É pandemia, eleição em outubro, extremamente polarizada e povoada pelo populismo atrasado do passado, bancos centrais, pelo mundo, pensando em como apertar suas políticas monetárias, diante de fenômeno inflacionário pós-pandemia, commodities em aceleração, etc. Enfim, um “mundo novo”, cheio de armadilhas e situações inéditas. Como atravessá-lo? Toda cautela será necessária.
No Brasil, eleição deve capitalizar as atenções dos mercados, mas a disputa polarizada entre Lula e Bolsonaro, não parece agradar parte do eleitorado, de olho numa outra alternativa, numa terceira via. Nesta, disputam espaço, Sergio Moro, Ciro Gomes, Simone Tebet, Rodrigo Pacheco, entre outros. Claro que para o PT o ideal é ter Bolsonaro como adversário. E as pesquisas já parecem refletir isso. Lula folga com 40% e Bolsonaro estaciona nos 20%. Ambos os candidatos continuam lutando para ir ao segundo turno, rejeitando a hipótese Sergio Moro, por exemplo.
Na economia, a situação é muito delicada, com muitos falando em recessão neste ano, depois de um crescimento de 4,5% em 2021, em muito pela base de comparação; a inflação passou de 10,0% em 2021 e parece próxima de 5% neste ano, o juro deve passar de 11% e o câmbio ameaça chegar a R$ 6,00. Sobre o a bolsa de valores, será um ano de extrema volatilidade e as ações devem sofrer com isso. E tudo piora quando se vê a agenda econômica do PT, totalmente descolada no tempo e no espaço. Uma série de medidas populistas, irresponsáveis e sem nexo para o mundo que vivemos, parecem estar em gestação.
No mundo, os EUA tomam a frente no processo de normalização monetária, mas toda cautela é necessária. Para este ano, a taxa do Fed Funds, em 0,25%, deve ter um ajuste agora em março de 0,25 ponto percentual, e mais dois ou três, na mesma intensidade, ao longo do ano. Lembremos que o CPI, que sai hoje, passa de 6,8% e o objetivo é trazê-lo para o centro da meta, em 2%. Neste contexto, o Fed, atrás da curva, deve correr atrás do prejuízo e elevar o juro nos próximos dois anos. Tudo, no entanto, dependerá do ritmo da inflação e da economia, com especial atenção para o nível de emprego.
Na terça-feira, o dólar registrou uma queda forte, mais de 1,6%, a R$ 5,58, enquanto a bolsa de valores registrou uma boa valorização de 1,8%, a 103.778 PONTOS. A corroborar para isso o discurso de Jerome Powell no Congresso. Disse ele que elevará o juro por mais tempo para controlar a inflação. Ao que parece, este tom mais hawkish já foi “precificado” pelo mercado. No Brasil, juros futuros médios e curtos fecharam próximos da estabilidade, já que o IPCA mais elevado não mudou as apostas de elevação da Selic em 1,5 ponto percentual na próxima reunião do Copom. Uma carta de justificativa do Bacen também acabou inevitável, mesmo que repetindo a ata do Copom.
Hoje, como dito acima, é dia de CPI de dezembro, com o mercado atento para o núcleo do índice, previsto em torno de 5,4% contra 4,9% em novembro. Muitos no mercado, inclusive, acham que a inflação deve piorar um pouco, antes de começar a ceder, conforme observamos no gráfico a seguir.
Carta aberta do Bacen
O Bacen divulgou sua carta aberta, enviada pelo presidente Roberto Campos Neto, ao ministro Paulo Guedes. Cumprindo o estabelecido no decreto 3088, de 21 de junho de 1999, disse o seguinte:
Explicou quais foram os motivos para o estouro da meta de inflação em 2021 (de 3,75%). O IPCA encerrou o ano em 10,06%, sendo o principal “culpado” a “inflação importada”, com contribuição de 4,38 pp, ou 69% do desvio total, de 6,31 pp.
