A última semana completa do ano irá testar o fôlego do mercado financeiro, após Wall Street interromper uma sequência de várias semanas de valorização e o Ibovespa, por pouco, não conseguir zerar as perdas acumuladas no ano, em meio à queda livre do dólar. Os próximos dias irão medir os nervos dos investidores, em meio ao enredo tragicômico das “novelas” na Europa, nos Estados Unidos e no Brasil.
O impasse nas negociações por um acordo comercial antes do Brexit, no dia 31, parece tão dramático quanto as tratativas entre republicanos e democratas por um novo pacote fiscal para alívio dos impactos econômicos da pandemia. A extensão do prazo entre britânicos e europeus, que terminaria ontem, e a divulgação de um projeto de US$ 900 bilhões em estímulos nos EUA hoje alimentam esperanças no exterior por um final feliz.
CHARGE: Brexit, a hora da brincadeira está acabando
Os índices futuros das bolsas de Nova York sobem, reagindo também às primeiras entregas da vacina da Pfizer/BioNTech nos EUA, que inicia hoje a imunização contra a covid-19. As praças europeias pegam carona no sinal positivo vindo de Wall Street, apesar da Alemanha anunciar um lockdown agressivo a partir de quarta-feira, enquanto a libra se fortalece. Na Ásia, a sessão foi sem brilho. O petróleo avança, com otimismo sobre a demanda.
Por aqui, a polêmica em torno do plano nacional de vacinação contra a covid-19 é apenas mais um episódio da série de absurdos que se passa na cena local. Enquanto isso, a pandemia segue avançando e está agora presente em todos os municípios do país. Aliás, um mês após as eleições municipais - ou duas semanas desde o segundo turno do pleito em algumas cidades - os projetos que interessam não avançaram em Brasília.
Pautas estão sendo votadas a toque de caixa entre parlamentares, como é o caso da nova lei de licitações e da MP da Casa Verde Amarela. Mas o Orçamento de 2021, a PEC Emergencial e a reforma tributária ficaram, todos, para o ano que vem, com o foco do Congresso na disputa pelas presidências na Câmara e no Senado. O único episódio previsto é a votação da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) de 2021, na quarta-feira.
Em meio a tudo isso, fica o receio de que os ativos de risco - em especial, as ações - subiram demais, antecipando um roteiro anunciado, mesmo com o coronavírus infectando mais pessoas no Ocidente. O fim da pandemia com a campanha de vacinação só vai se concretizar quando boa parte da população mundial for imunizada. E, ainda assim, permanecem dúvidas quanto à infecção e à transmissão do vírus por quem for vacinado.
BCs em destaque
Bancos Centrais do Brasil e no mundo roubam a cena ao longo desta semana. Por aqui, uma série de publicações estão em destaque. A começar pelo relatório de mercado Focus, hoje, que deve trazer revisões importantes para as estimativas das taxas de inflação (IPCA), câmbio e de juros (Selic), refletindo a queda acelerada do dólar e o tom duro (“hawkish”) do BC no comunicado da última reunião de política monetária deste ano.
Aliás, a ata do encontro será publicada amanhã e os investidores esperam encontrar os motivos que levaram o Copom a retirar do texto o espaço para novos cortes, ainda que residual, e a indicar a possibilidade de retirada da orientação futura (“forward guidance”). Mais que isso, a expectativa é entender quão “breve” se dará a exclusão dessa ferramenta e, principalmente, quanto tempo depois pode ocorrer a primeira alta da Selic.
Esclarecimentos adicionais podem vir do Relatório de Inflação (RI) referente ao quarto trimestre deste ano, que sai na quinta-feira. No documento, merecem atenção as previsões do BC para o IPCA nos diferentes cenários para Selic e dólar, além da estimativa para a economia brasileira (PIB) neste e no próximo ano. Destaque ainda para a entrevista coletiva do presidente do BC, Roberto Campos Neto.
Entre os indicadores econômicos, o BC continua no comando, trazendo o índice de atividade econômica (IBC-Br), hoje, o fluxo cambial (quarta-feira) e a nota do setor externo, na sexta. Já no exterior, o destaque fica com os eventos do Federal Reserve, concentrados na quarta-feira. O BC dos EUA anuncia a decisão de juros, atualiza as projeções econômicas e concede entrevista coletiva do presidente, Jerome Powell.
O destaque deve ficar com o anúncio de uma nova “Operação Twist”, na qual a autoridade monetária compra títulos longos e vende papéis curtos, sem a necessidade de emitir moeda, visando reduzir os juros de longo prazo e baratear o crédito. O Fed adotou essa estratégia entre 2011 e 2012 para tentar reverter o impacto recessivo da crise de 2008. No dia seguinte, tem as decisões dos BCs do Japão (BoJ) e da Inglaterra (BoE).
Ao longo da semana, serão conhecidos o desempenho da indústria e do setor de serviços na China, hoje à noite, nos EUA e na zona do euro.
Confira a seguir os principais destaques desta semana, dia a dia:
*Horários de Brasília
Segunda-feira: A semana começa com as tradicionais publicações do dia, a saber, o boletim Focus (8h25), do Banco Central, e os dados iniciais da balança comercial em dezembro (15h). Pela manhã, tem também o IBC-Br, às 9h, referente a outubro. No exterior, saem dados do mês passado sobre a atividade industrial e no setor de serviços na China, no fim do dia. Logo cedo, será conhecido o desempenho da indústria na zona do euro.
Terça-feira: O Banco Central continua no centro das atenções, com a publicação da ata da reunião de política monetária da semana passada. Também será conhecido o primeiro IGP do mês, o IGP-10. Nos EUA, é a vez dos dados sobre a indústria em novembro
Quarta-feira: O destaque do dia fica com a decisão do Fed, que será acompanhada da divulgação das projeções e de uma entrevista coletiva do presidente Jerome Powell. Entre os indicadores econômicos, saem as vendas no varejo norte-americano e as leituras preliminares deste mês sobre a atividade nos setores industrial e de serviços nos EUA e na zona do euro. Já a agenda doméstica faz uma pausa, mas segue comandada pelo BC, que traz os dados semanais sobre a entrada e saída de dólares do país (fluxo cambial).
Quinta-feira: O Banco Central continua roubando a cena e publica o Relatório de Inflação referente ao quarto trimestre, logo cedo. No fim da manhã, o presidente do BC, Campos Neto, concede entrevista coletiva. No exterior, merecem atenção as reuniões de política monetária dos BCs inglês e japonês.
Sexta-feira: A última semana completa do ano chega ao fim com uma agenda econômica fraca, sem destaques no exterior. Por aqui, sai a prévia da confiança da indústria neste mês e, novamente, o BC publica os dados sobre as contas externas em novembro.
*Aviso: a partir de hoje, A Bula do Mercado passa a ser semanal, publicada apenas às segundas-feiras. Em 11/01/2021, os textos voltam a ser diários.