Há excesso de incertezas quanto a viabilização das medidas duramente corretivas no campo econômico com ênfase ao fiscal, que por vezes ganha obstáculos renovados de natureza política, por vezes até sobre as suas reais condições de viabilização sem criar o contraditório de se auto inviabilizarem, já que podem ter impactos recessivos e reduzir substantivamente a capacidade da economia de recuperação e geração do incremento objetivado de receitas por parte do governo.
Este contexto de dúvidas e incertezas se transforma em indutor de volatilidade nos preços dos ativos no mercado financeiro, que por sua vez cria ansiedade extrema que avilta precipitadamente a formação dos mesmos, ocorrendo a precipitação de busca de precificação muito antecipada de situações que poderão ou não se confirmar como negativas.
E a volatilidade no câmbio e no juro, focos mais imediatos, ganha destaque e se realimenta das incertezas mais como reação emocional do que racional.
O desafio do governo para reverter o quadro econômico de deteriorado a realinhado para o crescimento é imenso e envolve inúmeros vetores que podem até estabelecer choques entre si na prática.
Assim, as supostas barreiras políticas colocadas pela própria base de apoio ao governo preocupam, pois podem atrapalhar os objetivos. Contudo, o perfil histórico das resistências políticas às decisões do governo não valida que se tornem efetivas, sendo neste momento mais oportunistas para criar fatos e ganhar manchetes e holofotes num ambiente que envolve um governo abatido pela fragilidade da baixa confiança.
Perturbador, porém não crível que irá as últimas consequências se opondo e obstruindo decisões relevantes de governo. Picuinhas à parte, ninguém quer ser responsabilizado pela situação atual da economia brasileira e muito menos pelo seu agravamento, razão pela qual não se pode dar muito crédito. A oposição do PT por sua radicalização merece ser melhor observada e pode causar desconfortos nas aprovações das medidas que envolvam benefícios sociais.
É necessário um período minimamente de observação para melhor avaliação.
A tendência de alcance do superávit primário que em janeiro se revelou positivo, mas com o governo federal arrecadando menos e os estados atipicamente arrecadando mais, precisa ter pelo menos um trimestre para observação.
É um ponto decisivo, pois uma má performance pode levar as agências de rating a retirar do país o grau de investimento, o que causará sérios transtornos no câmbio.
A questão de fundo é que com o país tendo um risco cambial elevadíssimo e inúmeros flancos de vulnerabilidade há uma intranquilidade no mercado de câmbio que acaba por precificar à vista precipitadamente uma situação em perspectiva futura.
A taxa cambial elevada tem o objetivo de restaurar a capacidade de a indústria nacional reocupar o espaço perdido no mercado interno, neutralizando importações concorrentes na contrapartida. Em janeiro, a indústria cresceu 2%, mas ainda não se pode afirmar pelo curto espaço de tempo que o fato esteja repercutindo este objetivo.
Não esperamos grande impulso imediato nas exportações, visto que para tanto serão necessários investimentos para a indústria aumentar a produtividade e complementar o aumento de competitividade pelo preço obtida com a alta do dólar.
Na melhora de atratividade do país ao capital especulativo ainda não surtiu efeitos. Antes a sobrevalorização do real era um fator de risco para o investidor externo especulativo com recursos formados a partir de “carry trade”, agora é a volatilidade.
Entendemos que neste momento, o BC não deveria criar situações para ilações especulativas pelo mercado que também acabam por afetar a formação do preço da moeda americana.
Manter a rotina da rolagem das posições vincendas de “swaps cambiais” e oferta da “ração diária”, sem suscitar dúvidas neutraliza um ponto de questionamento contumaz do mercado, até porque se reduzir a oferta provocará excessiva alta imediata do preço da moeda americana.
As incertezas e a baixa confiança e o expressivo risco cambial do país acabam por motivar as empresas com passivos externos a buscarem “hedge” com maior intensidade, sendo assim ao revelar-se insuficiente alavanca o preço da moeda americana.
Os fluxos para o Brasil continuam ruins. A balança comercial fechou o bimestre com saldo negativo de US$ 6,0 Bi e o fluxo cambial ao revelar-se negativo na última semana em US$ 3,334 Bi levou ao negativo também o saldo do mês de fevereiro em US$ 1,142 Bi, porém ainda se mantendo positivo no ano em US$ 2,760 Bi, com grande possibilidade de alterar-se também a negativo a partir de março.
Neste cenário conturbado o COPOM elevou, como previsto, a SELIC em 0,50% passando-a para 12,75%, mas não deixou nada apontado prospectivamente, até porque vai observar, mas com a persistência do preço do dólar elevado seguramente será levado a novas elevações no juro.
O que intranquiliza o mercado é o fato da incerteza sobre aprovação de medidas importantes que visam fazer o país alcançar o superávit primário a que o governo se comprometeu, o que como consequência se não atingido colocaria em risco a manutenção do grau de investimento do país, ante um risco cambial expressivo e muito acima do montante das reservas cambiais.
Por enquanto a volatilidade deve continuar, mas é preciso atenção pois o preço da moeda pode ceder um pouco, visto que tudo de ruim já foi precificado.