“Destacam-se as contribuições de 2,95 pp do preço do petróleo, 0,71 pp das commodities em geral, medidas pelo Índice de Commodities – Brasil (IC-Br), e 0,44 pp da taxa de câmbio”. A lista dos culpados incluiu ainda a inércia do ano anterior (1,21 pp) e a bandeira tarifária de energia elétrica (0,67 pp).
“As expectativas de inflação medidas pela pesquisa Focus contribuíram com 0,25 pp”. A carta cita ainda os choques sobre os preços industriais (1,77 pp), refletindo os problemas logísticos e os desequilíbrios entre oferta e demanda globais. “No sentido oposto, o hiato do produto estimado atuou para a inflação ficar abaixo da meta, com contribuição de -1,21 pp”. Campos Neto comentou na carta que, embora a contribuição da taxa de câmbio para a inflação tenha sido menor que em 2020, “cabe destacar a quebra no padrão histórico de apreciação da moeda nacional durante ciclos de elevação nos preços das commodities”.
Para 2022, a inflação deve ser menor. Usou o trecho da Ata, de que “o Copom irá perseverar em sua meta até que se consolide processo de desinflação e até que haja ancoragem de expectativas.”
Jerome Powell no Congresso
Reiterou seu compromisso com o uso dos instrumentos necessários para combater a inflação e apoiar a economia e o mercado de trabalho. Achou que a “normalização da política monetária” ainda pode acontecer neste ano, incluindo aumento da taxa de juros e liquidação do balanço. O fim na compra de ativos, como previsto, deve acontecer em março. No mercado de trabalho, a demanda por mão de obra é maior do que a oferta, o que tende a elevar os salários. Espera-se que as pressões inflacionárias persistam até o próximo ano. Enfim, foi um discurso sem surpresas, o que fez com que os mercados operassem em alta neste dia.
Sobre a Pandemia
São mais de 3 milhões de casos no mundo, na terça-feira, novo recorde. Esta alta foi impulsionada pelos EUA, com 1,48 milhão de novos infectados em 24 horas. Na Espanha, o governo pede a OMS que comece a encarar a Covid como algo endêmico, o que é considerado ainda cedo pela instituição. Seria considerar a Covid uma simples gripe.
Anthony Fauci, conselheiro médico da presidência dos EUA, acha que podemos “estar mais perto de uma situação mais controlada” na Covid 19, mas insistiu que a única solução é avançar com a vacinação. Acha ele que o vírus não será erradicado ou eliminado, mas o uso de máscaras e a vacinação podem controlar o avanço. A questão aqui é saber se o mundo estará preparado de, a cada seis meses, ter que realizar vacinações em massa das populações. Diversos observadores não vêem isso como algo viável.
No Brasil, foram 70.765 novos casos ontem, em 24 horas, com 147 mortes. Os novos casos dobraram em 24 horas e quase quadruplicaram em uma semana. Já o ministro Queiroga disse que a primeira remessa de doses de Pfizer (NYSE:PFE) para crianças chega no dia 13 e serão prontamente distribuídas.
Na China, um lockdown mais pesado acontece e teses em massa são realizados. Fábricas são fechadas, portos paralisados e falta mão de obra. Esta tolerância zero, por certo, acabará por derrubar a economia chinesa, com reflexos inevitáveis sobre o resto do mundo. Empresas como Samsung (KS:005930), Adidas, Nike (NYSE:NKE), Volkswagen (DE:VOWG), estão em dificuldade de produção, pela falta de insumos ou componentes, como chips. Diante disso, as previsões de crescimento da China, para 2022, estão sendo revisadas. Não mais 4,8%, mas 4,3% neste ano, em função da variante Ômicron.
Na Argentina
O populismo peronista de Alberto Fernandez já começa a se esgotar e, mais uma vez, o país correr o risco de perder os créditos das instituições multilaterais. Uma delas, o FMI, já parece cansado das promessas de reestruturação da dívida. Um novo acordo está sendo tentado. Para piorar, a Covid 19, com a nova variante, segue cometendo estragos. Ontem, foram 134.439 CASOS em 24 horas, novo recorde.
