento da indústria é o salto na emissão de Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRAs). No ano passado, as aplicações nestes papéis, demandados por Fiagros, somaram R$ 40,8 bilhões, avanço de 62,4% sobre 2021.
Além disso, há a migração de recursos. Na contramão do que ocorreu com os fundos de agronegócio, a captação líquida dos fundos de investimentos ficou negativa em R$ 162,9 bilhões no ano (queda de 139,5% na comparação a 2021). O destaque de queda ficou com as categorias de renda fixa, com resgates líquidos de R$ 48,9 bilhões no ano (contra captação positiva de R$ 232,7 bilhões em 2021), de ações e multimercados, com saídas líquidas de R$ 70,5 bilhões e de R$ 87,6 bilhões, respectivamente, também de acordo com os dados da Anbima.
Mas o que tem levado a resgates nos fundos tradicionais e aportes nos Fiagros?
Primeiramente, a instabilidade econômica provocada pelas eleições impactou o desempenho das carteiras de vários fundos, assim como o crescimento da inadimplência. A performance aquém do esperado provocou a saída de investidores mais avessos ao risco.
Este cenário foi agravado recentemente pela crise das Americanas que impactou diretamente fundos que detinham dívida da empresa, deixando as pessoas ainda mais reticentes. O fato é que, no crédito estruturado, a probabilidade de o retorno esperado não ser atingido deve ser alvo de uma avaliação mais aprofundada e muitas das opções disponíveis hoje no mercado acabam não sendo adequadas ao público geral, justamente pelo perfil de ativos que contêm nas carteiras. Muitos fazem concessão de crédito a empresas de menor porte que exibem riscos de inadimplência considerável ou ativos ilíquidos.
Já, do lado dos Fiagros, o crescimento da captação líquida está relacionado à busca pela diversificação por parte das pessoas físicas, que desejam alocar parte de seu patrimônio em um setor mais resiliente a crises. Deve-se lembrar que o agronegócio corresponde à cerca de 27% do PIB brasileiro e ainda é subrepresentado nas carteiras de investimentos. Além disso, os Fiagros oferecem como atrativo a mais a isenção de Imposto de Renda (IR) e a maioria tem garantido bons retornos aos cotistas.
Por último, mas não menos importante, impulsionará a indústria de Fiagros a regulação definitiva dos Fiagros por parte da Comissão de Valores Mobiliários (CVM). A mudança permitirá a criação de fundos com diferentes tipos de ativos e é justamente segurança que a diversificação traz para todos os envolvidos. Assim que a nova norma da CVM for publicada, os fundos poderão ser montados de maneira mais estratégica com combinações de papéis capazes de aumentar a rentabilidade e proteger o capital dos investidores.
Existe grande apetite dos investidores pelos Fiagros e isso é ótimo para a economia, principalmente para o agronegócio, com a desintermediação suprindo uma lacuna deixada pelo crédito tradicional.