Fui à cozinha, abri a geladeira para pensar e fiquei extremamente irritada quando lembrei do aumento dos preços do mercado que deixou a conta tão cara. Mas, pelo menos a carne, me deixou feliz. Não que ela esteja barata, mas pensei na minha carteira de ações e como os frigoríficos valorizaram esse mês. Por sorte, ou melhor, por estratégia e análise, tinha investido neles na virada do mês.
JBS (SA:JBSS3), Marfrig (SA:MRFG3), BRF (SA:BRFS3), Minerva (SA:BEEF3) — todos estão listados na bolsa de valores do Brasil (SA:B3SA3) e apresentaram valorização entre 15% e 30% ao longo do último mês. Minerva e Marfrig estão, inclusive, entre as maiores altas de setembro do Ibovespa — principal índice de ações da B3. Seria impossível cravar a valorização dessas ou de qualquer outra ação, mas como disse, por estratégia, tinha investido uma parte da minha carteira nesse setor.
Na virada do último mês, sabendo que a economia por aqui estava mais complicada com imbróglios políticos, inflação subindo e algumas dúvidas sobre o crescimento da atividade, procurei empresas que dependessem menos do cenário local. Nesse sentido, pensei em investir em empresas exportadoras. Sabia que essa dinâmica mais complicada do Brasil poderia também contribuir para que o dólar subisse, como, de fato, aconteceu.
A moeda norte-americana acumula alta de aproximadamente 5% em setembro. Encerramos agosto com o câmbio a R$ 5,15 e agora, 30 dias depois, já estamos mais próximos dos R$ 5,45. Empresas exportadoras, como os frigoríficos, se beneficiam desse dólar mais alto pois a receita gerada em outras moedas é convertida em um valor maior.
Além do fator câmbio, investi nos frigoríficos pelo fato deles se encaixarem naquele perfil (citado ali em cima) de empresas que dependem menos do cenário nacional. As questões que mencionei — que contribuíram para uma desvalorização da nossa moeda — também tornam o cenário Brasil mais desafiador para algumas companhias. Nesse sentido, empresas exportadoras também se beneficiam por estarem expostas a outras economias. Alguns frigoríficos como JBS e Marfrig, por exemplo, têm a maior parte da geração de receita pela operação nos Estados Unidos e, por lá, a dinâmica anda bem diferente daqui.
Só de pensar no preço da carne no Brasil já é de esquecer a fome, isso em um momento em que a nossa população está sofrendo os impactos da pandemia. Ou seja, comprar carne está virando um luxo. A dinâmica dos preços também está desafiadora para os frigoríficos por aqui, mas nos Estados Unidos o momento é bem mais favorável. A margem da carne bovina na América do Norte está acima do esperado, potencializando a receita desse mercado para que o 3º trimestre seja ainda mais forte.
Fico muito insatisfeita quando penso na alta dos alimentos, mas pelo menos na hora do churrasco dá um alívio lembrar que alguns dos frigoríficos estão na carteira de investimentos e lá o resultado esse mês foi bom. Para os próximos períodos, vou continuar com a estratégia de investir pelo menos uma parte do patrimônio em ações expostas a outros mercados, regiões, moedas — sempre com o foco na diversificação. Afinal, um churrasco para ser completo não se faz só de uma carne.