Sensíveis aos movimentos das taxas de juros dos títulos da dívida soberana, às oscilações de moedas fortes e ao próprio sentimento de risco nas praças financeiras mundiais, os metais preciosos rolaram ladeira abaixo na Comex (divisão de metais da Nymex – New York Mercantile Exchange), referência para preços no mundo inteiro.
Os investidores ainda estão bastante otimistas com os ativos de risco e pouco preocupados com a aproximação da longa fase de desalavancagem financeira do sistema. O sentimento positivo retroalimenta a busca por risco, deixando os famosos seguros contra crises (metais preciosos) praticamente esquecidos no mercado.
Além disso, muitos gestores de hedge funds, que não discordam sobre a delicada situação do excesso de sobrepreço em ativos de risco, tem expressado, por outro lado, preocupação com o custo de oportunidade para se posicionarem, neste momento, em metais preciosos. Em outras palavras, o rali no mercado está muito bom para os gestores buscarem um seguro. Na visão desses gestores, ainda é melhor assumir o risco para abocanhar mais algum bom retorno a curto prazo, do que sentar e esperar o mercado estourar.
Também atentos aos movimentos dos banqueiros centrais, o mercado está dando mais atenção à curva de juros futuros. Com o FED (Federal Reserve – Banco Central dos Estados Unidos) cada vez mais hawkish em seus comunicados, os rendimentos dos títulos da dívida soberana voltaram a subir forte nas últimas semanas. Se por um lado esse movimento abre venda declarada para bonds nas praças desenvolvidas, por outro players especialistas em renda fixa ficam de olho para abrirem posições contrarian, fisgando taxas elevadas num contexto de curto prazo.
Os próprios especialistas em mercado de metais preciosos de vários bancos de investimentos em Londres e Nova York tem reforçado expectativas de cenário negativo, batendo na tecla do custo de oportunidade. Ouro e prata não pagam juros e ninguém parece estar preocupado no momento para buscar proteção.
Não resta dúvida de que há unanimidade no mercado em relação aos metais preciosos. Os preços respaldam esse sentimento. A unanimidade, entretanto, é sempre perigosa e tanto o ouro quanto a prata podem estar sinalizando bear trap.
O ouro vem de uma forte pressão vendedora, mostrando marubozus numa perna de baixa já consagrada, um primeiro sinal de possível elástico esticado demais. Na última sexta-feira a mínima do mês de maio foi perdida, levando os preços nesta segunda-feira a se aproximarem da mínima do mês de março.
As vendas em excesso podem ter acionado alguns investidores a comprarem ouro no pregão de hoje, acreditando que o metal está barato demais. O gráfico deixou um martelo na linha inferior de bollinger, bem na linha de suporte dos 1.214 dólares a onça troy, sinalizando falso rompimento. Sobrevendido e com reação da força compradora em ponto extremamente estratégico, o ouro volta a ter forças para subir no curto prazo, em busca da LTB e possível retomada da média móvel simples de 200 períodos diária.
No gráfico semanal, é possível notar que o ouro ainda está contando com o apoio da importante LTA iniciada em janeiro de 2016, que ficou marcada pelo nascimento da perna de alta após o crash dos últimos anos. Enquanto isso, os preços se afunilam dentro de uma cunha (ou triângulo simétrico), encurtando o espaço de tempo para uma definição direcional de médio prazo.
Na prata, o sinal de bear trap é mais dramático. O metal sofreu um atípico flash crash na última sexta-feira, levando os preços para muito abaixo da mínima do ano. Tudo ocorreu com o rompimento da principal região de suporte localizada na mínima do mês de maio, deixando o mercado muito eufórico para socar venda.
A reação veio nesta segunda-feira. Assim como no ouro, a prata deixou seu martelo no gráfico, colado na linha inferior de bollinger, em região de sobrevenda. Players na ponta vendedora ainda tentaram socar a prata no pregão de hoje, mas a força compradora ressurgiu, acionando stops e elevando os preços para a máxima do dia.
Já no gráfico semanal, diferentemente do ouro, a prata perdeu sua LTA de 2016. O ativo opera sem sustentação técnica, mas está na lona, próximo da mínima dos últimos anos, barato e esquecido. Ainda assim, a prata tende a continuar sendo uma oportunidade de compra a médio/longo prazo, principalmente se conseguir se manter acima da mínima de 2016.
O bear trap nos metais não significa a confirmação de reversão de ciclo bearish para ciclo bullish. Pode ser um movimento de curto prazo, sem força para alterar a dinâmica dos últimos anos. Entretanto, o custo de oportunidade para posicionamento em metais preciosos, após o crash de 2013/2014, não parece ser tão alto quanto se ventila no mercado. Traps relevantes também representam certa confiabilidade, não são tão comuns e costumam surgir em reversões de ciclos longos. Bom lembrar que a atual perna de alta do S&P500 se fortaleceu com um bear trap.