O que esperar da economia brasileira em 2017? Nossa equipe discute vários temas centrais que vão dar o que falar em 2017, na economia e política nacional. Confira esse “olhar do terraço” e participe comentando o que você acredita que irá acontecer esse ano, aqui na Terra Brasilis.
Política Fiscal:
Por ora, não houve ajuste fiscal. A retórica conhecida e amplamente desmentida é que o ajuste fiscal levou o país para a recessão desde 2015. O argumento é falacioso por dois simples motivos: a recessão começou em 2014 e não houve corte de gastos desde então, muito pelo contrário, as despesas do governo estão crescendo. Em 2017 não será diferente.
Mesmo com a aprovação da PEC do teto dos gatos, a despesa pública continuará crescendo, pressionando o déficit primário. É importante elencar os motivos: i) o teto é baseado na inflação do ano passado, que no caso de 2017 será a inflação de 2016. A inflação de 2016 será algo em torno de 6,40% ao passo que 2017 apresentará inflação na meta (4,50%). Apenas nessa brincadeira já ouve aumento real (6,40% em cima de um crescimento dos preços de 4,50%); ii) Mais do que isto, os gatos com Saúde e Educação terão uma evolução especifica ano que vem, onde o piso do primeiro ficou estabelecido como 15% da Receita Corrente Líquida de 2017 e o segundo com piso de 18% da receita de impostos de 2017. Desta forma, teremos forte aumento reais nestas duas rubricas.
Isso quer dizer que a PEC é ruim? Não, apenas que ela promove um ajuste muito mais gradual e menos agressivo, o que fará com a relação Dívida Bruta/PIB ainda tenha uma trajetória crescente nesses primeiros anos, invertendo apenas lá na frente. A situação fiscal brasileira ainda é crítica, e a Reforma da Previdência é mais um passo dessa batalha.
Política Monetária:
Parece que a inflação arrefeceu. A retomada da credibilidade na autoridade monetária, aliada a uma desinflação de preços de alimentos e de serviços (este último muito fortemente influenciado pela brutal crise económica pela qual o país passa) fizeram com que a inflação de 2016 esteja projetada já dentro da meta do BC, após um 2015 em 10,7%. E o melhor ainda: a inflação para os próximos anos – 2017 e 2018 – já está estimada na meta. Assim, com a atividade ainda se retraindo e com ociosidade e com o Banco Central nas mãos de quem sabe fazer, há um bom espaço para a queda de juros no Brasil em 2017.
Uma continha básica: se a inflação continuar sua trajetória de queda, o Banco Central deverá perseguir uma taxa real muito próxima da nossa média no passado recente, algo em torno de 5% – 6%. Inflação em 4,5% e taxa real em 6% equivalem a uma taxa Selic nominal de 10,5%. Justamente a previsão mediana de mercado. Com a Selic nos atuais 13,75%, devemos ter uma queda mais acelerada dos juros. Não que isso vá reavivar a economia brasileira. Mas desta vez, a queda de juros não será na marretada e a inflação parece que ficará controlada.
Política Interna:
Três temas devem ser centrais na política brasileira em 2017: 1) A possível cassação da chapa Dilma-Temer pelo TSE: denúncias sobre doações irregulares para a campanha da chapa vencedora em 2014 estão sendo analisadas e há possibilidade de que Temer deixe a presidência caso ocorra a condenação. Há uma tentativa da defesa de Temer de desvincular suas contribuições às de Dilma, mas tal justificativa é tida como juridicamente fraca; 2) Com a possível saída de Temer: eleições para o novo presidente. Segundo a constituição, caso um presidente sofra impeachment ou se ausente por qualquer motivo, as eleições são diretas se o ocorrido for nos primeiros dois anos de mandato e indiretas se forem nos dois últimos. Porém, após a mini-reforma eleitoral de 2015, ficou decidido que eleições indiretas só ocorrem se a saída acontecer nos últimos seis meses do mandato. Com isso, podemos ter eleições diretas em 2017; 3) Por último e não menos importante, a delação da Odebrecht e os rumos da Lava Jato: a famigerada “delação do fim do mundo” tem indicado o envolvimento de dezenas – se não centenas – de parlamentares em esquemas de corrupção, e os efeitos disso serão sentidos fortemente em 2017. Qualquer tentativa de encerramento abrupto das investigações, como se temia após o processo de impeachment, deve ser contida – uma vez que aqueles que teriam interesse nisso estão (ou logo estarão) no alvo da mídia, da pressão popular e das investigações. Eduardo Cunha também deve delatar, mas é pouco provável que sua delação cause mais danos que a da Odebrecht.
