A economia brasileira já foi explicada por muitos gráficos. Inflação de um lado, juros do outro, câmbio no meio — tudo muito bem desenhado nas apresentações do Banco Central. Mas, desta vez, o convite foi diferente. O BC tem ouvido, cada vez mais, quem está na ponta. Quem sente no caixa, na folha de pagamento, no preço da matéria-prima, no vai-e-volta do dólar.
Em vez de planilhas e projeções, Brasília quis escutar a boa e velha prática.
E foi aí que entrei nessa história. Fui convidado a participar de uma reunião com parte da equipe econômica do BC para discutir o cenário macroeconômico brasileiro. Fiquei honrado, claro. Mas, mais do que isso, saí com a sensação de que, talvez, estejamos evoluindo na forma de fazer política monetária no país.
Antes de seguir, vale a explicação: o Banco Central do Brasil é a instituição responsável por controlar a inflação e garantir a estabilidade do poder de compra. Para isso, a principal ferramenta é a taxa Selic, definida a cada 45 dias pelo Comitê de Política Monetária (Copom). Quando a inflação ameaça sair do controle, o Copom sobe os juros. Quando há espaço para estimular a economia, corta. Simples na teoria, difícil na prática. A lógica é clássica: juros mais altos encarecem o crédito, desestimulam o consumo e o investimento e, com isso, reduzem a pressão sobre os preços.
É como se o Banco Central apertasse o freio da economia para esfriar os ânimos. Funciona, mas tem efeitos colaterais, especialmente para quem vive do lado real da economia.
Quando a dose é alta demais (ou demora a ser reduzida), os impactos recaem sobre o crescimento, o emprego, o acesso a capital e a sobrevivência de negócios. E é esse equilíbrio delicado que o Copom tenta perseguir e que nem sempre os modelos conseguem capturar com precisão.
É nesse cenário que empresários e representantes do setor produtivo têm sido ouvidos pelo Banco Central, para trazer uma visão real da economia: longe dos modelos, perto dos boletos. Afinal, entender o que trava o investimento na prática é essencial para calibrar decisões de política monetária.
E eu, como atuante da área de Relação com Investidores, sei que parte essencial do nosso trabalho é justamente essa: ter leitura macro, entender os ciclos e traduzir tudo isso em impacto real para o negócio. Ter espaço para levar essa visão a quem toma decisões estratégicas é, além de uma responsabilidade, um sinal de maturidade institucional.
E, convenhamos, sair um pouco do Excel faz bem a todos nós.