Servidores públicos
Nas mobilizações por reajustes, já temos a receita federal, o Banco Central, analistas do Tesouro, do comércio exterior, etc. Os analistas do BC FALAM em paralisação no dia 18 e greve em fevereiro.
INDICADORES
No Brasil
Pelo IBGE, o IPCA registrou 0,73% em dezembro, fechando o ano a 10,06%.
Maior impacto veio do item Transporte, em alta de 21,03% em 2021, com impacto de 4,19 pontos porcentuais na alta de 10,06%. O item Habitação subiu 13,05% e o item Alimentação e Bebidas 7,94%. Juntos, Transportes, Habitação e Alimentação respondem por 79% do IPCA de 2021. Abrindo estas contas, Gasolina registrou alta de 47,49%; Etanol: + 62,23%; Energia elétrica: + 21,21%; Botijão de gás de cozinha: + 37% e Alimentação no domicílio: + 8,24%.
Em suma, a difusão do IPCA passou de 63% em novembro para 75% em dezembro. Esse índice mede quantos dos 377 subitens que compõem o IPCA tiveram alta de preços no período.
Para janeiro, as projeções indicam algo em torno de 0,45% a 0,50%, com a elevação nos preços da carne, exportada para a China, e outros alimentos. Depois de reajuste do combustível, pela Petrobras (SA:PETR4), de 4,8% na gasolina e 8,8% no diesel, o IPCA, neste ano, deve ficar mais próximo de 5%.
OCDE
Instituição disse que a inflação do bloco de países chegou a 5,8% em novembro, maior patamar desde 1996. Em outubro, o CPI anual foi a 5,2%. Grande foi a contribuição dos preços da energia, que pularam 27,7% em novembro, maior alta desde junho de 1980.
Na China
CPI veio em 1,5% em dezembro, abaixo das previsões (1,6%). Já o PPI registrou 10,3%, também abaixo das estimativas de 11,2%.
MERCADOS
No Brasil, o Ibovespa fechou o pregão do dia 11/01 em forte avanço de 1,8%, a 103.778 pontos. e o dólar encerrando o dia em queda de 1,6%, a R$ 5,58.
Na madrugada do dia 12/01, na Europa (05h12), os mercados futuros operavam em ALTA: DAX (Alemanha) +0,59%, a 16.036 pontos; FTSE 100 (Reino Unido), +0,51%, a 7.529 pontos; CAC 40 +0,64%, a 7.529 pontos, e EuroStoxx50 +0,69%, a 4.311 pontos.
Na madrugada do dia 12/01, na Ásia (05h11), os mercados operaram em ALTA: S&P/ASX (Austrália), -0,66%, a 7.438 pontos; Nikkei (Japão) +1,92%, a 28.765 pontos; KOSPI (Coréia), +1,54%, a 2.972 pontos; Shanghai +0,84%, a 3.597, e Hang Seng, +2,53%, a 23.339 pontos.
No futuro nos EUA, as bolsas de NY, NO MERCADO FUTURO, operavam EM ALTA neste dia 12/01 (05h10): Dow Jones, +0,13%, 36.176 pontos; S&P500 +0,13%, 4.711 pontos, e Nasdaq +0,20%, a 15.875 pontos. No VIX S&P500, 18,95 pontos, -0,02%.
No mercado de Treasuries, US 2Y AVANÇANDO 0,87%, a 0,9068, US 10Y +0,33%, a 1,752, e US 30Y, +0,54%, a 2,083. No DXY, o dólar +0,02%, a 95,645, e risco país, CDS 5 ANOS, a 212,7 pontos. Petróleo WTI, a US$ 81,44 (+0,27%) e Petróleo Brent US$ 83,75 (+0,04%). Gás Natural +2,52%, a US$ 4,36 e Minério de Ferro, +3,07%, a US$ 737,50.
Na agenda desta QUARTA-FEIRA, DESTAQUE para a divulgação do CPI de dezembro e o Livro Bege nos EUA. Também sai por lá o Resultado Fiscal Mensal de dezembro e o Tesouro realiza um leilão primário de treasuries de 10 anos. Na Zona do Euro temos a produção industrial de novembro.