Por vezes até parece que o Brasil está sem problemas e que as expectativas são as melhores, podendo assim justificar certos movimentos como decorrentes de ocorrências externas.
O “payroll” divulgado pelo Departamento do Trabalho evidenciou que o saldo líquido de vagas de trabalho criadas em abril cresceu 223 mil, com ajuste sazonal, recuperando-se do fraco desempenho de março, quando havia caído, e que teve o dado revisto da leitura preliminar de 126 mil para 85 mil vagas.
A taxa de desemprego caiu para 5,4% ante 5,5% em março. Considerados todos os números do “payroll” os analistas acreditam que os números tiram a urgência do FED subir os juros nos Estados Unidos. Os futuros de Fed funds, negociados na CME, mantiveram na sexta-feira o indicativo de que os investidores consideram “zero” a chance do ciclo de elevação do juro ter inicio em junho.
Evidentemente que este ambiente de dúvida promove mutações no comportamento dos ativos americanos e também no mercado global, mas a rigor é notório de que os Estados Unidos não tem o menor interesse em elevar o juro neste período, visto que eventual valorização do dólar poderia criar barreiras para suas exportações e acentuar fortemente a tendência ao incremento de suas importações, o que impactaria na sua atividade econômica e aumentaria mais o seu déficit comercial, que no último dado mostrou-se crescente. A contenção da valorização da sua moeda é fundamental para que continue mantendo a recuperação da sua atividade econômica, num momento em que a Europa e Japão praticam politica de ampliação de liquidez que tende a provocar a desvalorização de suas moedas, para que recuperem atividade econômica via exportações.
Este é um jogo muito forte à margem da questão do emprego, até porque se a economia americana perder dinamismo o nível de emprego atual também retrocederá certamente.
Por isso, temos advogado a ideia de que, se possível, os Estados Unidos só elevarão a taxa de juro no ano que vem, postergando a adoção da medida utilizando este ou aquele argumento.
Mas isto é nos Estados Unidos e não no Brasil que detém expectativas muito incertas sobre a viabilização com resultados das medidas de ajustes na economia, em especial na questão fiscal.
Quando se repercute números da economia americana por aqui parece haver um alheamento à nossa grave situação, e então surgem inúmeras teorias de que agora teremos mais fluxos disto ou daquilo.
A questão presente em torno do Brasil não é rigorosamente se o Congresso aprovará as medidas, certamente de um jeito ou de outro esta barreira será ultrapassada, mas a questão concreta é se a economia cambaleante, deteriorada e em retrocesso poderá prover com respostas esperadas pelo governo, ou, o que parece mais provável, se revelará incapaz de gerar acomodação dos enormes aumentos dos preços públicos e ainda dar retorno.
Esta é uma grande duvida, pois tudo leva a crer que a economia brasileira encolherá mais ainda, se tornando absolutamente incapaz de atender as expectativas do programa da nova equipe econômica.
E com a economia decadente poderá surgir o desemprego que impacta na queda de renda e na queda do consumo, que na ponta provoca menos arrecadação.
Esta situação brasileira torna impeditiva a reação imediata e em linha com os acontecimentos na economia americana, os problemas brasileiros terão que ser solucionados pelo Brasil e não pode fazer parte do imaginário que ocorra uma sinergia perfeita entre fatos ocorridos nos Estados Unidos e suas repercussões diretas no Brasil, como se por aqui estivesse tudo normal.
Temos o maior juro do mundo, mas isto não chancela o Brasil como o país de maior atratividade para o capital especulativo, já foi assim hoje há alguns senões diferenciais.
A Bolsa subiu no ano perto de 15% o que é inferior a alta do dólar, portanto para o investidor ganhar precisa aproveitar momentos de oportunidade, e quem pode afirmar que quando pretender sair não sejam indutores de apreciação do real para obter efetiva rentabilidade.
O país tem a maior taxa de juro do mundo com viés de alta, mas tem um déficit em transações correntes atualmente de mais de US$ 100,0 Bi nos últimos 12 meses, se não conseguir o superávit fiscal poderá perder considerável volume de recursos que estão no país se perder o grau de investimento.
A taxa cambial desequilibrada espanta até mesmo o capital especulativo, pois fica o risco de perda, como ocorre agora na Bovespa em dólares, onde tudo parece empolgante mas poucos citam esta realidade.
O país tem US$ 370,0 Bi de reservas cambiais, mas tem US$ 115,0 Bi de contratos de “swaps cambiais”, que não é dólar tão somente o utiliza como referencial, mas que tem aceitabilidade no mercado pelo fato do país deter reservas cambiais, e que se prestam a comprar credibilidade que falta a nossa moeda, representando hedge com alto custo aos cofres do governo, e os bancos ainda carregam posições vendidas de US$ 10,0 Bi financiando a liquidez no mercado à vista.
Temos inflação alta consistente e bem disseminada, tendo registrado 8,17% em abril acumulado nos últimos 12 meses, e que por mais que haja discurso falando em convergência, não se vê possibilidade em torno do centro da meta nem mesmo em 2016, e isto exigira mais juros SELIC e mais ônus aos cofres públicos.
Não há bonança à vista no curto prazo, ainda há perspectivas de piora por um bom período antes de eventual melhora, por isso a taxa cambial brasileira não pode ficar à mercê de mutações na economia americana, quando sobram razões muito mais impactantes e negativas na economia brasileira.
Se não tivermos a taxa cambial ajustada o capital especulativo, alternativa que resta, recuará, o déficit em transações correntes será muito maior do que os US$ 84,0 Bi projetados pelo governo, balança comercial será pior do que o pior que já se imagina, enfim o setor externo poderá se tornar um expressivo problema que se somará a tantos outros desafios presentes.
Não é o momento de “brincar com coisa séria”, pois as consequências poderão ser relevantes. Ocorre um gradual distanciamento entre o desejável e o realizável focando a recuperação da economia brasileira, e este sim, é um fato relevante a ser considerado.
Há fundamentos na queda do preço da moeda americana no nosso mercado? Evidentemente que não!