Em suma: na política, 2017 tende a ser mais agitado que o ano que está se encerrando. Talvez pela previsibilidade cada vez menor deste cenário: quando do impeachment de Dilma, imaginava-se que a entrada de Temer iria colocar um rumo na situação econômica; algo já se iniciou – como a PEC do Teto, que foi aprovada -, mas o muito que faltaria – reformas previdenciária e trabalhista, por exemplo – dependem de um fator político que pode deixar de existir, apesar da atual equipe econômica ser muito boa. Isso sem falar no vácuo de lideranças políticas ocorrido agora: dificilmente quem assumir as rédeas com uma eventual saída de Temer vai querer ter alguma relação com a situação atual – e, com isso, as reformas devem cessar seu andamento.
Economia Internacional:
Enquanto isso, no cenário internacional, a eleição de Donald Trump nos EUA e a decisão do Reino Unido de abandonar o projeto político-econômico da União Europeia (o famoso Brexit) contaminaram o até então interregno benigno vindo de além mar. No curto prazo, o novo ambiente político eleva o grau de incerteza e aversão ao risco nos mercados internacionais, impactando negativamente países considerados mais arriscados – principalmente emergentes, como o Brasil.
No médio prazo, a normalização da política monetária norte-americana, acelerada por uma provável política fiscal expansionista conduzida pelo Presidente recém eleito, torna-se importante fator para decisões de política monetária de países como o Brasil, ao atrair investidores estrangeiros de volta aos juros não mais tão baixos assim na terra do Tio Sam e impactando moedas (e, consequentemente, índices de inflação) em terras Tupiniquins. Por outro lado, ainda é incerto o impacto de uma política protecionista norte-americana e de uma União Europeia enfraquecida pela saída dos britânicos.
Enquanto políticas contra o livre comércio nos EUA impactarão negativamente o volume do comércio global, a baixa inserção do Brasil em cadeiras globais de valor o protegerá de maiores impactos; ao mesmo tempo, países antes fora do radar europeu, como o Brasil, passarão a ser vistos como opção para aproximação comercial para um Reino Unido obrigado a negociar sua vida do zero. Em suma, incerteza e cautela serão as principais palavras no cenário internacional de 2017.
Investimentos:
A perspectiva para 2017, do ponto de vista do mercado de investimentos, especialmente para a bolsa de valores é construtiva. A inflação retornando a meta e cada vez mais ancorada irá proporcionar um ciclo de corte de juros mais consistente, e por sua vez, terá um efeito positivo sobre as empresas e seus múltiplos. Causando um alívio ao custo de dívida, impulsionado pela melhora do ambiente econômico, com o crescimento das receitas e resultados mais fortes do que os anos anteriores.
Em uma análise rápida da matriz de Preço/Luro alinhada ao percentual de Crescimento dos Lucros, podemos elaborar uma análise de sensibilidade da cotação do Ibovespa. O valor de preço justo entre as variáveis corresponde aproximadamente 73 mil pontos, correspondente a up-side de 24% para o próximo ano, evidentemente que é uma projeção do valor justo dos papéis e trabalha com o cenário benigno de nenhum grande choque exógeno ou evento que possa depreciar o mercado. Fato é que: mesmo após a recuperação do índice em 2016 em torno de 40%, tal recuperação esteve mais ligada a euforia política e diminuição do risco-pais, agora a valorização tende a ser mais consistente e alinhada aos fundamentos macroeconômicos e microeconômicos de cada setor ou empresa.
Ademais, outra novidade – após anos de ostracismo – é a volta dos IPOs (oferta pública de ações). Como o mercado financeiro vive de boatos, estima-se que 20 operações estão no pipeline do próximo ano, número um pouco excessivo em nosso ponto de vista. Compõe o hall de nomes: Unidas, Movidas, Carrefour (PA:CARR), XP Investimentos, Bio Ritmo, IRB, etc. Vale (SA:VALE5) lembrarm que estas operações costumam ser ótimas oportunidades de investimentos, pois o mercado normalmente não precifica de forma perfeita tais ativos, gerando oportunidades de arbitragem e/ou de se tornar sócio em empresas com ótimos fundamentos para um cenário de longo prazo.
