O estudo das dinâmicas de crédito refere-se às interações e movimentos no mercado creditício, incluindo a concessão, utilização, pagamento e outras variáveis que impactam significativamente a economia global. As dinâmicas de crédito são frontalmente influenciadas por dois fatores, o fator exógeno e o fator endógeno. Apesar de utilizar uma simplificação para compor as variáveis da precificação do crédito, em última análise, a condensação desses conceitos resultam nessa dualidade.
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O fator endógeno refere-se às condições internas dos agentes envolvidos na operação, tanto do credor, quanto do devedor. Do credor, o agente econômico pratica uma autoanálise com base em seu nível de liquidez, alavancagem e de suas outras possibilidades, sempre maximizando a equação entre o maior lucro e o menor risco possível. Agora, os fatores endógenos do devedor incluem a sua capacidade de pagamento, seu histórico e os termos do empréstimo. Ou seja, a análise para com a precificação dos fatores que influem na mesma, apesar de duais, são multifatoriais, uma vez que englobam a compreensão sistêmica dos agentes econômicos envolvidos na operação de crédito.
O fator exógeno refere-se às variáveis macroeconômicas das condições, tanto setoriais como sistêmicas. Principalmente, o credor deve ter noção das condições acomodatícias delimitadas pelo banco central, traduzidas em suas políticas monetárias, as taxas interbancárias, delimitadas pelas condições de liquidez no sistema financeiro e pelos riscos legais e monetários da operação. Aqui, também cabe analisar as possibilidades externas da alocação desse capital, que podem se mostrar mais rentáveis a depender dos fatores explicitados pela análise dos sinais de preço e compreensão dos ciclos econômicos.
Uma vez estabelecidos os fatores que influenciam na precificação das variáveis do mercado creditício, e, entendendo a sua complexidade inerente e multifatorial, podemos voltar a nossa atenção à compreensão da harmoniosa relação entre os ciclos de crédito e os ciclos econômicos. Os ciclos de crédito estão intrinsecamente ligados aos ciclos econômicos, uma vez que a liquidez resultante da expansão/flexibilização monetária e do emprego desse capital na economia real, permite a expansão do ciclo de crédito concomitantemente da expansão do ciclo econômico.
Tendo por objeto a economia hodierna, onde os ciclos de mercado são controlados/suavizados pelas políticas econômicas, mas, por principalmente, as políticas monetárias do banco central, a expansão tanto do ciclo creditício, quanto do ciclo econômico, ganham "momentum" a partir da flexibilização nas políticas dos bancos centrais. Quando eu digo que ganham momentum, quero dizer que ganham expressividade, uma vez que a concepção do aumento de liquidez em um mercado qualquer, não é por si só exclusividade da concessão do banco central, mas pelo acúmulo subjacente de capital, seja em depósitos ou bens de capital. Ou seja, em um mercado que atua sem uma intermediação a partir de um banco central, por exemplo, os ciclos econômicos e creditícios ainda aconteceriam, mas se tornaram mais dinâmicos e menos previsíveis.
Agora, além das taxas interbancárias e do controle de liquidez indireto (que fazem parte da práxis na maioria do ferramental de políticas monetárias), a partir de políticas monetárias que, diretamente, enxugam os meios circulantes da economia real, como o banco central atua diretamente na manipulação dos ciclos de crédito?
1) Através das taxas de depósito, o banco central consegue sinalizar o direcionamento de suas políticas monetárias. Quando as taxas de depósito estão altas, os bancos preferem manter parte da sua liquidez depositada junto ao banco central, uma vez que esses depósitos remuneram em taxas satisfatórias e são absolutamente seguros. Dessa forma, mantendo uma taxa de depósito alta, o banco central consegue diminuir a liquidez operacional de instituições financeiras, interferindo nas taxas interbancárias e de empréstimos, pois, obviamente, a oferta disponível para o financiamento de novas incursões de mercado estão restritas com menos liquidez do que o usual.
2) Através de operações de recompra reversa, ou "reverse repo". Nessas operações, as instituições financeiras compram ativos do banco central em troca de uma promessa de recompra futura pelo mesmo. Nessas operações, como as instituições financeiras estão materialmente fazendo uma transação de capital em troca de títulos do banco central, a liquidez está fluindo da instituição financeira para o banco central, ou seja, essa liquidez está sendo drenada da economia real, o que dificulta as condições de liquidez para o mercado creditício.
3) Via Operações no Mercado Aberto (OMO, "Open Market Operations"). O banco central poderá utilizar-se do mercado aberto para vender seus ativos, retirando assim, liquidez do sistema financeiro, já que instituições financeiras tendem a comprar esses títulos, em contrapartida de capital.
4) No que tange às Reservas Bancárias, o banco central pode estabelecer uma quantidade maior como mínimo legal, impor requisitos de reservas adicionais e poderá ajustar as suas taxas de depósito para reservas acima de um limite pré-estabelecido.
5) Além das ferramentas monetárias tradicionais, os bancos centrais podem usar instrumentos macroprudenciais, como limites de empréstimos ou requisitos de capital, para influenciar a oferta de crédito.
Portanto, diretamente, o banco central possui diversas maneiras de suavizar e delinear os ciclos de crédito e de liquidez, que certamente são correlatos e tendem a se sincronizar com os ciclos econômicos de retração/expansão.
A partir da compreensão dessa consonância, os agentes econômicos balizam as condições acomodatícias de crédito a partir dessa dualidade de fatores, que parecem complexos, mas, na verdade, fazem parte do ciclo natural de acumulação/gozo do capital. Além dessas condições, os ajustes finos, que garantem a adaptabilidade das condições creditícias às ocorrências fatoriais e conjunturais próprias de um ciclo econômico específico, deverão ser adotadas, como adaptabilidade e conciliação à concorrência no mercado creditício, choques de preços externos, percepção da duração do ciclo econômico (sempre enxergando as metas delimitadas pelo banco central em suas políticas monetárias), influência de fatores fiscais, etc.