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Outubro rosa

Publicado 24.10.2023, 10:00
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“Não basta ter a voz mais melodiosa para entoar um tango. Não. É preciso senti-lo. Há que se viver o seu espírito.” Difícil discordar de Carlos Gardel neste tema. Buffett diria que ele está em seu círculo de competência. O povo argentino parece mesmo atender a uma vocação especial para a dramaticidade. 

Surpreendendo o consenso, Sérgio Massa, o candidato da situação, liderou o primeiro turno das eleições na Argentina. Num primeiro momento, pelo menos, a posição foi interpretada como uma vitória do kirchenerismo (ou do peronismo, se preferir) e da esquerda latino-americana. Será mesmo o caso?

A princípio, Milei e Bullrich representam o espectro da direita e, de novo, ao menos de largada, deveriam gozar de maior proximidade ideológica. Somados seus votos, ultrapassam com folga o percentual capturado por Massa. O risco para a direita seria Milei ser percebido como um lunático radical, pronto para ir para o arriscado tudo ou nada. Então, Macri (e todo o establishment ortodoxo) poderia se aproximar de Massa, que viria para o centro num governo de Frente Ampla. Milei, no entanto, já abranda seu discurso e tenta se aproximar do mainstream, mostrando-se agora como menos radical e disposto a também convergir para o centro. Aliás, a pior coisa que poderia acontecer com a direita seria eleger um aventureiro inconsequente. Medidas inconsequentes costumam ter consequências profundas e perversas. Uma eventual tragédia imposta por um plano anarco-capitalista radical poderia macular indevidamente o liberalismo na Argentina e condenar o país a uma espécie de perpetuidade do peronismo. Cada país tem o liberal que merece — Friedman e Hayek se contorcem no túmulo. 

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Nesse sentido, o segundo lugar pode ser pedagógico para Milei, que deveria caminhar em direção a Macri. Em sendo o caso, haveria todas as condições ainda de ser eleito, com um discurso mais ortodoxo e centrista. Indo por aí, o mercado reagiria positivamente, ao menos no curto prazo, levando os bonds argentinos para algo mais próximo a 40% do valor de face. Então, seria a hora de vender. O tamanho do problema argentino não é obra do acaso (pelo menos, não apenas do acaso). Foi necessário muito esforço para produzir uma tragédia desse tamanho. O sacrifício social de curto prazo necessário para realizar o ajuste não goza do necessário apoio popular. Aí a tentação de arriscar uma solução mágica chega para visitá-los justamente na hora mais escura. Somos velhos demais para acreditar em solução mágica.

Na ausência de um, acordamos com dois tangos tristes (pleonasmo?) nesta segunda-feira. O yield dos Treasuries de 10 anos bateu a fatídica marca de 5%. Tecnicamente, não há muita diferença entre 4,98% e 5%, mas essas barreiras psicológicas servem de acionamento de ordens de stop e chamam atenção do investidor marginal. Como lembrou recentemente Jamie Dimon, ir dos 3% para os 5% é bem diferente de irmos dos 5% para os 7%. Nesses níveis mais altos, coisas estranhas começam a acontecer. O risco de aparecer uma baleia boiando, encontrar um cadáver no meio da pista ou trombar com a mula sem cabeça no elevador do prédio aumenta bem. 

Eu nunca comprei muito essa história do “no landing”. Temos uma tendência arraigada em extrapolar para o futuro as condições presentes e perpetuá-las. Antes, o juro seria zero para sempre, o home office tinha virado tendência secular e não haveria mais escritórios corporativos grandes, lojas físicas seriam extintas, por aí vai. Agora, o juro não vai parar de subir nunca e a economia vai continuar crescendo sem percalços. 

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Assim, violamos um princípio básico de ciclicidade da economia e dos mercados. O preço do cobre já nos emite um sinal importante nessa direção hoje e ele costuma ser um bom indicador antecedente da atividade econômica. 

Acreditar em “no landing” da economia norte-americana seria, em grande medida, desqualificar os efeitos da política monetária. Romperíamos com os livros-texto — como aliás tentamos fazer recentemente com aquele absurdo da moderna teoria moderna (em outro sentido); deu no que deu. 

Como todo mundo travou taxas muito baixas por bastante tempo quando o juro estava zero (famílias, empresas e compradores de imóveis), talvez os efeitos da política monetária demorem um pouco mais, mas eles serão sentidos. Ou desta vez é diferente para a política monetária? 

As taxas de juro nominal em papéis soberanos de 10 anos a 5% ao ano chamam a atenção — nada mal para os formadores de poupança de longo prazo. Contudo, os TIPS (as NTN-Bs dos EUA), pagando 2,5% real me parecem particularmente mais atraentes. Ainda que o movimento técnico de curto prazo possa empurrar essas taxas para níveis ainda maiores, está um tanto claro o descolamento sobre o fundamento de longo prazo — seria bastante improvável convivermos com juros reais de 2,50% nos EUA por 10 anos.

Além da oportunidade em si, isso é particularmente importante porque baliza o apreçamento de todos os demais ativos no mundo. Em especial neste momento, tudo virou uma grande sensibilidade em cima dos Treasuries e dos TIPS. Se a coisa acalmar por lá (como deve mais à frente), as curvas de juro em países emergentes também deveriam ir pelo mesmo caminho. Com efeito, sempre que compramos NTN-B pagando 6% de juro real no Brasil ganhamos dinheiro.

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Obviamente, isso se desdobra para nossas posições em Bolsa. Uma anedota para ilustrar o ponto. Na sexta-feira, almocei com um grande amigo que me lembrou o seguinte: “quando comprei as ações de Direcional (BVMF:DIRR3) a R$ 10, elas estavam mais caras do que hoje. Agora, a R$ 16,71, negociam a 5x lucros, abaixo do que eram lá atrás, quando nem existia a Riva, eram muito muito menos líquidas e não havia ciclo de afrouxamento monetário em curso. Esse é só um caso. Tem coisa muito barata hoje e é por isso que estou reduzindo meus shorts. Tudo deveria andar bem quando o Treasury acalmar.” 

Claro que o “quando" aí importa. Uma ideia boa na hora errada é apenas uma ideia errada. Mas poucas coisas são menos arriscadas do que comprar uma excelente empresa ao preço certo. 

À luz dos acontecimentos recentes e da provável desvalorização adicional do peso, vão tentar convencê-lo a reservar o Dom Julio e tomar um Malbec. Nada contra, mas prefiro o pinot da Patagônia para jantar no Crizia. Alguns trades são óbvios, outros nem tanto. Qualquer paixão me diverte, mas sem muito drama. Vida longa ao rock.

Últimos comentários

Será que estamos voltando a estaca zero .
Olha os esquerdista tomando partido. Como sempre, matéria tendenciosa, desprovida de ética profissional.
Caramba, que artigo confuso.
continua o mesmo pilantra de sempre....Fefito se liga mano
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