Para aqueles mais conservadores e que não queiram se arriscar em fortes emoções da bolsa de valores, a renda fixa ainda assim é uma alternativa rentável. Apesar do ciclo de corte de juros, a taxa ainda é elevada, atualmente estamos falando de um cenário de taxas de juros real em torno de 7%, o que gera oportunidades de investimentos em títulos pré-fixados (travando a sua taxa de juros atual). Títulos atrelados à inflação começam a perder atratividade, especialmente após o grande boom ocorrido em anos anteriores (o investidor que teve sangue frio nesse período, obteve taxas nunca antes vistas como 16%a.a. durante 5 anos e sem risco… Coisas de Brasil)
No mundo de investimentos as premissas são dinâmicas e os movimentos são rápidos. Então, estejamos em alerta para um novo horizonte que vem se abrindo.
Reformas Microeconômicas:
Pacote para sair da crise, pacote para incentivar a economia, Conselhão de empresários. O Brasil, em especial os dois últimos governos do PT, adora esse tipo de saída para os problemas. A questão é que estas não são saídas.
Demora-se em média 83 dias para abrir uma empresa no Brasil. Nossos vizinhos chilenos demoram apenas três. Se abrir o próprio negócio já é uma tortura, ao tocá-lo no dia a dia percebe-se que aquele foi apenas o primeiro obstáculo. Empreendedores brasileiros levam em média 2,6 mil horas por ano só preenchendo a papelada. Os bolivianos, em segundo lugar, levam menos da metade do tempo: 1.025 horas. Não há pacote ou Conselhão que resolva isso a não ser boas reformas.
O governo de Dilma Rousseff incentivou a desvalorização da moeda e forçou as taxas de juros para baixo mesmo com a inflação em trajetória de alta. Com isso, o governo ignorou as reformas microeconômicas necessárias. Felizmente, eu acredito que o governo Temer colocou estas reformas microeconômicas em pauta. Posso estar sendo otimista demais, mas o final de 2016 me dá esta brecha. Com isso, a equipe econômica pode tornar o país mais competitivo e saber que nem tudo é câmbio desvalorizado ou medidas macroeconômicas. Os empresários precisam fazer negócios de maneira simples, não muito mais que isso. E não ser um herói forçado.
Reforma da Previdência:
Intertemporal, essa é a palavra que tem guiado as reformas fiscais do governo Temer. Equilíbrio intertemporal das contas públicas, com a já aprovada PEC55 e agora com a PEC da reforma da previdência, tudo isso para um ajustamento fiscal que dure décadas e não alguns poucos anos. A confiança de longo prazo do país depende dessa confiança intertemporal.
A reforma não é dura, é necessária. Hoje para se aposentar com 100% do benefício o indivíduo deve trabalhar algo em torno de 41 anos. Então para se aposentar com o teto, segundo as regras antigas, um sujeito de 23 anos se aposentaria aos 64 anos. Com o mesmo tempo de contribuição e com as novas regras, ele se aposentaria com 92% do benefício, ou seja, 8% de taxa de sacrifício, se ele quiser os 100% vai ter que trabalhar mais 8 anos. O exemplo mostra que a reforma não é tão dura quanto se pensa e que ninguém vai precisar trabalhar até morrer para ter o teto.
Importante notar também que mais de 90% dos benefícios pagos pelo INSS são de até 5 salários mínimos, e quase 70% do total é salário mínimo. A reforma a ainda mantém os benefícios atrelados ao salário mínimo, ponto negativo, que deveria ser revisto, porém, uma batalha de cada vez.
Privatizações:
Com mais força no início do Governo Temer, o assunto das Privatizações/Concessões cairam de volume após as pautas políticas ganharem espaço nos noticiários. Temer chegou a dizer que queria privatizar “tudo o que for possível”, em diversas áreas como aeroportos, saneamento, energia e rodovias.
Mais do que as concessões, temos que pensar na lógica por trás disso tudo. Assim como no caso da PEC dos Gastos, que trouxe uma discussão sobre o orçamento do Governo e a alocação dos recursos, a possível “onda” de privatizações nos leva a refletir: quais são os setores que o Governo deve ser dono de empresas? Faz sentido usar recursos públicos para isso, ou seria melhor utiliza-los de outra forma? Há algum setor absolutamente estratégico para o país? Se há alguma área que a iniciativa privada seja mais eficiente e capaz de entregar o mesmo resultado, vamos em frente.
Leia diariamente essa e outras análises sobre política e economia no site Terraço Econômico