- Movimento de “um passo para trás, dois para frente” dos fundos de hedge ajuda a evitar a capitulação do mercado.
- Apesar do recuo recente dos preços do gás na Europa, os investidores aproveitaram as quedas para comprar no mercado futuro.
- Consolidação acima de US$ 9 pode ajudar a romper US$ 9,50 e reteste de US$ 9,80 e US$ 10
A movimentação oscilante no mercado de gás natural sugere que grandes fundos de hedge estão fazendo o que podem para evitar a capitulação do mercado, apesar do cenário meteorológico e produtivo desfavorável.
No pregão de quarta-feira, o contrato futuro do gás natural se valorizou 1,5% no centro de distribuição de Henry, da Bolsa Mercantil de Nova York, após uma derrapada de 3,3% na véspera.
Da mesma forma, o mercado avançou 3% líquidos em quatro dias antes desse movimento, após ceder 0,8% em um dos dias.
Leticia Gonzales, analista da Natural Gas Intelligence, destacou:
“Em razão das idas e vindas ao longo da curva futura no meio da semana, o mercado de gás parecia estar mais perto de virar a página, pelo menos por enquanto, em relação ao rali que fez seus preços superarem US$ 10 nas últimas semanas."
Mas, apesar do recuo dos preços do gás na Europa, que serviu de base para um rali de dois meses, “os investidores aproveitaram as quedas de preço para comprar nos últimos meses”, complementou Gonzales.
Com o fechamento das negociações de agosto na quarta-feira, o contrato mais negociado no centro de Henry encerrou o mês com uma alta de 15%, estendendo a corrida de 46% em julho.
Alan Lammey, analista de mercados de gás da consultoria Gelber & Associates, de Houston, afirmou o seguinte:
“O mercado finalmente está começando a reconhecer o grande conjunto de catalisadores altistas, cada vez mais difíceis de ignorar”.
Mas o atual cenário técnico no centro de Henry pode evitar a perda do patamar de US$ 9.
Segundo Sunil Kumar Dixit, analista técnico chefe do site skcharting.com:
“A consolidação acima de US$ pode provocar novas tentativas de rompimento acima de US$ 9,50, em direção a US$ 9,80 e US$ 10.”
“Uma corrida de alta mais forte, no entanto, exigirá uma consolidação mais assertiva acima da marca de US$ 10, o que, se confirmado, pode desencadear a primeira pernada de um enorme rali com alvos iniciais em US$ 12”.
“Para que força de alta seja rompida, é necessário haver uma rejeição de US$ 9,50 para fazer o gás revisitar US$ 8,50 e 7.80. Porém, até mesmo isso pode ser usado para reunir força em um movimento de alta maior”.
Do ponto de vista dos fundamentos, o cenário do gás tampouco é melhor.
Além do clima fresco e chuvoso em grande parte da região sul dos EUA, incluindo Texas, os principais modelos de previsão meteorológica mostram a formação de uma grande condição mais quente e amena na região norte do país.
No longo prazo, os modelos do Sistema de Previsão Global e do Centro Europeu de Previsões Meteorológicas de Médio Alcance indicam que setembro, e particularmente outubro, podem registrar temperaturas notavelmente baixas em todo o país.
A produção de gás seco nos EUA permaneceu estável em níveis quase recordes, com volumes ligeiramente acima de 98 bilhões de pés cúbicos diários por três dias consecutivos, antes de recuar um pouco na terça-feira em meio a operações típicas de manutenção.
Lammey, da Gelber & Associates, explicou:
“Está ficando cada vez mais claro que a tendência na produção é ascendente e não estaria fora de cogitação os volumes testarem ou excederem 99 bpc/d nas próximas semanas.”
“Se todos esses mecanismos de preço persistirem, em conjunto com aumentos crescentes de estoques semanais de gás, o cenário mais amplo sugere que o contrato futuro mais ativo do gás na Nymex deve registrar uma significativa correção nos próximos dois meses, com alvo nos preços US$ 6,00 ou menos”.
A Natural Gas Intelligence ressaltou que o aumento dos laços globais contribuiu para grande parte do aumento dos preços nos EUA ao longo deste verão, com a Europa trabalhando para reabastecer os estoques esgotados após um inverno intenso. O continente também pretende se livrar do fornecimento da Rússia, que registrou forte queda após a invasão da Ucrânia. Em paralelo com um verão mais quente na Europa e na Ásia, os preços recordes do gás acabaram respingando nos mercados norte-americanos que também enfrentaram estoques em baixa.
Os preços do gás europeu operavam em baixa ultimamente, registrando sua maior queda desde abril, de acordo com a Rystad Energy. O declínio foi atribuído a níveis saudáveis de estoques na Alemanha e no resto do continente.
Wei Xiong, analistas sênior da Rystad, afirmou o seguinte:
“Os mercados de gás europeus estão respirando aliviados após as agressivas compras de cargas de GNL e gás canalizado, permitindo a elevação mais rápida dos níveis de armazenamento do que a meta da União Europeia”.
“A Europa está em modo de abastecimento total e não quer se arriscar com o fornecimento da Rússia no inverno.”
De acordo com a Rystad, o armazenamento subterrâneo da Alemanha está quase 83% repleto, superando a média de cinco anos. Como as injeções foram mais rápidas do que o esperado, a expectativa da Alemanha é que o armazenamento de gás esteja 85% repleto até o início de setembro – antes da meta anterior de outubro. Os níveis gerais de armazenamento da Europa também são saudáveis, atingindo uma média de preenchimento de 80%, que era a meta de 1º de novembro.
Fonte: Gelber & Associates
O aumento nos estoques, em parte, acalmou as preocupações de fornecimento durante a manutenção do gasoduto Nord Stream 1 da Rússia, de acordo com a Rystad. A Gazprom (MCX:GAZP) na quarta-feira interrompeu os fluxos no NS1 até sexta-feira para a execução de trabalhos previstos. No entanto, permanece o risco de que os fluxos não retornem dentro do cronograma.
Nos EUA storage front, analistas rastreados pelo Investing.com esperam que a Administração de Informações Energéticas divulgue um acúmulo de 58 bilhões de pés cúbicos durante a semana encerrada em 26 de agosto contra os 60 bilhões da semana anterior.
Aviso: Barani Krishnan utiliza diversas visões além da sua para dar diversidade às suas análises de mercado. A bem da neutralidade, ele por vezes apresenta visões e variáveis de mercado contrárias. O analista não possui posições nos ativos e commodities sobre os quais escreve.